segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Sem complacência com o rejeitado FHC


Por Altamiro Borges

O ex-presidente FHC continua com sua cruzada contra os governos progressistas da América Latina. Em seu artigo no Estadão deste domingo (3), ele bate duro na Argentina, Venezuela e – lógico – no Brasil. Para o vaidoso príncipe da Sorbonne – também rotulado de “príncipe da privataria” no livro imperdível do jornalista Palmério Dória –, o continente está à deriva e seus governantes devem ser criticados “sem complacência” – no dúbio título do seu texto arrogante. Apesar de quase ter afundado a economia brasileira e de ser um dos presidentes mais rejeitados da história do país, FHC não perde a pose.

Logo de cara, ele tenta cultivar a sua boa relação com os barões da mídia e ataca a "Ley de Medios", declarada constitucional pela Suprema Corte da Argentina na semana passada. Para ele, a nova lei é uma “medida tomada especificamente contra o grupo que controla o jornal El Clarín, ferrenho adversário do kirchnerismo”. Na sequência, ele desqualifica o governo da Venezuela, afirmando que ele faz de “tudo para incitar o ódio popular aos adversários políticos, apresentando-os como inimigos do povo”. Nenhuma palavra contra as ações desestabilizadoras dos seguidores do derrotado Henrique Capriles.

Contrário à atual política de integração soberana da América Latina, o ex-presidente que pregava o “alinhamento automático” com os EUA chega a sugerir algum tipo de intervenção nos dois países citados. “O lamentável é que os governos democráticos da região assistem a tudo isso como se fosse normal e como se as eleições majoritárias, ainda que com acusações de fraudes, fossem suficientes para dar o passaporte democrático a regimes que são coveiros da liberdade”. Será que FHC é a favor do envio da Quarta Frota ianque ou a algum tipo de golpe, como os que ocorreram em Honduras e no Paraguai?

O alvo principal do artigo do chefão tucano, lógico, é a presidenta Dilma. Guru de Aécio Neves, o cambaleante presidenciável tucano, ele não enxerga nada de positivo no atual governo. Tudo está errado. “Às manifestações espontâneas de junho se têm seguido demonstrações de violência, desconectadas dos anseios populares, que paralisam a vida de milhões de pessoas nas grandes cidades”, resmunga. O que propõe: o envio de tropas do Exército, como ele fez contra a greve dos petroleiros em maio de 1995? A decretação do estado de sítio? A volta da ditadura militar?

Repetindo o discurso raivoso da mídia privada dos últimos dias, ele prega medidas duras contra os “vândalos” do black blocs e teoriza: “Nem toda ação coercitiva da polícia ultrapassa as regras da democracia”. Para ele, a culpa dos “atos vandálicos” é do governo, que “não atende às crescentes demandas da população” e está metido em “corrupção escancarada que irrita o povo”. Nenhuma palavra sobre o desmonte dos serviços públicos nos governos tucanos em vários estados ou sobre o escândalo do propinoduto em São Paulo. A culpa pelos protestos de rua é da Dilma, garante o ex-sociólogo!

Ao final, de maneira cândida, FHC prega: “Precisamos propor um futuro não apenas materialmente mais rico, mas mais decente e de melhor qualidade humana. Quem sabe assim possamos devolver aos jovens e a todos nós causas dignas de ser aceitas, que sirvam como antídoto aos impulsos vândalos e à complacência com eles”. É certo que o “imortal” da ABL já pediu para esquecermos o que ele escreveu. Mas o povo insiste em não esquecer o que ele fez no seu triste reinado. Na época, o desemprego batia recordes, principalmente entre os jovens, e a miséria campeava. Este é o “futuro” que ele propõe? Não dá mesmo para ser complacente com FHC.

Fonte: Blog do Miro

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