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Circo da Madalena,de Dayla Duarte |
Do Blog Blogueiras Feministas, por Denise Rangel*
Quando um homem conta uma piada ou faz uma brincadeira machista, você é uma das pessoas que diz: “Você sabe que eu não acho isso engraçado”, mesmo correndo o risco de ser chamada de “feminista sem senso de humor”? Para ser sociável você tem de rir? Afinal, “os homens fazem as brincadeiras machistas por diversão!”, “São só brincadeiras!”, dizem-me as mulheres que acham graça delas. Bom, nesse caso, parece que, essas mulheres, para serem aceitas no grupo, precisam rir das brincadeiras e das piadas, pois só assim serão tratadas como igual.
Muitas mulheres dizem que “homem não presta”, que “homem é assim mesmo” e aceitam as brincadeiras machistas, porque tal comportamento é da natureza e do instinto masculino. E muitos deles ficam aborrecidos se chamados de machistas, pois não se consideram como tal, e, portanto, não admitem serem enquadrados em qualquer definição sexista. Infelizmente, o machismo é tão poderoso e tão prevalente porque muitas pessoas acham que está tudo bem.
Quero deixar claro que, se uma piada é engraçada, eu vou rir! Porém, penso que é importante as mulheres reagirem honestamente, se algo na piada as deixa desconfortáveis. As brincadeiras de cunho machista se perpetuam porque o preconceito contra a mulher ainda é visto como algo menor, que não chega a despertar repugnância. E precisamos deixar bem claro que não é. O preconceito contra mulheres é muito grande, é pernicioso, é relevante! E, com nossa atitude autêntica, apontar o machismo nas brincadeiras é só mais uma forma de alertar para a existência dele.
A mulher tem um papel fundamental na mudança do machismo cultural brasileiro, mas, sem consciência de que ele existe e é perpetuado por ela, isso será impossível. Acontece que, quando pessoas como eu apontam o machismo em comentários, piadas e brincadeiras, há mulheres que dizem que somos exageradas, que a intenção do homem não era machista, e, portanto, a ação em si não era machista. Isto não só ajuda a perpetuar esses comportamentos machistas, como também estimula o ressentimento para com as feministas e o movimento em favor dos direitos da mulher.
Meu objetivo não é culpar as mulheres, mas apontar o perigo de reproduzirmos os valores tradicionais, ao aceitarmos tais atitudes como normais e próprias da natureza masculina. Se, sempre que vemos alguém, em casa ou no trabalho, fazendo piada machista, e não reagimos honestamente, o machismo continua vivo. Percebo o ar de satisfação nos colegas de trabalho quando as mulheres riem de suas brincadeiras. É como se enviassem uma mensagem de que está tudo bem, que nós não nos importamos, que eles têm nosso apoio. Será que nós, mulheres, não ajudamos a perpetuar o machismo de alguma forma?
A exposição ao humor machista pode levar à tolerância de sentimentos hostis e discriminação contra as mulheres. Nossa atitude leva os homens a acreditarem que o comportamento machista está dentro dos limites de aceitabilidade social. Uma
pesquisa alerta que as pessoas devem estar cientes da prevalência do humor depreciativo na cultura popular, e que o pretexto de que são “diversões benignas” ou de que são “só uma piada” dá-lhe o potencial para ser uma força poderosa e difundida, e que pode legitimar preconceitos em nossa sociedade.
O que você pode dizer em resposta a piadas desse tipo?
- Diga que não é nada engraçada uma piada sobre estupro, por exemplo, porque o estupro é um evento traumático e um crime violento. Brincar sobre este tipo de violência nos faz esquecer o que ele realmente é, e como ele é sério. Há uma boa chance de que alguém na sala tenha uma pessoa próxima que foi violada ou sexualmente agredida.
- Se alguém diz que o piadista faz as brincadeiras para “alegrar” o ambiente, você pode dizer que, ainda assim, não acha engraçado. Não se surpreenda se disserem que você não tem senso de humor. Você plantou uma semente deixando clara a mensagem de que você não corrobora com atitudes que perpetuam o machismo.
- Saiba que você não está sozinha ao reagir a um comentário machista. É provável que ninguém mais tenha se pronunciado contrariamente à brincadeira, porém não concorda com ela. Outras pessoas sentem-se aliviadas quando alguém fala e são encorajadas a se manifestar também.
- Mesmo se você for a única a não rir, os “humoristas” saberão exatamente o que há de errado com um comentário ou piada aparentemente simples. Deixe-os saber o impacto que tem sobre você ou outras pessoas. A maioria das pessoas são razoáveis e uma vez que reconhecem as origens do potencial de dano de uma brincadeira machista, eles encontrarão outras formas de fazer piadas.
Como reagir a piadas machistas?
Eu, geralmente fico séria, ignorando completamente a brincadeira. A maioria das pessoas querem uma reação, boa ou ruim. O objetivo é chocar. Não é necessário fazer um discurso a cada situação desconfortável diante de uma piada machista. Respostas simples são muitas vezes eficazes.
Quando um colega de trabalho me perguntou se eu queria ver um “convite” que ele fizera para um evento só de homens, com fotos de mulheres “gostosas” e em trajes sumários, eu, naturalmente, disse que não queria ver, pois ele sabia que sou feminista. E, em nome de nossa amizade, era melhor ele não me mostrar estas coisas. Ele apenas respondeu “tudo bem” e guardou o convite.
Quando reagimos assim a um comentário ou brincadeira machista, é possível que a pessoa que os fez vá continuar a fazer tudo de novo; porém, se mantivermos o mesmo comportamento, de explicar que não compartilhamos risadas a comentários humorísticos envolvendo a mulher, logo ela perceberá que nossa luta pelo fim da violência contra a mulher é séria, e que machismo e violência contra a mulher não são motivo de riso.
E você, como reage às sessões de humorismo machista dos amigos, em seu dia a dia?
*Denise Rangel - Profª de Literatura e Produtora de Rodas de Leitura; Feminista; Ecoconsciente; Sturm und drang!