terça-feira, 2 de setembro de 2025

"Entre o Céu e a Terra: a Travessia de Pinto Martins e a Paixão de um Povo"


Foto: Fornecida pelo autor

Por Raimundo Castro*

Em 1922, quando o Brasil celebrava seu Centenário da Independência, os céus ainda eram território de poucos. Voar era arriscar a vida, apostar contra a gravidade, desafiar os limites do impossível. Foi nesse cenário que um cearense de Camocim, Euclides Pinto Martins, ousou inscrever seu nome na história.

Engenheiro, mecânico, aviador — homem de coragem e de técnica — Pinto Martins uniu-se ao piloto norte-americano Walter Hinton para dar vida a uma travessia épica: ligar Nova Iorque ao Rio de Janeiro, costurando continentes e mares a bordo de um hidroavião batizado com um nome que atravessaria os séculos: Sampaio Corrêa II.

A cada pouso forçado em águas turbulentas, a cada reparo feito com as próprias mãos, Martins não apenas consertava máquinas — ele reafirmava a esperança de que a ciência e a ousadia poderiam unir povos e nações. Quando, em dezembro de 1922, o hidroavião pousou triunfante na Baía de Guanabara, o Brasil inteiro compreendeu que um novo tempo havia começado: tempo em que a independência também se faria pelos ares.

Mas a epopeia não terminou no Rio. Daquele voo nasceu um símbolo. Quando, no ano seguinte, um grupo de maranhenses apaixonados pelo futebol decidiu fundar um clube, escolheram homenagear o feito que incendiava a imaginação nacional. Assim nasceu o Sampaio Corrêa Futebol Clube, carregando no nome a marca da ousadia e da coragem. Desde então, o “Tubarão” não é apenas um time: é herança de um gesto de grandeza, memória de que o povo também pode voar.

O destino, no entanto, foi cruel com Pinto Martins. Dois anos depois, em 1924, morreu em Nova Iorque em circunstâncias trágicas. Partiu jovem, sem ver plenamente reconhecida a dimensão de sua façanha. Mas se a vida se apagou cedo, sua chama permanece acesa — no aeroporto de Fortaleza que leva seu nome, na história da aviação brasileira e, sobretudo, na identidade de um clube que nasceu para ser do povo.

Hoje, quando o Movimento “Sampaio Corrêa é do Povo” reivindica democracia, transparência e participação, há um elo invisível que o conecta àquela travessia de 1922. Se Pinto Martins atravessou mares e tempestades para aproximar continentes, cabe agora aos torcedores atravessar as nuvens da opacidade e da má gestão para reconquistar o clube que sempre lhes pertenceu.

A memória do Sampaio Corrêa II não é apenas um capítulo esquecido da aviação: é metáfora viva de resistência. Lembra-nos que nenhuma tempestade é capaz de deter um povo que decide voar. E que, como naquele hidroavião singrando os céus, o Sampaio Corrêa Futebol Clube só cumprirá seu destino se for conduzido pelas mãos firmes e pelos sonhos coletivos de quem realmente lhe dá sentido: a sua torcida, o seu povo, o seu universo tricolor.

*Raimundo Castro - Mestre em Educação pela Universidade Federal do Maranhão. Professor Titular do Departamento de Matemática do IFMA, Campus São Luís-Monte Castelo. Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Profissional e Tecnológica, Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica. Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino, Doutorando em Ensino, da Rede Nordeste de Ensino - RENOEN, Instituição Associada Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) Torcedor do Sampaio Corrêa Futebol Clube 

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