Altamiro Borges
Na quinta-feira passada, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) enviou um e-mail respeitoso criticando um texto de minha autoria publicado neste blog um dia antes – intitulado “O triste papel de Eduardo Suplicy”. Diante da réplica, enviei-lhe um e-mail com a minha resposta no domingo, 4 de fevereiro. Nesta mesma data, o senador postou livremente o seu comentário no blog. O debate de ideias, que inclui a polêmica franca e fraterna, faz parte do jogo democrático. Reproduzo abaixo a réplica do senador e a minha tréplica:
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Meu caro Altamiro Borges:
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Meu caro Altamiro Borges:
Com todo respeito por sua trajetória, quero afirmar que meu apoio à Yoani Sánchez ao Brasil é inteiramente consistente com a defesa da democracia e dos direitos humanos ressaltada por você ao longo de toda a minha vida. É inteiramente compatível com os princípios defendiPor dos pelo Partido dos Trabalhadores desde o Manifesto da Fundação do PT de 10 de fevereiro de 1980, aprovado por mim como um dos fundadores do partido no Colégio Sion, São Paulo, em que é expresso:
"O PT lutará por todas as liberdades civis, pelas franquias que garantem, efetivamente, os direitos dos cidadãos e pela democratização da sociedade em todos os níveis."
A defesa de liberdade de expressão de Yoani Sánchez também está de acordo com a manifestação da Presidenta Dilma Rousseff: "Eu prefiro o ruído da imprensa livre ao silêncio tumular das ditaduras". Eu creio que as pessoas sensatas do PCdoB também estão de acordo com a Presidenta Dilma.
O meu apoio à viagem de Yoani Sánchez, graças à nova Lei Migratória aprovada pelo Governo Cubano, depois de cinco anos de negativa, tem muito a ver com o sinal tão positivo que foi dado ao Presidente Barack Obama e ao Congresso Norte Americano - que de há muito diziam querer ver sinais de maior abertura política - para que deem os passos necessários para que se encerre o Embargo ou o Bloqueio em relação à Cuba que já dura mais de 50 anos, para que se feche a Prisão de Guantánamo e inclusive para que seja dada anistia aos cinco prisioneiros cubanos nos EUA, que são considerados heróis em Cuba, personagens do livro "Os últimos Soldados da Guerra Fria" de Fernando Morais. Por sinal, estas são as reivindicações principais dos que tanto protestaram contra a Yoani Sánchez, sem terem tido a paciência suficiente de com ela dialogarem de maneira respeitosa e sensata. Preferiram se utilizar da ofensa e da agressão, inclusive a mim.
Se você ler com atenção as crônicas de Yoani Sánchez sobre o cotidiano da vida em Cuba, notará que ela se utiliza de uma linguagem simples, nunca com ofensas a quem quer que seja, descrevendo problemas do dia a dia, as quais podem ser úteis até para as autoridades cubanas corrigirem os problemas que ali acontecem. Considero os artigos de Yoani Sánchez muito menos ofensivos do que os discursos que muitas vezes alguns senadores da oposição fizeram ou fazem com respeito aos governos Lula e Dilma Rousseff.
Se tivesse tido a disposição de ouvi-la com atenção, e poderia perfeitamente ter comparecido às inúmeras entrevistas coletivas que ela deu, teria escutado as respostas às perguntas que fez em seu artigo e verificado que não são verdadeiras as assertivas de que ela é agente ou financiada pela CIA e por organizações com propósitos que não sejam os de defender a liberdade de expressão, de imprensa e de utilização da internet como hoje acontece no Brasil e em tantos países do mundo, inclusive para divulgar o seu artigo com ataques a mim que realmente considero injustos.
Reconheço que Cuba deu guarida a tantos perseguidos pela ditadura militar brasileira e claro que também sou solidário a eles. Também reconheço os avanços sociais obtidos pela Revolução Cubana. Já visitei Cuba por quatro vezes, lá fiz palestras, colaborei com trabalhos voluntários de construção, visitei a Escola Nacional de Medicina, quando conversei com dezenas de brasileiros, visitei suas lindas praias e fiz palestra sobre a Renda Básica de Cidadania no Encontro Anual de Economistas de Cuba e do Caribe. Considero que Cuba terá muito a ganhar na medida em que lá avançar as liberdades democráticas.
Quero convidar você, a todos os membros do PCdoB, do PCR, da UJS, e das organizações que realizaram protestos contra Yoani a terem um diálogo respeitoso e construtivo para que possamos unir forças e transmitir ao Presidente Barack Obama que aproveite a próxima visita de Yoani Sánchez à Washington D.C., provavelmente em março, e depois a Nova York, para efetivamente refletir com ela que é hora de acabar com o Embargo ou Bloqueio.
Fosse vivo hoje Thomas Paine, que em 1776 escreveu em "Senso Comum" que contrariava o bom senso que uma ilha dominasse um continente, levando os americanos a proclamarem a sua independência em 4 de julho daquele ano, ele hoje escreveria que contraria inteiramente o bom senso que um país continental como os EUA se neguem a ter relações inteiramente normais com o povo de uma ilha que está a apenas cem milhas de distância de sua costa.
O abraço,
Senador Eduardo Matarazzo Suplicy
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Prezado Eduardo Suplicy
Desculpe os três dias de demora na resposta. Viajei nestes dias a trabalho e preferi responder com calma a sua mensagem. Em primeiro lugar, obrigado pelo envio das suas críticas e pela forma civilizada como as escreveu. Acho que polêmica não deve ser confundida com pugilato, com grosserias. Em segundo lugar, respeito suas opiniões - principalmente por conhecer a sua trajetória. Já participei de inúmeras campanhas por sua eleição, inclusive procurando convencer os mais resistentes. Em terceiro lugar, discordo totalmente das suas opiniões.
Conheço o suficiente o que pensa a dissidente cubana Yoani Sánchez. Sempre acompanho o seu blog e as suas atividades. Ela é uma inimiga declarada da revolução cubana e prega o retorno do capitalismo à ilha - como já escreveu várias vezes. Sei também das suas ligações com forças terroristas de Cuba e do restante do mundo - principalmente dos EUA. Seus contatos constantes com o Escritório de Interesses dos EUA em Havana já foram desmascarados. O WikiLeaks inclusive já publicou documentos da diplomacia estadunidense que comprovam as suas ligações com o poderoso império do norte, que a trata como prioridade para a chamada "transição" na ilha.
Também conheço de forma razoável a realidade cubana. Estive na ilha três vezes e inclusive escrevi um livreto, juntamente com o professor Plínio de Arruda Sampaio e os jornalistas Max Altman e José Reinaldo Carvalho, sobre o bloqueio do império ao país. Sei das dificuldades vividas por uma ilha cercada de inimigos ferozes. No meu entender, Cuba somente resiste ao cerco por quatro fatores básicos: as conquistas da revolução, o sentimento patriótico, anti-imperialista; as diversificadas formas de participação popular; e a confiança nos seus líderes, principalmente em Fidel Castro. As restrições existentes no país decorrem deste cerco. Com o fim do bloqueio e da ingerência terrorista dos EUA, a ilha poderia avançar ainda mais nas conquistas democráticas. Do contrário, é ingenuidade pensar numa democracia idealizada.
Por fim, já que você me fez algumas sugestões, também faço outras. Proponho que você dedique o mesmo empenho à libertação do soldado estadunidense Bradley Manning, preso em condições desumanas nos EUA por revelar vários documentos sobre as agressões do império; que ajude na campanha de denúncia contra as ações das potências capitalistas contra Julian Assange, criador do WikiLeaks; e que, principalmente, use do seu espaço no Senado Federal, conquistado por todos nós, para criticar as perseguições aos blogueiros brasileiros efetuadas pelos poderosos meios de comunicação do país. Na mesma semana da visita de Yoani Sánchez, a Folha ganhou em mais uma instância da "Justiça" contra o blog irreverente "Falha". Dias antes, o blogueiro Rodrigo Vianna foi condenado numa ação movida pelo chefão da TV Globo, Ali Kamel.
Sei que estas batalhas não renderão espaços generosos na mídia hegemônica - que adora falar em liberdade de expressão, mas que na verdade defende a liberdade dos monopólios. Mas, penso, elas são justas e poderiam merecer maior espaço na sua agenda legislativa.
Um grande abraço e seguimos conversando, democrática e civilizadamente.
Altamiro Borges
Fonte: Blog do Miro
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