O concurso para gari no município paranaense de Cambé é uma prova de
preconceito embrulhado em burocracia míope. Ao mesmo tempo em que exige
do candidato ensino básico completo, cobra conhecimento de questões que
parecem extraídas da pauta do "TV Fama". Afinal, por que um gari precisa
saber de "Zorra Total", novelas da Rede Globo e Michel Teló?
Possivelmente, um técnico da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do
Paraná), responsável pela prova, acordou num dia daqueles: "Ai, como eu
sou bandida!". E topou com outro no mesmo humor: "Ai, se eu te pego!". A
prova, que poderia ser o Casseta & Planeta no auge, estava longe de
ser fácil. Quem sabe de qual novela participou a cantora Paula
Fernandes "antes de se tornar famosa"? Em sua defesa, a UTFPR declarou
que, "em relação às questões que envolveram temas de determinada
emissora televisiva, foram extraídas com base em reportagens publicadas
junto a Revista Veja" [sic].
Ainda segundo comunicado da universidade,
"as questões de atualidades têm por objetivo verificar se o candidato
está informado sobre o que está acontecendo no momento, seja o assunto
político, econômico, social ou cultural." Se esse é o horizonte dos
examinadores, essa "atualidade" é de lascar. A prova é humilhante, ao
reduzir a um apanhado estereotipado a avaliação da capacidade
intelectual de candidatos que, se aprovados, ainda enfrentarão a
indiferença.
Pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos) divulgada em janeiro deste ano
revelou que 25% dos funcionários que trabalham com limpeza em São Paulo
sofrem algum tipo de discriminação. Entre os garis esse número chega a
42%. A queixa mais comum é que são "invisíveis" a maioria das pessoas.
Uma realidade que o caso de Cambé contribui para perpetuar.
Fonte: Bahia Repórter
É um País de filhos da puta!
ResponderExcluir