Durante uma reunião de alto nível realizada no âmbito da 66º Assembléia Geral da ONU, em 22 de setembro, os líderes mundiais adotaram uma declaração reafirmando seu compromisso com a implementação efetiva da Declaração e do Programa de Ação de Durban, como uma plataforma completa e sólida para combater o racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância.
No continente americano existem cerca de 200 milhões de pessoas que se reconhecem como afrodescendentes. Outros milhões vivem nas demais partes do mundo, fora da África. A Declaração de Durban, que celebra seu décimo aniversário em 2011, reconhece a população negra como vítima da discriminação racial, cuja origen se remete ao comércio de escravos. Estes dez anos de vigência proporcionam uma boa oportunidade para renovar o compromisso das Nações Unidas e da sociedade em geral na luta contra o racismo e a discriminação racial. A Declaração que reafirma o compromisso, assinada na 66º Assembléia Geral da ONU, é um evento que encerra o Ano Internacional dos Afrodescendentes e serve para lembrar das vítimas que foram identificadas na Declaração, além de dar um novo impulso à luta e a prevenção da discriminação racial em todas as suas manifestações.
Mudanças na sociedade global
O Brasil é o segundo país no mundo com a maior população negra – 95 milhões de afrodescendentes – o que não impede a existencia de sinais alarmantes de racismo e sexismo. Assim como em outros locais, as mulheres negras continuam a enfrentar obstáculos para alcançar representatividade em órgãos públicos e privados. Por exemplo, a presença de mulheres negras em cargos de direção nas empresas é muito pequena: apenas 0,5% estão no executivo, 2% na gerência, 5% na supervisão e 9% nas áreas funcionais, de acordo com o estudo do Instituto Ethos 2010.
Ao longo destes 10 anos, a ONU Mulheres apoiaou a organização política das mulheres negras. Um exemplo é o Grupo de Mulheres Negras Brasileiras, formado após a Conferência de Durban em 2001. Lúcia Xavier, uma das ativistas brasileiras participantes da Conferência, chama a atenção para a relação perversa que liga o racismo ao sexismo: "Nosso desafio como movimento de mulheres negras pode ser considerado pequeno em relação à luta que enfrentamos diariamente contra o racismo, o sexismo e a exclusão social. Temos direito a uma vida plena, desfrutar de uma democracia inclusiva e direitos sociais. A sociedade tem que mudar".
Empoderamento das mulheres negras
A ONU Mulheres vem investindo desde 2006 no empoderamento de mulheres negras através de um programa para incorporar as dimensões de gênero, raça e etnia em programas de combate à pobreza na Bolívia, Brasil, Guatemala e Paraguai, financiado pela AECID (Agência Espanhola de Cooperação Internacional e Desenvolvimento). A iniciativa visa incluir as perspectivas de gênero, raça e etnia nas ações governamentais e não governamentais para a redução da pobreza e da discriminação, da produção de dados desagregados sobre gênero e raça e incidência política das mulheres.
De acordo com Dorotea Wilson, coordenadora geral da Rede de Mulheres Afro-Latinoamericanas, Afro-Caribenhas e da Diáspora, “através dos fóruns de preparação para a Conferência de Durban, fomos capazes de nos unirmos com outras redes mulheres no continente e articular esforços conjuntos”. Na estratégia para combater o racismo, a Rede destaca as parcerias com outros movimentos sociais, a implementação do Programa de Ação de Durban e o aumento da participação da juventude no movimento de mulheres negras. “Estamos conduzindo o processo de articulação para a implementação do Plano de Durban, a inclusão da variável étnicorracial nos censos e a construção da Convenção Interamericana contra a Discriminação Racial e Todas as Formas de Intolerância, na Organização dos Estados Americanos", conclui Dorotea Wilson.
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