terça-feira, 8 de novembro de 2011

Mês da Consciência Negra

Em homenagem ao dia da Consciência Negra,  o nosso blog reedita postagem divulgada em 08 de novembro de 2011 do artigo do camarada carioca Rumba Gabriel, oficial do site da Agência Nacional das Favelas, por achar sempre atual e que marca uma grande consciência e incentivo ao povo negro.


Viva Zumbi, Viva Zacimba, Viva Rumba!!!

Por Rumba Gabriel

Estamos no mês consagrado à Consciência Negra, data festiva, onde todos os negros prestam homenagem ao herói brasileiro Zumbi dos Palmares.
 
Quando o Papa Bento XVI, visitou o Rio de Janeiro, num dos seus discursos disse que: – os índios e negros aceitavam com mansidão o processo de evangelização e que os negros eram calmos e satisfeitos com seus donos (algozes) porque tinham o que comer e onde morar.

Ora, o Brasil em sua imensidão com quase 9 milhões de quilômetros quadrados, tinha fartura de alimentos em suas faunas. Logo, comer para os negros não seria problema e nem favor. A submissão do negro ao senhor branco, aconteceu apenas aparentemente porque de fato, o que havia era muita revolta e motins, com o objetivo de fuga e liberdade, além das vinganças cotidianas pelos maus tratos.

No livro História de São Mateus – município do Espírito Santo, pág.60, está escrito: – Dentre as atitudes pessoais de revolta, a tradição oral de São Mateus dá conta de um certo “pó de amansar sinhô”, que era um tipo de envenenamento lento, feito com a cabeça de cobra Preguiçosa torrada e depois moído e que era colocado nos alimentos. Vidro moído, também era colocado na comida e até assassinato a mão armada eram formas de vingança contra os cruéis senhores (Conf. narração do Mestre Balduíno, já falecido).

Toda história contada pelos colonizadores, assim como aquela fala do Papa Bento XVI, devem ser vistas com ressalvas.

No mês da negritude, temos a obrigação de informar, conscientizar e incentivar o nosso povo negro, para que ele saia desse incômodo silêncio de inocente, o qual já incomodava o outro grande líder – Martin Luther king.

Já passou da hora das favelas, maior concentradora de negros, descerem os morros para cobrar que se cumpra definitivamente tudo que está escrito na Constituição Federal. Também está na hora das nossas Nizingas (guerreiras), seguirem os exemplos de Zacimba Gaba, heroína, escrava do fazendeiro português José Trancoso, princesa de sua tribo africana. Revoltada com as torturas por que passou, entre tantas, o estupro, Zacimba liderou um grupo que se embrenhou nas matas e formou um quilombo às margens do Riacho Doce, região noroeste do Espírito Santo. No quilombo, Zacimba organizou grupos de ataques aos navios negreiros. Atacavam à noite em alto mar com canoas, dominavam a tripulação, libertavam os cativos e levava-os para o seu quilombo. Zacimba morreu em plena atividade guerrilheira, atitude digna de uma princesa que se tornou a primeira heroína negra de São Mateus. Zacimba Gaba era princesa da nação Cabinda, em Angola.

Em homenagem a Zacimba, fiz a segunda parte do meu samba – O Falso Guerrilheiro. É a história de um político desses que se diz de esquerda e que entrou no nosso quilombo urbano a favela do Jacarezinho, maior concentradora de negros em favelas no Rio de Janeiro, pedindo votos e falando que fazia e acontecia. Chegou de lenço vermelho e usando uma boina tipo Che Guevara. Vejam o que aconteceu com ele no meu samba:

LOGO CHEGARAM AS DANDARAS
DO MUNDO DA GENTE
SÃO NEGRAS VIBRANTES
E DE SANGUE QUENTE
NIZINGAS MARCANTES ELEGANTES DEMAIS
LEVARAM O FALSO GUERRILHEIRO
PRO MEIO DA FAVELA
DERAM UM PAU NO SAFADO
NOS BECOS VIELAS
PENDURARAM NO TRONCO COMO EM TEMPOS ATRÁS.


Fonte: ANF - Agência Nacional das Favelas

Um comentário:

  1. Canto O Meu Canto Do Olhar Em Piere Fatunbi Verge

    Meus lábios grandes
    Cor de escravos em tempos de néon
    Meu grito é negro
    Tenho medo

    Não tenho fé na Europa clerical
    Tua arma é negra
    Meu sangue vai a tua boca

    Teu café da manhã é farto
    Eu herege
    Renegado e maldito
    Grito e gente

    Fome
    Muita fome
    E meu desespero em lábios molhados no desejo da flor
    Nego a noite de teus olhos

    O açoite
    A história África Bahia
    Alagoas Paraíba
    Em clamores Palmares

    Em terra de negro rei guerreiro
    Quem sabe a dor do negro
    É negro com dor de negro
    Não comungo o sincretismo do estupro euro

    Nego o pleno
    De tua vitoria
    Amo o negro da voz negra Afrolatina
    Na boca negra baiana que mora em cachoeira

    Cidade mais negra e pobre como todo negro
    Em todo o mundo
    Em todo
    Mundo









    Paulo batista 1998.

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