segunda-feira, 25 de maio de 2015

Artigo: Por que o esquerdismo perdeu o debate eleitoral da UFMA?

Por Cristiano Capovilla* e Fábio Palácio**

Ocorrido no último dia 18 de maio, o debate entre os candidatos a reitor e vice da UFMA mostrou algo mais do que a simples exposição de programas de gestão. O debate revelou para a comunidade acadêmica a profunda diferença entre os dois principais projetos postulantes aos cargos máximos da Universidade. A discrepância poderia ser colocada em termos de uma concepção de universidade excessivamente ideologizada, abstrata e idealista e outra mais prática, concreta e realista, embora não menos política. A primeira estava representada nas candidaturas de Antonio Gonçalves e Marise Marçalina; a segunda nas candidaturas de Nair Portela e Fernando Carvalho. A incontestável vitória de Nair e Fernando no debate merece algumas considerações.

Em primeiro lugar, verifica-se que o debate ideológico como motor exclusivo da disputa eleitoral, tal qual proposto pelo partidarismo de Gonçalves e Marçalina, está completamente fora do contexto da universidade.  A tentativa de transpor mecanicamente programas partidários para dentro do espaço acadêmico, sem reconhecer a particularidade que lhe é inerente, configura uma atitude artificial e mesmo autoritária, com sérios traços de messianismo.

Em seu “Os intelectuais e a organização da cultura”, o grande pensador marxista Antonio Gramsci, já na primeira metade do século XX, alertava seus companheiros para o papel imprescindível daqueles a quem denominou “intelectuais tradicionais”, aos quais caberia a continuidade das instituições responsáveis pela ciência, pela técnica e pela erudição. Tal argumentação antecipava, em muitos sentidos, o debate sobre a autonomia das instituições acadêmicas e seu papel institucional diferenciado no âmbito das sociedades contemporâneas. Não se trata, aqui, do discurso fácil e inquisitorial que aliena o outro afirmando a superioridade do ambiente acadêmico; não se trata, outrossim, do “eu sei” contraposto aos “incapazes de saber”. Trata-se, ao contrário, da especificidade da instituição acadêmica, que, por sua característica e suas finalidades, estabelece as próprias condições de sua missão. A autonomia universitária é uma tarefa prática da vida científica e acadêmica. Diz respeito, portanto, à sua liberdade. Ao desconhecer esse fato, a tentativa de fazer imperar na universidade uma espécie de jacobinismo esquerdista – discurso mais afeto a certos ambientes político-partidários – condena-se de antemão ao fracasso.

Em segundo lugar, averiguamos, a partir da exposição dos programas, que o esvaziamento do discurso de Antonio Gonçalves e Marise Marçalina e a simultânea ascensão das propostas de Nair Portela e Fernando Carvalho remetem não a causas abstratas ou ideológicas, mas fundamentalmente a questões político-práticas. O debate na UFMA diz respeito, antes de tudo, às finalidades que professores, técnicos-administrativos e estudantes buscam, assim como ao dia a dia que vivenciam dentro da atual conjuntura da universidade. Nair e Fernando representam aqueles que aceitaram, desde 2007, o desafio do Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) e apostaram no maior ciclo de investimentos no ensino superior desde o governo desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek. Foi este o campo que efetivamente trabalhou e transformou nossa universidade; o campo que, inserido nos desafios de nosso tempo, enfrentou os problemas reais, e por isso tem o que mostrar. Representantes desse campo, Nair e Fernando assumiram a responsabilidade e suas consequências. Este é o mais valioso ativo de suas candidaturas.

Em terceiro lugar, porém não menos importante, temos o fato de que, ao contrário desse caminho vitorioso, as candidaturas de Antônio Gonçalves e Marise Marçalina apostaram em 2007 contra o Reuni, isto é, contra a expansão da universidade pública e de qualidade. Hoje, resta a essas candidaturas apenas assumirem o ônus desse ato perante toda a comunidade universitária. Apostaram no fracasso e perderam. Agora propõem um discurso irreal, estranho ao tempo e aos desafios concretos da UFMA, como forma de recuperar o espaço perdido.

Ao término do debate, os presentes perceberam que não serão os aspectos puramente ideológicos que irão decidir os destinos da UFMA pelos próximos quatro anos. Serão, sim, os compromissos de quem responde aos desafios do momento, integrados ao nosso tempo, tendo em vista os objetivos da academia, e consolidando as condições que tornarão possível o crescimento qualificado e autônomo da Universidade Federal do Maranhão. Foi por esses motivos que Nair e Fernando venceram o debate do dia 18 e estão prontos para vencer a consulta do dia 27 de maio.

* Mestre em Filosofia, professor do COLUN-UFMA e secretário-geral do SIND-UFMA.







** Doutor em Ciências da Comunicação, professor adjunto do Departamento de Comunicação Social da UFMA.

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