domingo, 15 de maio de 2011

Veja de novo: Conversando na feira


Acordei cedo neste domingo e fui até a quitanda da feira. Sim, ainda vou muito nela e como eu vou! Mas este não é o assunto deste texto. A quitanda fica na feira do São Bernardo e na minha lista de compras estavam, entre outras coisas, tomate, batatas, cebola, banana, melancia, alface, laranja e vinagreira. Peguei tudo certinho, coloquei na cesta e fui pra fila do caixa. Eu estava bem tranquilo, não queria nem falar de política naquela hora do dia, mas foi um senhor morador do bairro que puxou papo. “Esta rua da feira está uma vergonha. Aliás, todas as ruas da cidade estão uma porcaria. Cheias de buraco”. Eu me segurei e só respondi: “É, não é fácil!”. Entretanto outra senhora, também na fila, retrucou o primeiro a reclamar: “Quem dera fossem só as ruas. E a escola aqui do bairro UEB Antonio Vieira  quando cai o muro no início do ano foi um parto pra a Prefeitura consertar e agora é o portão de entrada que só vive caindo, é um risco”, cutucou. Eu ainda resisti e soltei apenas um “é complicado!”.

Eis que surge uma terceira pessoa e joga mais lenha na fogueira, com a indagação decisiva para que eu entrasse no debate: “E este prefeito, o que anda pensando? Não faz nada. Está tudo abandonado nesta cidade!”, constata. Foi a gota d’água. Não consegui ficar quieto e acrescentei à discussão a seguinte informação: “e olha que o salário do prefeito é de R$ 25 mil por mês”. Seguiram-se manifestações de indignação: “O quê!?”. “Quanto!?”. “Tudo isso!?”. “É uma brincadeira mesmo!”. “Não acredito!. Tudo isso pra não fazer nada!”. “Esta São Luís tá perdida mesmo”.

O senhor que fez a primeira reclamação colocou ordem na conversa novamente. “E olha que São Luís é a capital do Maranhão, patrimônio da humanidade. Não era pra cidade estar abandonada deste jeito”. As pessoas na fila meio que se olharam e eu acrescentei mais uma informação: “é, só este ano o orçamento da Prefeitura é de mais de cinco bilhões!”. Seguiram-se manifestações de indignação. “Tudo isso!?”. “Pra onde vai esse dinheiro todo!?”. “R$ 5 bilhões e as ruas estão deste jeito!?”. “Estamos perdidos mesmo!”.

A mãe que havia reclamado da situação da Escola Antonio Vieira olha para os presentes, cada qual sua cestinha de frutas e verduras, e questiona: “E onde estão os vereadores que não fazem nada?” Todo mundo balança a cabeça meio que concordando e se lamentando. Acrescento mais um dado: “É, e este ano o orçamento da Câmara é de mais de R$ 1 bilhão”. Seguiram-se manifestações de indignação: “Um bilhão pra não fazerem nada!?”. “Você está brincando!?”. “O quê? Um bilhão para 21 vereadores!?”. “Onde eles estão enfiando todo este dinheiro!?”. “Conheço apenas uns dois que denunciam o desgoverno do prefeito”!

A mulher do caixa grita “o próximo!”. É minha vez. Ela diz: “bom dia”. Eu respondo: “é, não fossem os problemas”. Ela começa a pesar as minhas compras e pergunta: “o abacaxi você pegou do qual?”. “Aquele lá do fundo, de R$ 2,50”, respondo. Depois de tudo pesado, ela fala o valor da conta: “tudo deu R$ 29”. Dou uma nota de R$ 20 e outra de R$ 10. Ela me devolve R$ 1. Pego minhas sacolas. Olho pros demais na fila e me despeço. “Até mais pessoal. Um bom domingo pra vocês!”. Recebo a réplica costumeira de despedida e vou embora com a consciência tranquila de que desta vez não fui eu quem ficou reclamando da Prefeitura, do prefeito e nem dos vereadores.

E, você, amigo leitor, se estivesse na fila da quitanda conosco, que comentário faria?

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