quinta-feira, 20 de novembro de 2025

20 de novembro: Consciência Negra é Resistência, Memória e Voz


No Dia da Consciência Negra, o Brasil se reconecta com suas raízes africanas, honra seus ancestrais e reafirma o compromisso com a luta contra o racismo estrutural. A data, que marca o assassinato de Zumbi dos Palmares em 1695, é mais que uma homenagem: é um chamado à ação.

Territórios de Vida e Dignidade

Quilombos não são apenas heranças do passado são espaços vivos de resistência e cidadania. No Quilombo do Camorim, por exemplo, Adilson Almeida luta para preservar a memória e garantir direitos básicos como saúde e moradia. Segundo ele, “ser quilombola é manter o legado. É entender de onde você veio e saber para onde quer ir”.

Apesar dos avanços, apenas 15% dos territórios quilombolas são oficialmente reconhecidos, e muitos enfrentam ameaças de grileiros e negligência estatal.

A Batalha Contra o Silenciamento

A obrigatoriedade do ensino da história afro-brasileira nas escolas, garantida pelas Leis 10.639/03 e 11.645/08, ainda encontra resistência. Casos como o de alunos evangélicos que se recusaram a estudar cultura africana em Manaus, ou a demissão do professor Ivan Poli por abordar valores civilizatórios africanos, revelam o racismo institucional e o fundamentalismo religioso que ainda permeiam a educação brasileira.

Poli, autor de Pedagogia dos Orixás, afirma: “Negar os valores civilizatórios africanos é negar a própria humanidade que nos constitui como nação”.

Inclusão e Reparação

A política de cotas raciais tem sido um divisor de águas na democratização do acesso ao ensino superior. Até 2011, mais de 110 mil estudantes negros ingressaram em universidades públicas graças às cotas. No entanto, o racismo persiste, inclusive contra os cotistas mais qualificados.

Como destaca o educador Luís Fernando Olegar, “as cotas são um caminho inverso ao mal feito aos negros ao longo da história do Brasil”.

Vozes que Reivindicam Espaço

O escritor Luiz Silva (Cuti) confrontou a postura do poeta Ferreira Gullar, que negava a existência de uma literatura negro-brasileira. Cuti rebate: “No mundo da cultura só existe o que uma vontade coletiva diz que sim e consegue vencer aqueles que dizem não”.

A literatura negra é resistência simbólica, é memória viva, é afirmação identitária.

A Voz que Antecipou a Abolição

Muito antes da assinatura da Lei Áurea, uma mulher negra maranhense já denunciava os horrores da escravidão. Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista brasileira, publicou Úrsula em 1859 e, posteriormente, A Escrava, obra que escancarava a crueldade do sistema escravocrata.

Em A Escrava, Firmina escreve:

Sua obra é um marco da literatura abolicionista e feminista, e sua memória precisa ser celebrada com a mesma força que Zumbi e Dandara.

Memória Viva

Celebrar a Consciência Negra é também lembrar de figuras como:

Maria do Carmo Gerônimo, se tornou símbolo da longevidade e da memória viva da escravidão no Brasil.

Nilo Peçanha, primeiro presidente negro do Brasil;

André Rebouças, engenheiro e abolicionista;

Eduardo de Oliveira, autor do Hino à Negritude.

O 20 de Novembro é um marco de luta, memória e reivindicação. Como disse Adilson Almeida: “Se eu não tivesse consciência, eu não estaria lutando por esse espaço, para manter toda essa memória viva”.

A Consciência Negra é um compromisso com a justiça social, com a valorização da ancestralidade e com a construção de um Brasil verdadeiramente plural e antirracista.

Fontes:

1. ÓperaMundi - Diálogos do Sul – Saúde e cidadania no quilombo

2. Conversa de Feira – Alunos evangélicos recusam trabalho de cultura africana

3. Conversa de Feira – Ivan Poli: O fundamentalismo religioso

4. Conversa de Feira – Dez anos da lei de cotas raciais

5. Conversa de Feira – Cuti: A empáfia do poeta Gullar

6. Iso Sendacz – A Escrava, de Maria Firmina dos Reis

7. Iso Sendacz – Personalidades da negritude brasileira

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