sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Mulheres negras na luta contra a desigualdade racial e de gênero

Do Blog Mulher Negra
Durante uma reunião de alto nível realizada no âmbito da 66º Assembléia Geral da ONU, em 22 de setembro, os líderes mundiais adotaram uma declaração reafirmando seu compromisso com a implementação efetiva da Declaração e do Programa de Ação de Durban, como uma plataforma completa e sólida para combater o racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância.

No continente americano existem cerca de 200 milhões de pessoas que se reconhecem como afrodescendentes. Outros milhões vivem nas demais partes do mundo, fora da África. A Declaração de Durban, que celebra seu décimo aniversário em 2011, reconhece a população negra como vítima da discriminação racial, cuja origen se remete ao comércio de escravos. Estes dez anos de vigência proporcionam uma boa oportunidade para renovar o compromisso das Nações Unidas e da sociedade em geral na luta contra o racismo e a discriminação racial. A Declaração que reafirma o compromisso, assinada na 66º Assembléia Geral da ONU, é um evento que encerra o Ano Internacional dos Afrodescendentes e serve para lembrar das vítimas que foram identificadas na Declaração, além de dar um novo impulso à luta e a prevenção da discriminação racial em todas as suas manifestações.

Mudanças na sociedade global
O Brasil é o segundo país no mundo com a maior população negra – 95 milhões de afrodescendentes – o que não impede a existencia de sinais alarmantes de racismo e sexismo. Assim como em outros locais, as mulheres negras continuam a enfrentar obstáculos para alcançar representatividade em órgãos públicos e privados. Por exemplo, a presença de mulheres negras em cargos de direção nas empresas é muito pequena: apenas 0,5% estão no executivo, 2% na gerência, 5% na supervisão e 9% nas áreas funcionais, de acordo com o estudo do Instituto Ethos 2010.

Ao longo destes 10 anos, a ONU Mulheres apoiaou a organização política das mulheres negras. Um exemplo é o Grupo de Mulheres Negras Brasileiras, formado após a Conferência de Durban em 2001. Lúcia Xavier, uma das ativistas brasileiras participantes da Conferência, chama a atenção para a relação perversa que liga o racismo ao sexismo: "Nosso desafio como movimento de mulheres negras pode ser considerado pequeno em relação à luta que enfrentamos diariamente contra o racismo, o sexismo e a exclusão social. Temos direito a uma vida plena, desfrutar de uma democracia inclusiva e direitos sociais. A sociedade tem que mudar".

Empoderamento das mulheres negras
A ONU Mulheres vem investindo desde 2006 no empoderamento de mulheres negras através de um programa para incorporar as dimensões de gênero, raça e etnia em programas de combate à pobreza na Bolívia, Brasil, Guatemala e Paraguai, financiado pela AECID (Agência Espanhola de Cooperação Internacional e Desenvolvimento). A iniciativa visa incluir as perspectivas de gênero, raça e etnia nas ações governamentais e não governamentais para a redução da pobreza e da discriminação, da produção de dados desagregados sobre gênero e raça e incidência política das mulheres.

De acordo com Dorotea Wilson, coordenadora geral da Rede de Mulheres Afro-Latinoamericanas, Afro-Caribenhas e da Diáspora, “através dos fóruns de preparação para a Conferência de Durban, fomos capazes de nos unirmos com outras redes mulheres no continente e articular esforços conjuntos”. Na estratégia para combater o racismo, a Rede destaca as parcerias com outros movimentos sociais, a implementação do Programa de Ação de Durban e o aumento da participação da juventude no movimento de mulheres negras. “Estamos conduzindo o processo de articulação para a implementação do Plano de Durban, a inclusão da variável étnicorracial nos censos e a construção da Convenção Interamericana contra a Discriminação Racial e Todas as Formas de Intolerância, na Organização dos Estados Americanos", conclui Dorotea Wilson.
Assista os vídeos relacionados :
Cono Sur: Derechos Económicos para las Mujeres (Parte 1)



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