quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

As maranhas da tática de manutenção do poder no Maranhão

Por Robson Camara*
 
A política nacional tem jogado com o destino do Maranhão já faz algum tempo. Vitorino, pernambucano, chega ao estado com apoio do governo central. A eleição de José Sarney também teve o apoio do presidente da república como retribuição pelo voto no colégio eleitoral que sacramentou o golpe de 64. Estes casos são exemplos de como a política estadual não pode ser vista isoladamente do cenário nacional, uma vez que o mentor do grupo que mantém o controle político e econômico do estado é até o momento um homem da política nacional. A aliança nacional PT/PMDB tem reflexo direto na atual conjuntura política no Estado. 
 
As eleições municipais de 2012 e a estadual de 2014 são definidoras na contabilidade do espólio politico do “Dono do Mar”. Este poder lhe confere parte da influência nacional que o senador tem.
 
Para compreender o jogo politico do estado é necessário entender as engrenagens das estruturas de poder postas a serviço do grupo liderado por Sarney. O caso do processo de cassação de Roseana é emblemático e demonstra bem as relações próximas com a estrutura do poder judiciário, a ascensão de um sobre o outro de forma declarada. Um republicanismo as avessas.
 
As eleições municipais para o processo de acumulação de força pela oposição são de grande importância, sobretudo quando se trata de grandes prefeituras e não é desprezível papel das pequenas também. Chegar à administração municipal de São Luís é um grande trunfo para quem pretende alçar ao governo do estado, uma vez que capital política é de onde emanam as decisões econômicas no jogo de poder político estadual por sua força de atração. Tem sido assim desde o final do século XIX até o século XXI, não nos enganemos. E os interesses das oligarquias municipais são fluídos e representam adesão ou distanciamento de acordo com a conjuntura. Isto faz parte do jogo político estadual, infelizmente.
 
O debate eleitoral que ora está em curso é parte de um processo que se arrastará até 2014. Muito se especula se Flávio Dino deve ou não deve ser prefeito de São Luís. A meu ver, há alguns motivos para que ele seja candidato. Um dos motivos é que estas eleições municipais compõe o movimento do tabuleiro que tanto o grupo sarneísta como a oposição conservadora pretendem utilizar como processo de acumulação de força com vista a ter o melhor cenário possível para enfrentar eventuais obstáculos em 2014. Lembrando que o processo histórico não é estático, sim dialético e concreto. 
 
Baseado nisso, como não movimentar as peças com Dino como candidato real a prefeitura de São Luís. Não seria um trunfo eleitoral tático caso alguma adversidade se anteponha no percurso de 2014 na via do governo do estado?
 
Na outra frente o grupo sarneísta e a oposição conservadora. O movimento do tabuleiro para 2014 e o centro da tática reside em evitar que uma candidatura fora do grupo hegemônico que governa o Maranhão seja vitoriosa, e se constitua um governo comprometido com o setor popular efetivamente. E como o grupo Sarney imagina isso? Mitigando toda a possibilidade de Dino ser eleito na disputa municipal e/ou estadual, criando um cenário de redução de qualquer possibilidade que lhe restar na perspectiva de ser novamente alçado a quadro nacional no executivo federal em um novo mandato de Dilma. Ou seja, aniquilar Dino politicamente e destroçar o seu acúmulo eleitoral de suas alianças estadual que lhe restar, seu partido etc.
 
Creio que as chances de Dino para 2014 são boas, na medida em que leve em conta que este é um processo de grande acúmulo e posicionamento das urnas nas eleições municipais; na vitória eleitoral de prefeitos comprometidos com agenda da candidatura Dino (PC do B/MA) e, eventualmente, neutralização política das estruturas político-econômicas que definem as eleições estaduais. O que quero dizer que a eleição de 2014 para governador é uma trilha muito mais espinhosa, embora o nome de Flávio Dino apareça à frente das pesquisas. Os movimentos desse grande tabuleiro tornam efêmeros ou concretos à medida que as bases são construída ou destruídas nesta perspectiva.
 
Pelo prisma histórico-concreto, não acredito que o grupo político que domina o estado ficará estático até 2014 esperando a banda passar, pois é ingênuo pensar assim. Até porque também em 2014 haverá lances nesse jogo. As articulações nacionais terão impactos locais e devem ser objeto ponderação pela oposição na avaliação concreta da correlação de forças que se movimentam dia após dia, minuto a minuto e segundo a segundo até 2014. Esta mesmas forças esperarão Dino de forma intacta ou passiva? Acredito que não. Imagino que o grupo de Dino fará uma complexa combinação de variáveis, não mecânica certamente.
 
O movimento no tabuleiro das eleições municipais, em particular de São Luís, deve ser bem calculado. Não há espaço para devaneios pequenos burgueses, salvacionismo, libertaríssimos sem efeito concreto etc, uma vez que a história cobra um preço alto para quem errar a tática neste jogo da política maranhense. Vitorino sentiu na pele as consequências do erro da tática, virou pó da história.
 
Considero Sarney um bom jogador, sem reificá-lo. Por outro lado, acho que a oposição pode jogar uma boa partida, uma vez que temos responsabilidade histórica com o povo do Maranhão, errar por vaidade ou por análise a-histórica da realidade, é um erro que a história cobrará. É necessário apresentar para o povo de São Luís e do estado um projeto de desenvolvimento que articule efetivamente o Maranhão a economia brasileira, como parte da infra-estrutura nacional. São Luís tem essa vocação, o Maranhão tem essa vocação, já vaticinava Rangel.Vamos à luta!
 
*Robson Camara, Pedagogo,doutorando em sociologia e mestre em educação na área de políticas públicas e gestão da educação básica. Atualmente desenvolve pesquisa sobre trabalho-educação.
 

Um comentário:

  1. É meus amigos Robson e Jorge, a visão de processo histórico está compulsivamente negligenciada nessa quadra histórica do Maranhão, principalmente pela oposição. As categorias chaves do Marxismo:formação social e modo de produção; forças produtivas e relações de produção; e superestrutura e base econômica não tem significância perto da periodização Sarneista.Ou seja são essa oposição não passa de retratistas da realidade. Todas essas teorizações vulgares de ganhar as eleições em 2014 de governador, divorciada do Marxismo, têm uma qualidade notável de ser rigorosamente distante da realidade. Roberto Cesar Cunha

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