Da K..., que conseguiu se libertar.
Como já disse em um guest post anônimo no seu blog, depois de um relacionamento abusivo eu consegui enfim me separar.
Me separei sem pensar muito em como seria, porque talvez se eu pensasse eu não conseguiria me separar.
Ingenuamente, acreditei que não existisse mais essa coisa de preconceito com mães solteiras. Claro que eu sabia de muita gente que acha que mãe solteira só está a fim de arranjar um pai para o filho e tudo mais, mas acreditava mesmo que com tanta informação que temos hoje, pessoas mais novas principalmente, seriam... mais pra frente.
Nesses meses, me deparei não somente com o preconceito -- que também é machismo né? --, mas com um machismo explícito e de pessoas bem próximas.
As primeiras semanas foram bem complicadas, porque de algumas pessoas das quais eu esperava apoio (por serem amigas há décadas, amigas de infância), o que eu recebi foi descrença. Minha amiga que sabia de toda a situação, dos porquês do término, da situação que estava no limite e da falta de respeito, dizia que isso era fase, que já já eu ia voltar atrás, porque apesar de meu ex na visão dela "não ser aquilo tudo", eu não iria aguentar ficar sozinha.
Vi aí como algumas pessoas simplesmente não validam as decisões tomadas por mulheres. Minha amiga usou argumentos como: "você vai voltar quando as coisas apertarem" (financeiramente), "quando você sentir falta de sexo". Ou seja, minha decisão não tem valor algum? É isso? Até hoje essa amiga acha que eu vou voltar com ele, e que é só questão de tempo.
Outras pessoas também tiveram reações parecidas. Apesar de serem pessoas próximas, eu já esperava esse tipo de reação. Uma tia, alguns meses depois, me vendo numa situação financeira não muito boa, me disse: separou, agora aguenta. Como se eu tivesse de "pagar" por uma decisão que EU tomei, uma decisão que foi a melhor para mim e para a minha filha.
Claro que no meio do caminho surgiram pessoas maravilhosas que me apoiaram e seguraram a barra -- até mesmo financeira -- quando precisei, mesmo não sendo responsabilidade delas. Isso se chama empatia.
Acontece que eu me vi deslocada em um mundo que não sabe lidar com a mulher que ESCOLHE se separar. Sou blogueira, tenho um blog sobre maternidade e comecei a procurar blogs com o mesmo tema. O que encontrei foram diversos blogs onde as mulheres se vitimizavam, dizendo que foram abandonadas, e dicas para o seu marido não terminar com você, como se ser mãe solteira fosse a pior desgraça para uma mulher.
Então aproveitei a deixa e comecei a incluir o feminismo nos meus textos, a incentivar as mulheres a se empoderarem. E no blog mesmo, quando falo da separação, às vezes acontece de aparecer um comentário ou outro de alguém falando que é um absurdo eu fazer algo assim com a minha filha, que eu deveria ter pensado nela. Mas eu pensei! Tanto pensei, que preferi separar. Porque eu não quero que futuramente ela permaneça numa relação abusiva, ou até mesmo numa relação na qual ela não quer mais estar, porque "minha mãe ficou casada mesmo assim".
Lola, já ouvi de tudo esses meses, já ouvi que estão fazendo corrente de oração para mim, para que um homem bom apareça na minha vida! (Oh! homens bons, venham me resgatar das garras do feminismo!). Já ouvi que em breve irei encontrar um homem para ser o pai da minha filha. Porque né, separou, a criança perde o pai, né? Não? Ah tá... Já ouvi que "Ihh, agora que não deu certo com homem, não desiste não, tá? Não vai começar a gostar de mulher, hein?". Já ouvi de TU-DO.
E vi que para a maioria das pessoas a mãe solteira AINDA é vista como uma abandonada. Até mesmo algumas mães solteiras se intitulam coitadas. Como se todas as mulheresprecisassem de um homem para cuidar delas e dos filhos!
Não me arrependo da minha decisão. Eu ainda custo a acreditar que consegui me separar, e quando lembro, fico muito feliz e orgulhosa de mim.
Tenho esperança de que, futuramente, a nossa sociedade esteja preparada para aceitar as mães solteiras sem ter de arranjar um homem pra elas.
Minha resposta: Incrível que esse preconceito persista! Bem quando vc precisa de apoio... Imagina só, se a gente vivesse numa sociedade mais igualitária, todo mundo estaria te parabenizando por ter conseguido sair de um relacionamento abusivo. Mas como a sociedade é tremendamente machista, fica insistindo nisso de "melhor mal acompanhada do que só" (contrariando o próprio provérbio), ou de que vc precisa de um homem.
É bem provável que homens venham, e que desta vez vc saberá escolher. Mas daí a dizer que vc PRECISA de um pra viver, vai uma distância. Ou de que sua filha precisa de um pai, como se ela já não tivesse um!
Camisa odiosa, criação de mascus dos EUA |
E todas essas mulheres, segundo eles, não prestam, só querem arranjar um homem que as sustente. Sem falar que os filhos dessas mulheres são os piores possíveis, de acordo com os mascus (o que certamente é uma projeção, pois muitos mascus são filhos de mães solteiras. O que não falta é mascu que teve mãe batalhadora e pai inútil que largou a família e, lógico, o pimpolho ficou contra as mulheres e sonha em ser igual ao pai). E pra eles não existe nada mais desonroso que um homem criar um filho que não seja seu. Ou seja, adoção, pra eles, é ato máximo de desonra.
Eu só posso te parabenizar por ter conseguido cair fora. Isso exige muita coragem. E vc teve essa coragem. Agora a sua vida já deve estar melhor, apesar dos preconceitos que te rodeiam. É só seguir em frente sem olhar pra trás. E evitando olhar pros lados, porque o que não falta é gente besta disparando preconceitos.
Fonte: Reproduzido do Blog Escreva Lola Escreva
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