quarta-feira, 7 de maio de 2014

Eduardo Campos confirma guinada à direita e atinge socialistas históricos do PSB

Eduardo Campos (PSB) é mais um integrante da direita
 e tomou o poder na legenda que um dia foi socialista
O Partido Socialista Brasileiro (PSB) definiu, por orientação do presidenciável Eduardo Campos, que de socialista mesmo restará apenas o nome da legenda. O conteúdo, que identificava a agremiação com a esquerda brasileira será extraído, em parte ou na íntegra, durante a próxima convenção partidária. Na prática, o interesse público e a socialização dos meios de produção desaparecem para deixar livre o compromisso “com a ordem econômica que está aí”, como afirmou Campos, nesta segunda-feira.
 
A decisão já causa um mal estar entre os socialistas históricos abrigados na ideologia prestes a ser sacrificada em nome do capitalismo. Entre eles, o advogado e articulista Roberto Amaral, histórico e combativo militante contra o regime ditatorial e fundador do PSB, após sua passagem no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). No campo econômico, Amaral bate firme no establishment:
 
“O Estado é, sempre, servidor da classe dominante, assim identificada como detentora dos meios de produção’. Esta sentença encerra uma verdade, mas não encerra a verdade toda, pois o Estado capitalista, democrático ou não, é permeado de classes e contradições entre classes e mesmo no interior da classe que exerce o poder de Estado, e nesses espaços podem atuar as mais diversas forças, inclusive as que lhe são antagônicas. Ainda bem. Pois, se tomada a sentença marxista (Manifesto comunista e A ideologia alemã) no seu sentido tout court nada mais teríamos por fazer, a revolução seria impossível, a política estaria morta e, aí sim, a História não teria mais caminho a percorrer”, afirmou, em recente artigo publicado na revista semanal de esquerda Carta Capital.
 
Em linha com Amaral, ministro da Ciência e Tecnologia durante os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outros militantes históricos também se afastaram do PSB. A inspiração marxista, que prega a “socialização dos meios de produção” e limites à propriedade privada, agora faz parte do passado. A início da queda teve início no ano passado, desde a comunhão entre Campos e a ex-ministra do Meio Ambiente, também no governo Lula, Marina Silva, que tem entre seus principais patrocinadores os donos do Banco Itaú e propaga um ideário recheado de opiniões homofóbicas e fundamentalistas.
 
– Como um partido que se diz socialista rasga seu programa de defesa histórica dos direitos das mulheres e se posiciona contra mudanças na lei do aborto? este é apenas um de inúmeros outros pontos centrais da agenda socialista que vem sendo esvaziada – afirmou à reportagem do Correio do Brasil um dos fundadores da legenda que, por motivos pessoais, prefere manter o anonimato.
 
A política de alianças do ex-governador pernambucano na campanha ao Palácio do Planalto, cada vez mais à direita, ficou demonstrada na troca de correspondência entre o coordenador de comunicação da pré-campanha, Alon Feuerwerker, ao próprio Campos, flagrada por repórteres do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo e publicada na edição desta segunda-feira. Na mensagem, Feuerwerker encaminha a Campos o fragmento de um texto, no qual um colaborador descreve o ataque ao partido que circula na internet. O coordenador questiona Campos, presidente nacional do PSB, se é possível alterar o manifesto do partido na convenção em junho.
 
“Tem como mexer nisso na convenção de junho?”, questiona o e-mail do coordenador ao chefe.
 
Nesta manhã, Campos tornou público o seu ponto de vista. Ele disse que o debate sobre o manifesto do partido foi feito a seu pedido e que a mudança deverá ocorrer até 10 de junho, quando ocorrerá a convenção partidária.
 
– Estamos preparando programa de governo que tem claros compromissos com a ordem econômica que está aí, com a estabilização da economia. E, nesses encontros, nós temos interesse de fazer esse debate para mudar o nosso programa – afirmou Campos, presidente nacional do PSB durante visita a Belo Horizonte.
 
Trechos do manifesto, de 1947, que definem os princípios do Partido Socialista Brasileiro preocupam os setores da legenda mais ligados à direita. Campos quer desfazer qualquer ligação com o documento.
 
– Estamos falando de um manifesto de 1947, um documento histórico do partido, em outras circunstâncias. Ali em 1947 nosso partido já se colocava contra a polarização dos que viviam a chamada Guerra Fria – conclui Campos.
 

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