segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Não podemos esconder o bosque atrás das árvores

Por Roberto César Cunha*
Certamente o PCdoB sairá mais forte para trilhar seu rumo e azimute ao socialismo. A luta de classes está estreitamente ligada à luta de ideias. Acredito que estamos em uma retração ideológica e perdendo a luta nas ideias para direita conversadora, por isso é mister o debate, a formação teórica de todos os militantes do PCdoB. Como dizia o grande mouro alemão “as ideias dominantes são as ideias das classes dominantes”. Boa discussão a todos.

Fazer um balanço de 10 anos dos governos progressistas - depois de três décadas de paralisia econômica progênie de um entreguista e deletério plano de nação neoliberal, principalmente de Collor e FHC, seguindo ipsis literis o consenso de Washington - não é tarefa simplista. Pois qualquer tipo de avaliação carece de leitura do processo histórico de nossa formação social para não cairmos em ideologismos abstratos e fora da base histórica que vivemos, por isso “não é fácil e pacífica a caracterização do processo do desenvolvimento econômico. Trata-se, como em todo fato histórico, de processo extremamente complexo, ao longo do qual tudo muda na vida social: a distribuição da população, as condições de trabalho e a produção, a distribuição da riqueza social e seu modo de apropriação, a quantidade e a qualidade do capital necessário ao processo produtivo, a técnica da produção. Paralelamente, muda também a cultura, isto é, a ideia que o homem faz de si mesmo e do mundo em que vive.” Ignácio Rangel. Não podemos esconder o bosque atrás das árvores Temos que pôr a descoberto todo o mecanismo, sem apresentá-los sob inocentes roupagens. 

O Brasil afasta-se do infortúnio neoliberal e recomeça o seu meândrico caminho. Sem paralelo na história chegam ao poder central do país forças populares, capitaneada por Lula e Dilma. Vários programas assistencialistas e de inclusão social são criados e ampliados entre eles: bolsa família, Prouni, Pronaf. Uma inegável criação de emprego em massa (cerca de 21 milhões). Em dez anos o Brasil teve avanços principalmente na área social onde cerca de 30 milhões de pessoas foram transplantadas da miséria extrema. O Brasil ganhou conotações importantes no cenário internacional, principalmente, após ser escolhido como sede dos dois maiores eventos esportivos do mundo (Copa 2014 e Olimpíadas 2016). Isso tudo dentro do contexto especial que vive a América Latina. 

Um aumento abissal nas suas exportações de commodities e produtos industrializados. O país é uma potencia mundial no setor da agroindústria e não podemos cair no reducionismo, como setores da esquerda, que são apenas commodities. Só relembrando que foi a agroindústria que minimizou a crise dos anos 1980 e que são, eminentemente, responsáveis pelos nossos saldos comerciais atuais. E ainda, às duras penas, há conteúdo tecnológico na agroindústria, via a Embrapa. No Brasil esse setor vive a reprodução ampliada de capital. Tudo isso tem uma única forma: capital financeiro. Isso está disponível desde 1885 no segundo livro do O Capital. A Lógica é D-M-D' e/ou D"- da finaceirização com Hedge, CPR, leilões, e outras engenharias financeiras. 

Entrementes, após décadas de remédios pestífero do prognóstico neoliberal e 10 anos de governos progressistas, a maior legado ficou enraizada no centro do poder político e econômico: O pacto de poder do plano real com o capital financeiro internacional sendo o sócio maior. Isso nos aprisiona. E nesse esquema as transferências unilaterais são altas para exterior, a balança de pagamentos é demasiada desfavorável para o país ser uma potência econômica. Grandes oligopólios e oligopsônios nas mãos de estrangeiros (principalmente de alimentos), isso é altamente perigoso. Como sabemos, os exportadores internacionais no Chile provocaram crise de desabastecimento de alimentos para desestabilizar e desmoralizar o governo de Salvador Allende, e recentemente o golpe contra Fernando Lugo no Paraguai. 

Outro erro, por exemplo, é etiquetar e classificar o Brasil abstratamente como tônica sonora de desenvolvimento transplantado ao consumismo europeu, seguindo ipsis literis a fiabilidade dos grandes centros ocidentais o processo de intemperismo da economia e do desenvolvimento econômico. Isso demonstra uma herança cepalina por genuflexão pelo subdesenvolvimento.

As únicas atitudes são insuficientes: as gangorras de corte e subida de juros é extremadamente irrisórios e aumento e isenção de impostos em alguns produtos importados e linha branca; nenhuma severidade em ações de dumping e anti-dumping; e claro, a“jihad”contra a inflação.

É mister no Brasil: portos; estradas; ferrovias; aeroportos; sistemas de fibra óptica; hidroelétricas; oleodutos; aquedutos; indústrias; fábricas; linhas de metrô; túneis; viadutos e toda e qualquer infraestruturas nas cidades. Se investir nisso cresce o emprego nas indústrias de bens de capital e consequentemente nas de bens de consumo, resultando no maior poder de compra da classe dos trabalhadores como um todo. A economia gira, os investimentos privados anulam os investimentos públicos e assim o crescimento é natural e não artificial.

Essa bastilha só ruirá com um novo pacto de poder com os setores progressistas do empresariado nacional com os trabalhadores e movimentos sociais organizados interessados no desenvolvimento do país.

O Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento só tem sentido se liquidarmos o desenvolvimento desigual e combinado que assola interna e externamente nossa formação social. A nossa luta de classes hoje no país é sem dúvida: se libertar da dependência de tecnologia, como D’ ou D”, do imperialismo; desenvolver um gordo capital financeiro nacional; equilibrar a balança de pagamentos; estatizar o comércio exterior; concessões dos serviços de utilidade pública às empresas privadas nacionais.

Ignácio Rangel dizia: “o verdadeiro teste de progressismo, faz-se na adesão ou no repúdio às ideias de unidade, soberania e planejamento”.


* Geógrafo e Militante PCdoB em São Luis (MA)







Fonte: Portal Vermelho

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