quinta-feira, 19 de junho de 2025

Juros nas Alturas: O Brasil em 2º Lugar no Ranking Global e o Impacto Real na Vida dos Brasileiros


Foto: Blog do Eliomar

Na última reunião do Copom (18 de junho de 2025), o Banco Central elevou a taxa Selic para 15% ao ano, fazendo com que o Brasil ocupasse a 2ª posição no ranking global de juros reais, atrás apenas da Turquia. Essa decisão, vendida como técnica, tem consequências profundas e políticas na economia, na vida cotidiana e na capacidade do país de crescer com justiça social.

Enquanto boa parte do mundo inicia ciclos de redução de juros, o Brasil caminha na contramão, puxando o freio de mão da economia. O motivo alegado: controlar a inflação, projetada em 5,5%. Mas com juros reais de 9,53%, o remédio tem sido mais amargo que a doença.

Quem ganha e quem perde?

Com a Selic nesse patamar, investir em renda fixa ficou mais atrativo, mas apenas para quem já tem dinheiro. Veja os rendimentos anuais aproximados:

CDB (100% do CDI):12,7% bruto

Tesouro Selic:12,6% bruto

Poupança: 8,17%, abaixo da inflação

Inflação esperada: 5,5%

Para quem consegue aplicar R$ 10 mil, o retorno bruto pode ultrapassar R$ 1.100 em um ano. Já quem precisa parcelar a geladeira ou recorrer ao rotativo do cartão, pode enfrentar juros de até 430% ao ano. Um abismo social e financeiro que se aprofunda.

Setores da economia em alerta

Os impactos da alta dos juros não ficam apenas nos boletos das famílias. Afetam diretamente o pulmão produtivo do país:

Construção civil: financiamento proibitivo, empreendimentos parados e o sonho da casa própria adiado.

Varejo: com o consumo retraído, lojistas lutam para manter vendas e empregos.

Transporte e logística: margens apertadas e dívidas mais caras corroem a operação das empresas.

Agronegócio: crédito rural mais caro compromete desde o plantio até a exportação.

E não para por aí. O próprio governo federal, que busca ampliar investimentos públicos, políticas sociais e estímulo à renda, se vê limitado. Quase 47% da dívida pública está atrelada à Selic, e estima-se que R$ 1 trilhão sejam gastos só com juros em 2025. Recurso que poderia financiar saúde, educação, moradia e infraestrutura.

Uma política monetária neutra?

É nesse cenário que surge uma pergunta incômoda, mas necessária: pra quem serve essa política de juros altos? Aos investidores institucionais, parece servir muito bem. Aos brasileiros que vivem com o orçamento no limite, não.

O Banco Central é autônomo, mas deveria ser também socialmente consciente. Não se combate inflação ignorando a desigualdade. Não se constrói crescimento sufocando consumo e investimento produtivo.

O governo tem feito sua parte tentando manter o país em movimento. Mas enquanto as taxas forem usadas como ferramenta de restrição cega, o desenvolvimento sustentável seguirá engessado.

É hora de questionar. Discutir. E exigir que o debate sobre juros saia dos salões técnicos e chegue à vida real.

Fontes:

Banco Central do Brasil (copom.bcb.gov.br)
Relatório Focus (BCB)
Tesouro Nacional
MoneYou (Jason Vieira)
ABRAINC – Associação Brasileira de Incorporadoras
Estatísticas Monetárias e de Crédito – BCB

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