Marina Silva nunca foi, nas eleições presidenciais de 2014, o Plano A do empresariado e da mídia familiar, que tinham como opção preferencial o senador Aécio Neves (PSDB-MG); no entanto, um dado do Ibope de ontem, que é o mais importante da pesquisa, fará refluir o desejo de desconstruir sua imagem; como ela, ao contrário de Aécio, supera a presidente Dilma Rousseff no segundo turno, setores da elite tendem a aderir à tese de que, contra o PT, vale tudo; especialmente no caso de empresas como a Globo, de João Roberto Marinho, e o Itaú, de Neca Setubal, que foram autuadas pela Receita Federal, por sonegação de impostos; atento à rachadura, o coordenador da campanha de Marina, o ex-tucano Walter Feldman, lança pontes em direção ao PSDB paulista, especialmente a nomes como José Serra e Luiz Carlos Mendonça de Barros; o discurso é de que mais vale uma Marina na mão do que um Aécio voando
Os empresários brasileiros sonharam com Aécio Neves, mas podem até engolir Marina Silva. Setores da mídia também tinham o senador tucano como plano A, mas podem rapidamente abraçar a candidatura socialista como seu plano B. E até mesmo quadros relevantes do PSDB podem preferir embarcar na nau marinista desde já.
Este é o quadro da sucessão presidencial desde a pesquisa Ibope de ontem, que trouxe, como dado mais relevante, a informação de que Marina, ao contrário de Aécio, já estaria apta a superar a presidente Dilma Rousseff no segundo turno. É esse cenário que faz crescer entre setores da elite a aposta no que seria uma espécie de "voto útil". Entre a perspectiva real de poder oferecida por Marina e a incerteza representada por Aécio, melhor apostar na primeira possibilidade.
Essa tendência é ainda mais importante para grupos empresariais, como a Globo e o Itaú, que se encontram em litígio com o governo federal. A Globo foi multada em mais de R$ 700 milhões pela Receita Federal. O Itaú, que tem uma das herdeiras, Neca Setúbal, como coordenadora do programa de Marina, levou uma multa de mais de R$ 18 bilhões. Ou seja: para as famílias Marinho e Setubal, qualquer candidato seria melhor do que Dilma.
Por isso mesmo, a aposta de que Marina será "desconstruída pela mídia tucana" nos próximos 50 dias parece ser improvável. Além do peso que a própria Globo possui na comunicação brasileira, o Itaú Unibanco é um dos principais anunciantes e credores de outros meios de comunicação tradicionais. Ou seja: o trabalho de desconstrução terá que ser feito pelos próprios candidatos, Dilma ou Aécio, caso queiram, de fato, evitar que a ex-senadora suba a rampa do Palácio de Planalto, em janeiro de 2015.
Curiosamente, os empresários podem acabar apoiando a candidata que mais os assusta. Uma pesquisa realizada num evento do jornal Valor Econômico nesta segunda-feira apontou que Aécio Neves teria 67% dos votos, contra 14% de Dilma e 12% de Marina nesse pequeno universo formado pelos figurões da economia. Marina afugenta o setor empresarial por razões já conhecidas: retardou o quanto pôde a construção de usinas hidrelétricas, faz campanha desde sempre contra o agronegócio e apoiou uma proposta de Código Florestal que reduziria em 20% a área plantada no Brasil. Ou seja: representa um risco real ao crescimento, à geração de riqueza e à economia do País.
No entanto, o ódio de setores da elite ao Partido dos Trabalhadores e à presidente Dilma Rousseff tem dado vazão à tese lançada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que, contra o PT, vale tudo. Até mesmo Marina.
Cooptação no ninho tucano
Atenta a essa rachadura na elite brasileira, Marina Silva tem feito movimentos inteligentes para cooptar setores da mídia, do empresariado e do próprio PSDB. Tendo um ex-tucano, Walter Feldman, como coordenador de campanha, ela ajusta suas promessas aos desejoso dos ouvintes.
Ontem, num evento do Itaú BBA, Feldman e representantes da Rede Sustentabilidade prometeram aos investidores a autonomia do Banco Central, o que pode submeter a economia brasileira a novos choques nas taxas de juros, transferindo riqueza justamente das camadas mais pobres da população aos setores rentistas, que apreciam a multiplicação de capital sem a contrapartida do trabalho.
Em relação aos meios de comunicação, não se deve esperar de Marina nenhuma política de democratização da mídia. A ela, será mais conveniente ser aceita pelo grupo de quatro ou cinco famílias que ainda sonham em controlar a informação no País.
Mas o movimento mais importante ocorre no próprio PSDB. Ex-tucano, mas sempre serrista, Feldman foi quem inspirou Marina Silva, em seu primeiro ato de campanha, a fazer um aceno a José Serra, no último fim de semana. Seu guru econômico, Eduardo Giannetti da Fonseca, também falou em conversar com FHC. Esses dois movimentos reforçam a tese lançada por outro tucano de quatro costados, o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, de que o governo Marina será uma repetição do governo Itamar Franco, onde os tucanos mandaram na economia e deram sustentação parlamentar.
Embora simbolize o "bem", Marina se coloca à direita de Aécio Neves na economia, prometendo reformas ainda mais liberais do que o próprio tucano, e se move com tanto ou mais pragmatismo do que a presidente Dilma na sua articulação política. É a sua inteligência política, num ambiente de profundas divisões na elite brasileira, que pode levá-la à presidência da República.
Fonte: Brasil 24/7
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