terça-feira, 25 de setembro de 2012

Carta aos jovens



Por Tarso Cabral Violin*
Você tem entre 16 e 30 anos?
Ainda não havia nascido durante a ditadura militar de 1964-1985?
Não fez festa com o fim da fila ao ver a seleção brasileira tetracampeã em 1994?
Não participou dos movimentos de redemocratização da década de 80 como as Diretas Já?
Não jogou Atari?
Não participou dos debates nas eleições de 1989, que tinha candidatos como Luiz Inácio Lula da Silva, Mário Covas, Leonel Brizola, Ulysses Guimarães, e acabou vencendo Fernando Collor de Mello?
Não participou do boom do Rock nacional na década de 80 com Legião Urbana, Titãs, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, etc.?
Não viveu o movimento dos cara-pintadas que retirou Collor do poder em 1992?
Não é necessário que o jovem seja como nosso ex-capitão e ex-técnico da seleção, o Dunga, que não odeia o nazismo por não ter vivido na época de Hitler.
É possível que você, jovem, se informe sobre o que aconteceu no Brasil no século XX e no início do século XXI.
A História serve para isso. Livros, jornais, internet, algumas revistas, reduzidos programas de TV, podem ser um meio para que você se informe e se forme.
Sim, é legal escutar música com seus fones de ouvido. Sim, é bacana ouvir músicas com duplo sentido na balada para se divertir com os amigos. É maneiro fazer coisas de adolescentes e jovens.
Mas é preocupante o rumo que grande parte da nossa juventude está tomando.
Individualismo, egoísmo, conservadorismo, ignorância sobre o que acontece no mundo, no Brasil, na sua cidade, ou mesmo sobre o que ocorre com as pessoas ao seu lado.
Não estou falando do que aparece no Facebook, Twitter, Instagram, etc., sobre a balada, viagem ou passeio de conhecidos.
Que tal pensar um pouco sobre o empregado de sua casa, sobre o garçom do restaurante, o ser humano que está dirigindo o automóvel na sua frente, o pedestre ou ciclista, a telefonista, o morador no bairro ao lado.
A vida não se restringe a sua família, membros de sua Igreja, colegas da escola ou faculdade, moradores do seu condomínio.
Leia, estude, se informe, discuta, pergunte. Não se informe apenas na TV ou Facebook. Leia livros. Não apenas os de auto-ajuda ou bestsellers. Duvide sempre. Não confie apenas no canal de TV X, jornal Y ou revista Z.
Duvide e não confie apenas no que diz o padre/pastor da Igreja. Ele pode estar errado em alguma questão. Seu pai e sua mãe podem estar errados em algumas questões. Eles sempre vão querer seu bem, mas podem estar errados. Se informe. Discuta e questione se necessário.
Não estou querendo que sendo muito jovem você se preocupe em apenas mudar o mundo ou o país. Mas você pode pensar em fazer a sua parte. Você pode ser um grão de areia. Mas você pode fazer sua parte.
Democracia não é importante? Leia e veja o que ocorreu no Brasil em períodos autoritários.
Política não presta? Saiba que se você não participar outros vão decidir por você. Vote, debata política, não apenas em época de eleição, se informe, não confie no primeiro que aparecer em sua frente, aprenda com a História, forme sua posição, saiba defender seus ideais, sejam eles de esquerda ou de direita, conservadores ou liberais.
Partidos Políticos são importantes, e não apenas os candidatos, as pessoas físicas. Desconsideração dos partidos pode gerar um individualismo ainda maior.
Mas não se engane: a Democracia representativa não é o único meio para se mudar, para melhor, nosso país.
Você como cidadão, junto com seus amigos, com seus colegas de estudo, com os membros de sua cidade, das mais variadas classes sociais, podem fazer muito coisa também na chamada Democracia participativa.
Participe de debates em audiências públicas, debata políticas públicas em casa, na escola, na internet. Não se apoie no senso comum. Não adote o discurso fácil. Tente descobrir o que está por trás das coisas. Participe. Seja um voluntário em um hospital público, numa escola pública, numa ONG. Fiscalize o Poder Público. Controle e fiscalize o mercado. Seja um membro atuante da sociedade civil, de preferência de forma organizada.
Seja um “consumidor” de cultura.
Você não está sozinho. Participe de uma coletividade. Mas não fique cego e não siga apenas o que diz o seu líder. Repito: questione, discuta, se informe. Saiba que coletivamente você pode fazer mais coisas do que de forma individual.
A individualidade de cada um é essencial, mas não o individualismo.
Não pense apenas em você. Não pense apenas na comodidade de sua família. Não pensa apenas no bem de sua classe social. Você pode ser melhor do que apenas um indivíduo em um casulo.
O diferente não é inimigo. O feio não é desprezível. O fraco não deve ser descartado. O novo e o velho não é, necessariamente, nem melhor, nem pior.
Quando em algumas situações envolverem interesses financeiros, desconfie. Ou envolver interesses políticos, questione. Interesses são legítimos mas não devem ser aceitos com naturalidade.
Posso estar certo, posso estar errado. Confie desconfiando. Saiba fazer boas perguntas.
Em outubro vote certo!
Mas depois das eleições cobre dos eleitos e dos que perderam. Aqueles para cumprirem suas propostas e promessas. Esses para não sumirem e não aparecerem apenas nas próximas eleições.
Bom dia, boa tarde, boa noite!
*Tarso Cabral Violin - Advogado,  Professor de Direito Administrativo da Universidade Positivo (PR),  Mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná, Autor do livro Terceiro Setor e as Parcerias com a Administração Pública: uma análise crítica.
Reproduzido do Blog do Tarso

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