quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Filme português Repare Bem vence Festival em Gramado

O documentário "Repare Bem", que neste sábado passado (17) foi eleito o melhor longa estrangeiro do Festival de Cinema de Gramado, que foi exibido nesta segunda-feira (19) no lançamento do projeto Cine Direitos Humanos – uma parceria da prefeitura de São Paulo com o Espaço Itaú do shopping Frei Caneta, na região central da cidade. A exibição será às 21h. Na sexta-feira (23) é a estreia nacional do filme no circuito comercial.

Dirigido pela portuguesa Maria de Medeiros e produzido pela brasileira Ana Petta com apoio da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, dentro do projeto Marcas da Memória, “Repare Bem” narra o impacto da ditadura brasileira sobre três gerações de mulheres ligadas ao guerrilheiro Eduardo Leite, conhecido como Bacuri, que foi preso e assassinado pelo regime após dois meses de torturas, em 1970.

As sessões do Cine Direitos Humanos serão aos sábados pela manhã, com entrada gratuita, e começam em 7 de setembro. Uma vez por mês, a sessão será precedida de palestra com algum especialista ou autoridade na área de direitos humanos.

A curadoria do Cine Direitos Humanos será feita pelo cineasta e produtor cultural Francisco César Filho, que tem em seu currículo a Mostra Internacional de Cinema e a Mostra Cinema e Direitos Humanos, organizada pelo governo federal.

Entre os já filmes escolhidos, que incluem longas nacionais e estrangeiros, está também “Descalço sobre a terra vermelha”, produção catalã e brasileira rodada no Araguaia que conta a vida do Dom Pedro Casaldáliga.

Repare Bem

O filme, de noventa e cinco minutos, foi gravado no Brasil, Itália e Holanda, entre janeiro e outubro de 2011, resgatando a trajetória da família de Denise Crispim, sua filha Eduarda Ditta Crispim Leite e seu ex-companheiro Eduardo Leite, o “Bacuri”, torturado por 109 dias e assassinado pelos militares. Os relatos e personagens da trama desvelam os aspectos mais cruéis desse período da história brasileira, em um documentário que contribui para os crescentes debates sobre o resgate da memória no Brasil e a reparação das famílias brutalizadas pelo Estado.

Realizado pelo Instituto Via BR com recursos da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça do Brasil, o documentário também expõe a atuação dessa Comissão, seus desafios e prioridades no processo de reparação das famílias das vítimas da ditadura.

“Repare Bem” integra o projeto “Marcas da Memória” da Comissão de Anistia, tem parceria da Cinemateca Brasileira e apoios da Fadepe-JF (Fundação de Apoio e Desenvolvimento do Ensino da Pesquisa e Extensão de Juiz de Fora), CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Fitee (Federação Interestadual dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino), Sindicomerciários Caxias do Sul (Sindicato dos Empregados no Comércio de Caxias do Sul) e Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região.

Sinopse


Tratou-se de postar as câmaras diante de Denise Crispim e de sua filha, Eduarda Ditta Crispim Leite, e de receber com enorme emoção os seus extraordinários testemunhos. Foi em Roma e em Joure, no norte da Holanda, bem longe do Brasil. No entanto, as suas palavras, que falam de exílio e de memória, levam-nos a um mergulho profundo na história brasileira, dos anos 70 até a atualidade.

Denise Crispim já nasce clandestina em 1949. Seus pais, extremamente politizados, toda a vida lutaram por uma sociedade mais justa e são por isso perseguidos por sucessivas ditaduras. Aos 20 anos, Denise conhece o jovem guerrilheiro Eduardo Leite, “Bacuri”, famoso por sua valentia e audácia, e com ele entra em uma militância mais arriscada. Denise está grávida de seis meses quando cai nas mãos do aparelho repressivo. Seu irmão Joelson acaba de ser assassinado aos 22 anos pela polícia, sua mãe, Encarnación, está presa.

Pouco antes do nascimento da pequena Eduarda num hospital militar, rodeada de policiais, Eduardo Leite, seu pai, é também preso, torturado barbaramente durante 109 dias e assassinado. Com a sua criança recém nascida nos braços, Denise consegue asilo político na embaixada chilena e de lá viaja para Santiago, onde reencontra seus pais, ambos exilados nesse momento. Porém, a família é de novo apanhada por um golpe de Estado militar, o de Augusto Pinochet. Cada um se refugia como pode em diversas embaixadas e Denise e Eduarda acabam por fugir para a Itália.

Denise, sobrepondo-se a muito sofrimento, reconstrói sua vida em Roma onde Eduarda cresce como uma jovem italiana. Hoje, ambas foram anistiadas pela Comissão de Anistia e Reparação no Brasil. Eduarda, mãe de duas meninas e residente na Holanda, recebe o valor simbólico desta “Reparação” como o dom de uma nova vida. O relato de suas histórias convida-nos a uma reflexão sobre os movimentos ideológicos e a luta pela justiça entre a “Velha Europa” e as Américas.

Festival de Gramado


Os outros filmes estrangeiros agraciados no festival, cuja 41ª edição terminou neste sábado (17) à noite na cidade gaúcha, foram o brasileiro-argentino A Oeste do Fim do Mundo (melhor filme para o júri popular e melhor ator, o uruguaio César Troncoso), e o argentino Venimos de Muy Lejos (prêmio especial do júri).

O filme estrangeiro que mais conquistou prêmios nesta edição foi Cazando Luciérnagas, nas categorias melhor diretor (Roberto Flores Prieto), melhor atriz (Valentina Abril), melhor roteiro (César Franco Esguerra) e melhor fotografia (Eduardo Ramírez González).

A produção colombiana, protagonizada pelo já consagrado ator Marlon Moreno, narra a história do vigilante de uma mina de sal abandonada, que aproveita seu trabalho para se esconder do mundo. A vida dele, no entanto, muda quando aparecem uma filha desconhecida de 13 anos e uma cadela que gosta de caçar vagalumes na escuridão.

Entre os longas-metragens brasileiros, o mais premiado foi Tatuagem, de Hilton Lacerda, que faturou o Kikito de melhor filme, melhor ator (Irandhir Santos) e melhor trilha musical (Dj Dolores).

Tatuagem aborda um romance homossexual ambientado na Recife de 1978, em pleno regime militar. Entre os brasileiros, também foram premiados A Bruta Flor do Querer (melhor diretor, com Andradina Azevedo e Dida Andrade, e fotografia, com Gallo Rivas), Éden (melhor atriz, com Leandra Leal), Primeiro Dia de Um Ânus Qualquer (melhor roteiro, com Domingos Oliveira), Os Amigos (montagem, com Karim Harley), e A Coleção Invisível (melhores ator e atriz coadjuvante, com Walmor Chagas e Clarisse Abujamra).

Nos curtas brasileiros, a atração foi "Acalanto", do diretor Arturo Sabóia, que obteve cinco prêmios: melhor filme, melhor diretor, melhor atriz (Léa Garcia) melhor trilha musical (Luis Olivieri) e melhor direção de arte (Rogério Tavares).

Saiba mais sobre o filme Repare Bem aqui.


Fonte: Diário da Liberdade

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