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Foto: Blog do Eliomar |
Enquanto boa parte do mundo inicia ciclos de redução de juros, o Brasil caminha na contramão, puxando o freio de mão da economia. O motivo alegado: controlar a inflação, projetada em 5,5%. Mas com juros reais de 9,53%, o remédio tem sido mais amargo que a doença.
Quem ganha e quem perde?
Com a Selic nesse patamar, investir em renda fixa ficou mais atrativo, mas apenas para quem já tem dinheiro. Veja os rendimentos anuais aproximados:
CDB (100% do CDI):12,7% bruto
Tesouro Selic:12,6% bruto
Poupança: 8,17%, abaixo da inflação
Inflação esperada: 5,5%
Setores da economia em alerta
Os impactos da alta dos juros não ficam apenas nos boletos das famílias. Afetam diretamente o pulmão produtivo do país:
Para quem consegue aplicar R$ 10 mil, o retorno bruto pode ultrapassar R$ 1.100 em um ano. Já quem precisa parcelar a geladeira ou recorrer ao rotativo do cartão, pode enfrentar juros de até 430% ao ano. Um abismo social e financeiro que se aprofunda.
Setores da economia em alerta
Os impactos da alta dos juros não ficam apenas nos boletos das famílias. Afetam diretamente o pulmão produtivo do país:
Construção civil: financiamento proibitivo, empreendimentos parados e o sonho da casa própria adiado.
Varejo: com o consumo retraído, lojistas lutam para manter vendas e empregos.
Transporte e logística: margens apertadas e dívidas mais caras corroem a operação das empresas.
Agronegócio: crédito rural mais caro compromete desde o plantio até a exportação.
E não para por aí. O próprio governo federal, que busca ampliar investimentos públicos, políticas sociais e estímulo à renda, se vê limitado. Quase 47% da dívida pública está atrelada à Selic, e estima-se que R$ 1 trilhão sejam gastos só com juros em 2025. Recurso que poderia financiar saúde, educação, moradia e infraestrutura.
Uma política monetária neutra?
É nesse cenário que surge uma pergunta incômoda, mas necessária: pra quem serve essa política de juros altos? Aos investidores institucionais, parece servir muito bem. Aos brasileiros que vivem com o orçamento no limite, não.
O Banco Central é autônomo, mas deveria ser também socialmente consciente. Não se combate inflação ignorando a desigualdade. Não se constrói crescimento sufocando consumo e investimento produtivo.
O governo tem feito sua parte tentando manter o país em movimento. Mas enquanto as taxas forem usadas como ferramenta de restrição cega, o desenvolvimento sustentável seguirá engessado.
É hora de questionar. Discutir. E exigir que o debate sobre juros saia dos salões técnicos e chegue à vida real.
Fontes:
Banco Central do Brasil (copom.bcb.gov.br)
Relatório Focus (BCB)
Tesouro Nacional
MoneYou (Jason Vieira)
ABRAINC – Associação Brasileira de Incorporadoras
Estatísticas Monetárias e de Crédito – BCB
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