sexta-feira, 25 de abril de 2014

Artigo: Sem falta de vergonha, sobram os cara de pau.

Por Abdon Marinho*
 
As pesquisas não registram, aliás apontam em sentido inverso. E o resultado das eleições ainda é incógnita, mas já temos um vitorioso: O senador suplente Edison Lobão Filho. Sim, ele mesmo, já é o maior vencedor destas eleições.
 
Quem dentre as cidadãos deste Maranhão velho de peia, iria imaginar que um dia assistiríamos a ousadia do grupo político no poder indicar o notório senador suplente para disputar o cargo de maior mandatário do estado? Ninguém imaginaria. Se nos dissessem isso há 20, 15, 10, 5, 2, 1 ano atrás diríamos que era uma piada. Piada de péssimo gosto por sinal. 
 
Pois bem, o grupo político hegemônico no Maranhão por quase meio século, apareceu e  apresentou o que de melhor produziu nestes anos em que esteve à frente dos destinos do estado, o senador, o empresário que não faz muito tempo ostentava, sem qualquer contestação, um vistoso número após o nome e que não tinha como significação um título de nobreza. Mais que apresentar, fez isso com toda a pompa e circunstância de um grande evento,  
 
O senador é vencedor, porque saí da condição com a qual foi conhecido por mais da metade da sua vida para a condição de líder, reunindo em torno de si um arco alianças que deverá ir do Partido dos Trabalhadores - PT ao Democratas - DEM, passando pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB e diversas outras siglas menores. 
 
Acompanhando a recepção que os partidos e tantas lideranças fizeram ao senador, pelas redes sociais, pela mídia eletrônica e mais os matutinos locais, fiquei com a impressão que se estava recebendo um benfeitor da sociedade, um grande estadista, alguém que colocou a própria vida para salvar a humanidade do desastre certo. Apenas para não perder o vício, aproveitaram para fazer escancarada campanha eleitoral antecipada dentro dos prédios públicos. 
 
O evento também parecia o desfile de um triunfante César sobre uma Roma clássica. Só que diferente daqueles eventos em que plateia recebia as  moedas fruto dos butins tomados dos vencidos, além de inúmeras outras compras de apoios, aqui não se sabe, ao menos publicamente, que tenha havido compra dos participantes para o evento. 
 
Meu pai costumava dizer que no Maranhão o que dinheiro ou ‘taca’ não resolvia era por que tinha sido pouca. Examinado os fatos da políticas do Estado em que se sabe que muitos que lá estavam eram os primeiros a desancar durante esses mais de vinte anos o ungido para a disputa.  Fico me perguntando: Será que esse povo todo perdeu a vergonha na cara – se é que tiveram um dia –, e agora enxergam qualidades onde só viam defeitos? Talvez sejam apenas reles caras de pau que tentam lucrar em cima de tudo, tirar sua parte. 
 
Com um cinismo de fazer inveja aos próprios Antístenes de Atenas e a Diógenes de Sínope, filósofos criadores da escola cínica, estavam lá a festejar e a louvar. 
 
Claro que nem todos estava lá festejo e na louvação estavam movidos por interesses subalternos, muitos estavam por acreditar no grupo político a que pertencem e a quem devem muito, embora consciente que este é o candidato possível. Que o grupo ao longo de meio século não logrou formar líderes capazes de ir para a disputa com a mobilização social dividindo o eleitorado. Muitos estavam movidos pela própria sobrevivência política. Se não tem espaços noutro lugar o certo é manter-se fiel até o fim ao grupo e tirar o máximo de vantagem da situação. Há ainda os que acreditam, admiram e apostam que esse é um projeto vencedor, que o senador Lobão, o pai, não iria colocar o filho numa exposição como essa se não vislumbrasse qualquer possibilidade de vitória, ainda que remota. 
 
Por tudo que se disse acima é que se deve considerar o candidato como vitorioso apesar de nunca ter tido um voto popular. É vitorioso no campo do relativismo moral da sociedade maranhense que vai aceitando tudo como normal, limpando biografias, tornando honestos hoje os desonestos de ontem. Como é que isso se deu? Esse não é aquele? Se todos estavam errados esses anos todos, esse senhor é a maior vítima que já se teve notícia de uma campanha difamatória. Caso haja ou tenha havido qualquer fundo de verdade, estaremos diante da maior afronta já imposta a uma população. 
 
A campanha com o seu marketing coroará o trabalho iniciado, transformando em gênios da sabedoria pessoas que não são capazes de juntar numa frase qualquer conceito que faça sentido.
 
Então já sendo o candidato vencedor não irá ele buscar a vitória nas urnas? Não. Como disse o candidato que já não tem nada a perder tem muito mais energia para perseguir a vitória. O candidato e principalmente seu pai trabalha com a possibilidade de vencer a eleição no uso da máquina partidária, governamental, com o poder do dinheiro. Para isso trabalharão a administração dos votos. Não sei se os amigos sabem que apenas parte do sucesso eleitoral de qualquer candidato depende da vontade livre e consciente do eleitor. Outra parte depende da administração que os chefes políticos, prefeitos, vereadores, cabos eleitorais fazem nas bases. 
 
O Maranhão por ser um estado de população muito pobre está muito mais vulnerável a esse tipo de situação. A pobreza do estado sempre foi a primeira aliada dos poderosos.
 
Não se pode deixar de considerar ainda que possuem  a máquina do estado e das administrações municipais e quiçá  federal, fontes inquestionáveis de poder.

Não tem qualquer  essa conversa que vendem dia sim, dia não, que não irão colocar a máquina pública a disposição de nenhuma candidatura, sabemos que isso não é verdade. Vão colocar todas as máquinas que dispuserem. O poder  é um negócio e e nele os interesses dos grupos Sarney e Lobão são convergentes. Muitos são os negócios comuns dos grupos. Seus comandantes podem até divergirem no varejo mas não no atacado.
 
Uma outra vertente que trabalharão é o erro do adversário para tentarem mudar o resultado eleitoral, principalmente se não for por uma diferença acaçapante, nos tribunais. Não será a primeira vez. Não duvido nem que usem aliados do candidato oposicionista neste propósito. Menos ainda que infiltrem alguém com esta intenção. 
 
Qualquer um com um mínimo de informação sabe a desenvoltura com que o grupo atua perante todas as instâncias da República. Desenvoltura muito mais presente no ala dos lobos (Lobão pai e Lobão filho) que na própria ala Sarney. 
 
A oposição, caso pretenda a vitória, precisa compreender que  administrar a vantagem é tarefa bem mais difícil que conquistar. Precisa compreender que há não espaços para amadorismo, vaidade, ‘salto alto’, o desleixo e o clima de ‘vem que é nossa’. A eleição só estará definida depois de apurados os votos, empossados nos cargos e em pleno exercício. As vezes nem depois disso acaba. 
 
O primeiro erro de qualquer contendor é menosprezar o adversário sobretudo se ele não tem o que perder, porém muito a ganhar.
 
O candidatura do senador suplente não é um mero capricho do grupo Sarney/Lobão, uma espécie de ousadia de final de outono, uma afronta aos fatos e à história. Tanto não é que já conseguiu o impensável, ser chamado de liderança, ser festejado como símbolo da mudança, coisas que só acontecem mesmo no Maranhão, uma terra em que a vergonha é artigo de luxo e os caras de pau sobram nas ruas.
 
*Abdon Marinho é advogado e blogueiro.
abdonmarinho.com 
 
 
Foto: Nosso blog - Ilustração

Nenhum comentário:

Postar um comentário