quinta-feira, 23 de junho de 2011

Al Jazeera: “É um tapa na cara, de quão distante de um jornalismo independente e crítico a gente está”


Bia Barbosa, do coletivo Intervozes, passou mais de um mês na rede Al Jazeera, no Qatar. Foto: Arquivo pessoal.
Surpreende o fato de que um Estado árabe, monárquico, teocrático e ultra-conservador é o responsável pela maior experiência mundial de TV voltada para o interesse público. Estamos falando da Al Jazeera, emissora estatal do Qatar, um pequeno e rico país do Oriente Médio. E quem nos conta detalhes sobre este projeto raro de jornalismo sério e independente é a jornalista Bia Barbosa, que passou um mês na redação de um dos canais da emissora. Atualmente ela integra o Coletivo Intervozes, assessora o mandato do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) e colabora com veículos da imprensa alternativa. Para exemplificar o enfrentamento da Al Jazeera à lógica dominante nos meios de comunicação, Bia lembrou que todo o conteúdo da rede é licenciado em creative commons, que dispensa qualquer título de propriedade sobre a informação.
De onde surgiu essa ideia de ter uma experiência na Al Jazeera e como você chegou até lá?
Eu sempre acompanhei a Al Jazeera, todos nós jornalistas da imprensa progressista e alternativa temos nela uma fonte de informação importante, e tive a felicidade da minha família morar em Doha por um ano. O meu pai está trabalhando num projeto para o governo do Qatar. Quando eu decidi que ia para lá no final do ano passar férias, achei que era uma possibilidade interessante de tentar uma experiência na Al Jazeera. Decidi ficar lá um mês e meio e entrei em contato com eles solicitando a possibilidade de fazer um estágio.
Meu objetivo não era fazer um trabalho remunerado e eles acharam interessante o meu currículo, e precisam sempre de gente lá. No dia 3 janeiro eu comecei, acabou sendo mais que um estágio, e fiquei um mês dentro da sede da Al Jazeera. Eles têm vários canais e eu fiquei no canal de notícias em inglês. São 65 escritórios em países diferentes, mas a sede é em Doha, onde fica a maior parte da estrutura dos canais. O canal inglês é como se fosse uma CNN, uma BBC, um canal de notícias 24 horas. A Al Jazeera já existia no país mas virou uma televisão internacional durante a guerra do Iraque, e o canal inglês foi lançado em 2006.  Ele é voltado para o exterior, mas também passa na televisão aberta do Qatar em inglês. Até porque o Qatar é um país que tem 2/3 da sua população de estrangeiros.
Eles estão presentes em mais de 60 países com correspondentes?
O English Chanel, como eles chamam, tem escritórios em 65 países e os dados deles apontam para jornalistas em 60 países em todos os continentes, inclusive na América do Sul e África. Eles têm um correspondente no Brasil, o Gabriel Elizondo, que fica aqui em São Paulo mas viaja o Brasil, cobre muito o Congresso também. Eles têm alguns colaboradores freelancers também, dependendo da demanda ou da própria disponibilidade do Gabriel. Já o canal árabe, por exemplo, não tem correspondente no Brasil. Nos mesmos moldes desse canal de notícias em inglês, eles têm um canal árabe 24 horas. Não me peçam para fazer uma avaliação desse canal porque eu não falo árabe (risos).
O que você fez nesses 30 dias por lá em janeiro? Trabalhou como qualquer outra jornalista?
Trabalhei como uma jornalista, porque o English Chanel da Al Jazeera tem dois grandes departamentos:  o que a gente pode chamar de hard news e o de programas. Naquele são notícias que vão entrando 24 horas com um apresentador de estúdio, com notícias que se repetem ao longo da programação. Essa parte é gerada por 4 países ao longo das 24h, de acordo com o fuso horário: 12 horas são geradas da sede de Doha, no Qatar, e 4 horas de Kuala Lumpur (Malásia), 4 de Londres e 4 de Washington. Se eles quisessem eles poderiam manter um equipe 24h gerando isso de Doha, mas tem ai também uma questão de ter sedes em outros países e uma geração local desses centros de geração de informação.

Redação do English Chanel, na sede da Al Jazeera. Foto: Arquivo pessoal.
O outro departamento é de programas de meia hora ao longo do dia. Então é meia hora de um programa e meia hora de jornalismo ao vivo, bem semelhante à Globo News. Inclusive o padrão de estúdio é muito parecido com esses grandes canais internacionais de jornalismo. Eu fiquei no departamento de programas, e senti que é onde a Al Jazeera dá o seu diferencial na cobertura jornalística: à exceção da cobertura dos países árabes, porque ai eles têm uma especialidade e muito mais equipe. Onde a Al Jazeera aprofunda os temas, é plural de forma mais explícita, faz um enfrentamento editorial nas pautas que ela acha que precisa ser feito, é nos programas jornalísticos.
Eu fiquei trabalhando para eles basicamente como auxiliar na montagem de um programa de economia sobre mercados emergentes. Eles queriam falar do Brasil, da China e da Índia, não sei por que a Rússia não estava, não era uma coisa dos Bric’s, e estavam começando a produzir um piloto desse programa que ainda não foi para o ar. Eu fiquei passando informações e contribuindo um pouco para eles montarem esse programa de economia.
Você tem algum exemplo latente para demonstrar?
Na última semana que eu estava lá começou a ocupação da praça Tahrir e do Mubarak. Eles faziam esses programas de meia hora indo fundo na questão do Egito, muito além do que você conseguia dar no noticiário 24 horas. Nesses programas que eles aprofundavam a história e as origens e consequências, e entrevistavam pessoas. Programas de debate, que é uma coisa que a gente só tem no Brasil pela Globo News, na TV por assinatura para quem pode pagar, são muito comuns lá. Na grade de programação deles está tem debate sobre literatura, sobre a conjuntura, uma série de documentários que eles fragmentam em meia hora, tem programas sobre a Ásia, etc.  Então nesses programas eles conseguem mostrar um diferencial maior, não é que não tenha diferença na cobertura no hard news, claro que tem.
Saindo um pouco dessa questão jornalística, indo um pouco para a política, a Al Jazeera é uma TV estatal do governo do Qatar?
Ela é estatal porque é totalmente financiada pelo governo do Qatar, mas o ethos dela, se a gente pode falar assim, é público. Ela não tem mecanismos de participação popular, mas a programação não é de uma emissora estatal, é de uma emissora pública. Eu não consegui avaliar a cobertura do canal árabe, que é onde talvez a influência do governo se manifeste de forma mais explícita porque é o canal que é diretamente voltado para a população de lá, mas no canal inglês eu não senti da cobertura que era feita e nem dos programas onde eu estava contribuindo qualquer ingerência do Qatar. Não ouvi falar nem de bairros vizinhos ou jornalistas coisas do tipo. Não tem propaganda, nesse mês que eu fiquei lá só vi uma matéria sobre o Qatar que falava de uma parceria do governo com os países árabes de um poço de petróleo descoberto no golfo pérsico.
A rede promove vários eventos públicos e debates sobre temas da conjuntura, e eu participei na última semana de um fórum de liberdade de expressão e jornalismo online, porque eles estavam discutindo os blogueiros do mundo árabe a partir da questão das redes sociais no Egito e na Tunísia; nos outros países ainda não tinha estourado as revoluções. E eles levaram blogueiros de todos os países pró e contra seus respectivos governos, e fizeram a transmissão ao vivo do evento no canal árabe por dois dias inteiros. E teve críticas ao governo do Qatar em relação a determinadas restrições da liberdade de imprensa no país em outros veículos, e os dois dias do evento foram transmitidos ao vivo sem nenhum tipo de corte.
A Al Jazeera compra um tipo de enfrentamento político com vários governos da região, com uma autoridade jornalística maior porque tem gente in loco e conhecimento maior para cobrir essas questões como a CNN e BBC. Em vários países as equipes dela já foram expulsas por estarem denunciando fatos e informações que desagradam politicamente os governos dos países árabes. A Al Jazeera é adorada pelo povo e muitas vezes detestada pelos governantes.
Essa linha editorial de enfrentamento a outros governos árabes é uma coisa da redação ou uma orientação política pelas relações que o governo do Qatar tem com outros países na região?
O pouco tempo que eu fiquei lá e o contato que tive com a direção da empresa não me permite te responder isso com certeza. A minha avaliação pessoal é que não, eu acho que não é orientação do governo do Qatar, é jornalística. Inclusive porque não é um tipo de jornalismo meio factóide, é algo que faz uma cobertura da realidade que está acontecendo. Então se o país está em greve, se os sindicatos estão nas ruas, se a população está protestando contra alguma coisa, se está morrendo gente nos hospitais, tem fatos ali que precisam ser mostrados e eu sinto que a Al Jazeera não se nega a mostrar isso independente de divergências políticas que ela vai ter com o governo desses países.
Se a gente for olhar é claro que tem contradições no governo do Qatar, por isso que não posso dizer não tem ingerência editorial. A Al Jazeera  é uma emissora muito crítica no seu jornalismo ao governo dos Estados Unidos, daí inclusive o espaço que ela ocupou internacionalmente além de ter informações que grandes emissoras internacionais de notícias não têm. Mas se você for olhar, o governo do Qatar abriga uma base de soldados americanos no seu território, tem uma cidade no norte do Qatar que é base deles no golfo, o que mostra que tem interesses de governo em manter algum tipo de aliança com o governo dos EUA. Mas se a gente for olhar a cobertura da Al Jazeera ela é quase como se fosse de um governo inimigo do governo dos Estados Unidos, porque ela é muito crítica.
A questão econômica e militar geralmente prevalece sobre a questão jornalística, ou seja, no caso da Venezuela eles metem o pau mas não param de vender petróleo para os EUA.
Mas isso também nos dá uma boa medida para a gente fazer uma avaliação de se tem uma ingerência. Isso atrai muito os jornalistas que vão trabalhar lá, e no English Chanel a imensa maioria deles na sede de Doha já passou por outros veículos como CNN e BBC.  Eu acho que atrai pela possibilidade de fazer outro tipo de jornalismo, com mais liberdade que eles sentiam nesses outros canais. Então o fato de ser uma cadeia gigante, porque a Al Jazeera não é só o jornalismo, o fato dela ser totalmente financiada pelo governo do Qatar não impede, não sei se contraditoriamente, que esses jornalistas trabalhem com mais liberdade do que a que eles têm dado pelo mercado.

Sede da Al Jazeera, em Doha, no Qatar. Foto: Arquivo pessoal.
E qual a abrangência da Al Jazeera?
São 400 jornalistas, os números oficiais que eles dão são de 220 milhões de casas em mais de 100 países. A rede Al Jazeera tem 3 mil funcionários nesses 65 países, a maior parte desses escritórios estão no hemisfério sul. Eles têm uma opção de cobrir mais o sul mas cobrem muito bem o norte, tanto que tem Washington e Londres gerando conteúdo. Fazem parte de uma rede que não atende somente o English Chanel nem o canal árabe, eles têm 10 canais só de esporte em inglês e árabe. Um passa o campeonato espanhol de futebol, o outro o brasileiro, outro inglês, eu assisti jogo do Palmeiras lá. Eles fazem transmissão de jogo, é diferente de cobertura. Tinha, por exemplo, show de cantor árabe antes do jogo no palco e tudo com o banner da Al Jazeera, distribuindo brinde da emissora pro povo. Então se você pensar em termos de marketing de televisão, a Al Jazeera é muito mais poderosa do que a nossa Globo aqui, por exemplo.
Tem muita gente do ocidente na produção da Al Jazeera, então o oriente acaba sendo visto pelo ponto de vista ocidental. Não rola uma disputa de linguagem?
O English Chanel não se apresenta como um canal oriental, ele não afirma isso na sua linguagem. Eles se reivindicam como uma emissora internacional de cobertura. Eles falam que têm a maior expertise para cobrir a diversidade do mundo, é por isso que eles têm muitos correspondentes na Ásia, África, e no mundo Árabe como um todo. Mas eles põem os jornalistas locais. Quando eu falei de Washington é porque eles têm americanos que trabalham na Al Jazeera, e botam ele para falar da posição dos Estados Unidos.
Você teve contato com os jornalistas ou pessoas lá, a ponto de sentir como eles percebem a apresentação do Oriente pela mídia internacional?
Eu trabalhei diretamente com uma sulafricana e outra inglesa que tinha trabalhado na BBC, e muita gente de família árabe. Mesmo que as pessoas sejam de fora dos países, se você tem algum tipo de vínculo com o mundo árabe isso te favorece de alguma forma até no processo de seleção para trabalhar lá. O que eu senti não é nenhuma palavra de diretor da Al Jazeera nem nada disso, é que eles têm um desconhecimento muito grande das outras emissoras para falar de outra realidade. E o que eles buscam fazer é justamente ouvir a população, é uma rede internacional mas com um olhar local, feita a partir do locos original.
Então tem muitos estrangeiros na redação?
No canal árabe não, são todos árabes de vários países da região. Como eu não fiquei na redação árabe eu não sei te falar. As pessoas do país eram assim mais a secretária, os funcionários. Tinha um cara de origem árabe que veio do Canadá, tinha gente da Palestina, do Iraque. Eles tinham mais de uma equipe que cobriu a guerra do Iraque, eu conheci um dos  câmeras man que virou blogueiro, esteve na batalha de Falluja, em 2003. A cidade ficou cercada e só tinha dois câmeras man lá dentro, foi um dos massacres da guerra do Iraque.
A Al Jazeera é só TV?
Não, tem o site com produção própria com várias matérias. Tem uma seção de análise também, eles têm uma equipe própria. Impresso não tem e rádio eu não vi nada, mas eles falam de broadcast, radiodifusão, então não sei te falar se eles tem rádio na TV. Na internet você pode assistir ao vivo a programação. Eu perguntei por que não passava no Brasil, e eles falaram que é uma boa pergunta. Deu a entender que existe uma dificuldade em função da concentração das empresas que controlam a TV por assinatura no Brasil, mas ninguém me falou isso oficialmente, ninguém disse “a Net não deixa a gente entrar”. Tem uma campanha no site deles para você assinar como cidadão americano e pedir a Al Jazeera nos Estados Unidos, porque ela não passa em algumas cidades. Na América Latina só tem na Argentina.
Você falou que o povo gosta muito da Al Jazeera, o povo tem voz na emissora?
Não tem mecanismos diretos de participação popular, mas conversando com os jornalistas você sente uma coisa de quando eles foram em campo sentir uma receptividade muito grande. Uma jornalista brasileira esteve na Jordânia num Fórum de comunicação e todos os jornalistas que estavam lá falavam que o povo árabe gosta muito da Al Jazeera, porque elas falam a verdade sobre o que os governos falam e as respectivas emissoras estatais não deixam vir à tona. Ela cumpre esse tipo de enfrentamento, é uma coisa dos próprios jornalistas falarem isso.
Quando eu estava lá a Al Jazeera divulgou uma série de documentos da negociação da autoridade Palestina com o governo de Israel, eles chamavam de Palestina papers, tipo um wikleaks da vida, um vazamento de documentos que mostravam que a autoridade palestina estava negociando meios de entrega do jogo para o governo de Israel. E a Al Jazeera tem um posicionamento institucional em defesa da causa palestina, eles cobrem sistematicamente, mostra todos os massacres de Israel.

Doha, no Qatar, estado cujo regime é monárquico e islâmico. Foto: Arquivo pessoal.
Qual é desse governo do Qatar? Que país é esse politicamente falando?
O emir que dirige o Qatar é filho do emir anterior, lá é uma monarquia, é como se fosse um rei, o país é um emirado, não é por exemplo uma república. É um estado islâmico que tem na sua constituição a religião e não tem questionamento da monarquia, já é fato que vai ter um herdeiro, tudo é a família real que decide. Não tem congresso, não tem representantes eleitos pelo povo, e o filho mais velho do emir vai ser o próximo emir. Tanto que nos grandes eventos, como quando o Qatar ganhou a Copa, a cidade ficou enfeitada de fotos do emir com o filho dele carregando a taça.
O emir tem mais de 20 filhos com três esposas, cada um deles é ministro de alguma coisa. O chefe do meu pai, por exemplo, era um dos filhos do emir que era ministro da cultura. Para resolver qualquer coisa tinha que ir no palácio fazer reunião com o príncipe. Por que o pai desse emir saiu antes de morrer? Porque começou a haver um tipo de enfrentamento mais duro aos Estados Unidos pelo Qatar nos anos 90, de questionar posturas e falar publicamente contra, e o emir anterior tinha problemas de corrupção de desvio de recursos para fora. Não era uma coisa só de manutenção da família real, então juntou um pouco essas duas coisas e meio que os americanos falaram “você sai do governo ou a gente não vai mais considerar o Qatar um país parceiro”. E o atual emir se aliou com os Estados Unidos para derrubá-lo em 1995, então ele chega ao poder com um apoio considerável dos EUA que em função do recrudescimento da posição dos Estados Unidos no golfo pérsico vai diminuindo. Porque depois de 95 você teve guerra do Kwait, Iraque, a questão de Israel e Palestina se intensificou, então tem uma diminuição dessa parceria. Ainda mais agora com esses conflitos todos.
Por outro lado tem seus interesses também, que faz uma aliança com a Otan para tirar o Kadaf, por exemplo. Então se você me perguntar se é um governo progressista, não é porque direita e esquerda não existe lá, eu vou te falar que é um governo mais progressista que a sociedade. Tem várias questões de cultura islâmica muito arraigada na sociedade que o governo tenta mudar e tem uma resistência muito grande, a sociedade é mais conservadora que o governo. O maior problema do Qatar na minha avaliação é a questão dos trabalhadores migrantes, pois como eles não têm mão de obra e o país está crescendo, é o segundo maior exportador de gás do mundo, a construção civil bombando, os qatares se recusam a fazer o trabalho braçal e chama gente de fora. Não tem clandestino, não é igual ao mexicano entrando na fronteira dos Estados Unidos. Entra todo mundo com visto de trabalho, com moradia, com contrato de trabalho definido, só que rola uma exploração brutal desses trabalhadores. São pessoas de várias partes, mas a maioria de países árabes e o sudeste asiático.
Mas por outro lado o país não tem miséria?
Não tem miséria, não tem ninguém morando na rua, sem trabalho ou passando fome. Inclusive eles têm moradia, alimentação e transporte pagos pelas empresas, eles têm essas garantias. Só que tem uma coisa de trabalho quase escravo, porque se eles querem ir embora, por exemplo, tem empresa que retém o passaporte dos trabalhadores. O governo começou a consultar a população, abrir diálogos públicos, sobre a flexibilização da lei de patrocínio da ida daquelas pessoas para a empresa no país e 80% da população qatari é contra mudar a lei. Porque, afinal, eles vão perder os seus escravos particulares.
O que você, como militante pela democratização da comunição, acha disso e o que podemos fazer aqui no Brasil?
O modelo é muito diferente, ela nasce como uma empresa estatal e o fato de você ter o governo do Qatar botando dinheiro nisso para levar para o mundo inteiro, inclusive com essa campanha de pedir para a Al Jazeera passar nos Estados Unidos, é diferente do nosso modelo. Por mais que a Telesur, por exemplo, tenha buscado a parceria dos outros governos para fazer esse tipo de enfrentamento ela não encontrou respostas. A gente aqui no Brasil está engatinhando em relação a isso, estamos lutando para conseguir ter uma televisão pública nacional de fato. Uma com participação popular e que reflita os anseios da população brasileira em termos do seu exercício do direito da comunicação. A Al Jazeera vai ser sempre uma inspiração para a gente, não para copiar um modelo porque isso nunca vai acontecer aqui, de o estado brasileiro colocar recursos nisso e nem acho que esse deveria ser o caminho, mas pelo seu jornalismo.
Eu acho que assistir o jornalismo que a Al Jazeera faz nessas 24 horas por dia é um tapa na cara, de quão distante de um jornalismo independente e crítico a gente está. E acho que é para a gente assistir e ver como é possível fazer um jornalismo diferente. Um jornalismo crítico e que provoque o telespectador a pensar, e isso inspira a gente a seguir lutando por transformações no Brasil.

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