CARTA DO 8º ENCONTRO NACIONAL DE COMUNICADORES E ATIVISTAS DIGITAIS
Os desafios colocados para os comunicadores e ativistas digitais que lutam por uma mídia mais diversa, plural e democrática no Brasil são duríssimos.
De um lado, a despeito da derrota na eleição presidencial em 2022, a ultradireita e a máquina de desinformação e ódio bolsonarista seguem a todo vapor. De outro, um governo democrático e popular que contrasta com uma ampla maioria reacionária e mercenária no Congresso, impondo enormes barreiras para emplacar o projeto vitorioso nas urnas.
No meio do caminho, a agenda da luta pela democratização da comunicação, que parece estancada pela famigerada conjuntura. O que fazer, então? Todas as respostas convergem em três tarefas imprescindíveis: organização, mobilização e pressão.
Nós, comunicadores populares, jornalistas, pesquisadores, estudantes e ativistas reunidos no o 8º Encontro Nacional de Comunicadores e Ativistas Digitais nos dias 5 e 6 de julho, em São Paulo, assumimos a responsabilidade de definir e executar estratégias de enfrentamento ao esgoto bolsonarista, às contradições do governo e de ação conjunta na luta por uma comunicação mais democrática.
Para alcançar esses horizontes, estabelecemos os seguinte eixos como prioritários para o próximo período:
A luta pelo fortalecimento das mídias independentes, comunitárias, periféricas e contra-hegemônicas em geral, que deve ser intensificada em todas as esferas – não apenas no Executivo, mas também em âmbito parlamentar, seja estadual ou municipal, ocupando os espaços de participação social, pressionando as bancadas progressistas e fortalecendo instrumentos e campanhas que visam construir políticas públicas de financiamento para o conjunto dessas mídias.
Fortalecimento da Comunicação Pública, com mais investimentos e ousadia na condução das iniciativas já existentes, com destaque à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), para que possa cumprir seu papel com os devidos arrojo, qualidade e abrangência necessários para disputar audiência oferecendo uma programação distinta à dos meios comerciais. Um caminho pode ser a construção de uma ampla rede de emissoras de rádio e de televisão que ofereçam espaço, através de editais, para conteúdos produzidos pelas mídias independentes, comunitárias, periféricas e contra-hegemônicas em geral;
Atuação e repercussão da luta pela regulação das plataformas digitais, as chamadas “big techs”, fundamentais para o combate ao ódio e à desinformação a partir do estabelecimento regras e limites ao poder dessas corporações transnacionais ao determinar responsabilidades e transparência quanto às suas políticas de monetização e de algoritmos; o mesmo se aplica à regulação da inteligência artificial, que necessita critérios claros para os rumos de sua utilização e desenvolvimento no país. Para além da regulação, também urge pressionar os governos em todas as esferas para a concepção e o desenvolvimento de plataformas próprias, que reduzam a dependência tecnológica das corporações transnacionais e protejam a soberania digital brasileira. Também sugere-se aproximação com o Observatório do Fediverso, um ambiente com notícias, tutoriais, e curadoria de instâncias para estimular a cultura de uso das tecnologias federadas no Brasil;
Fortalecer iniciativas, políticas públicas e campanhas de combate à desinformação
A partir do jornalismo, do midiativismo e da comunicação popular, amplificar a luta por avanços no governo, por mais democracia e por mais desenvolvimento com soberania e justiça social
Acompanhar a proposta de criação de uma Rede de Comunicação Popular, tal como está sendo discutido pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), a partir de proposta apresentada em sua 25ª Plenária Nacional, realizada de 28 a 30 de junho de 2024. A iniciativa visa construir unidade entre o maior número possível de mídias independentes, comunitárias, periféricas e contra-hegemônicas em geral, a fim de formar uma grade de programas em áudio e vídeo com produção de lavra própria. A proposta dialoga com outra emenda, apresentada pelo Portal Desacato, sugerindo a criação de um noticiário unificado e nacional regular, através da web e com repetição simultânea nos canais e plataformas dos veículos participantes, para apresentar o jornalismo independente de cada estado em nível nacional, destacando suas identidades e culturas, com uma curadoria semanal das melhores notícias e entrevistas de cada coletivo jornalístico;
Aprofundar a discussão sobre a realização da II Conferência Nacional de Comunicação (Confecom)
Articular e estimular a organização da juventude nos espaços de luta pela democratização da comunicação
Realizar encontro, no âmbito do Barão de Itararé, protagonizado pela juventude para debater temas urgentes de seu interesse em intersecção com a luta pela democratização da comunicação
Pressionar pela implementação imediata dos Canais da Cidadania
Os tempos mudaram bastante desde o primeiro Encontro de Blogueiros Progressistas, em 2010. A tecnologia avançou sobre a comunicação e o incipiente movimento dos “blogueiros sujos” ajudou a construir um ecossistema muito mais plural que vai das mídias independentes, seus portais e canais, aos influencers digitais e suas novas formas de comunicar, em plena transformação.
O conjunto desses comunicadores e ativistas digitais tem o dever de buscar unidade na diversidade, respeitando as diferenças de porte, região e linha editorial para que a prática de somar forças e multiplicar esforços nas lutas comuns sejam uma estratégia permanente. Só mobilizados, organizados e solidários uns com os outros seremos capazes de incidir em uma das mais duras batalhas já enfrentadas pelo campo progressista, que agora não é só mais para democratizar a comunicação, mas sim construir uma comunicação e um país que dêem conta de estrangular, de uma vez por todas, a serpente fascista.
São Paulo, 6 de julho de 2024
Saiba mais sobre o encontro aqui
FONTE: Barão de Itararé
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