terça-feira, 4 de julho de 2017

20 opiniões frequentes do senso comum cujas implicações práticas chocarão você


Seguir e repetir opiniões de senso comum: saiba como isso pode ter consequências inesperadas
Você costuma emitir opiniões sobre política, sociedade e educação moral baseadas em senso comum?

Se sim, convido você a conhecer melhor o outro lado de cada uma delas. Um lado que possui implicações e potenciais consequências que vão surpreender você.

Neste artigo, selecionei vinte argumentos e reivindicações que comumente são declarados em lugares como reuniões de família e grupos de WhatsApp.

Conheça o que cada um deles, no fundo, significaria para o seu futuro, o de quem você ama e do Brasil como um todo. Acredito que você irá refletir bastante sobre eles e pensar duas vezes antes de proferir tais colocações novamente, caso atualmente as veja como “verdades sólidas”.

Saiba logo a seguir o que cenas como essa têm a ver com algumas opiniões do senso comum
Conheça o que declarações tão comuns podem representar de perigosopara o nosso futuro:

Quando você reivindica que o Estado use presidiários para obras públicas sem o consentimento deles e sem compensações (como diminuir a pena para cada dia ou semana trabalhado), está, sem perceber, defendendo um tipo de escravidão. Trabalho forçado e também não remunerado é uma forma de exploração escrava de mão-de-obra;

Quando você defende “intervenção militar”, está defendendo, na prática, que voltem a ser instituídos absurdos como a tortura, a perseguição política, a censura, o assassinato político, a obrigatoriedade de todos os brasileiros aceitarem e seguirem a ideologia oficial do Estado e o medo de se posicionar contra esse Estado e seus abusos. Por tabela, está desejando um futuro infernal para seus parentes, amigos e colegas que defendem posições políticas diferentes da sua, e um no mínimo muito inseguro para você mesmo;

Quando você defende que os testes de medicamentos em animais passem a ser feitos em presidiários, está na verdade defendendo que o Estado promova tortura e assassinato contra eles;

Quando você defende a volta da Educação Moral & Cívica nas escolas, está defendendo doutrinação ideológica conservadora e nacionalista. Essa disciplina possuía, inclusive, aspectos de fascismo: não é à toa que Plínio Salgado, líder do movimento integralista brasileiro, de orientação fascista, publicou um livro de EMC durante a ditadura militar;

Quando você defende que seja liberado o castigo físico de crianças com o uso de chinelos, paus e cintos como instrumentos de agressão, está defendendo a legalização de crimes como agressão, lesão corporal e, em alguns casos mais radicais, tortura, que, quando cometidos contra adultos ou contra crianças e adolescentes que não são filhos do agressor, dão cadeia;

Quando você defende a proibição do ensino da teoria marxista e outras correntes políticas consideradas de esquerda nas escolas, está defendendo censura, perseguição política e o fim da liberdade de expressão dos professores e estudantes;

Quando você diz ter saudade das escolas de antigamente, está no fundo manifestando um desejo de que as escolas voltem a ter um regime disciplinar misto de prisão, quartel militar e instituição de ensino, no qual as crianças não têm direitos nem liberdades, apenas obrigações rigorosas e penalidades muitas vezes cruéis.

Quando você diz ser “contra os Direitos Humanos”, ou afirma que eles “só defendem bandidos”, está na prática deixando a entender que abriria mão, sem pestanejar, de direitos básicos como a segurança, a propriedade, o ir-e-vir, a livre expressão e até mesmo o direito à vida, já que se tratam basicamente de Direitos Humanos. Também insinua que aceitaria ser torturado e assassinado por motivos fúteis pela polícia, já que se diz “contra” os DH;

Quando você diz que vai votar em pessoas como Jair Bolsonaro, algum outro candidato militar ou um evangélico reconhecidamente fundamentalista, está na prática dizendo que seu voto será investido para você perder seus próprios direitos, inclusive parte dos seus mais básicos, como a liberdade de expressão, o direito de não ter a integridade física e psicológica violada, a liberdade religiosa e os direitos de poder discordar do governo e não ser preso arbitrariamente;

Quando você defende, em algum aspecto, a ditadura civil-militar de 1964-85 e/ou a volta dos militares ao poder, está deixando claro que não se importaria em perder todos os seus direitos e liberdades e não ter mais nenhuma garantia de ser verdadeiramente protegido pelo Estado, inclusive pela polícia;

Quando você defende o autoritarismo disciplinar como meio de educar crianças e adolescentes, está na prática dizendo que essas pessoas não deveriam ter direitos nem liberdades, defendendo a violação da integridade física e psicológica delas e impedindo-as de serem quem realmente são, gostam de ser e/ou querem ser;

Quando você defende uma sociedade ao mesmo tempo capitalista, autoritária e sem um Estado social que assegure direitos, está defendendo uma realidade em que as pessoas não têm direitos, não são livres de maneira nenhuma, estão sujeitas a formas sutis ou até explícitas de escravidão, tendem a permanecer na pobreza e na miséria durante toda a vida, contraem com facilidade doenças físicas e/ou transtornos mentais e podem morrer dolorosamente a qualquer momento por qualquer motivo, sem que tenham o direito de serem internadas em hospitais públicos ou protegidas pela polícia;

Quando você diz que “os tempos antigos eram melhores”, no sentido de ter sido uma ordem social “melhor” do que a de hoje, está na prática afirmando ser “preferível” uma sociedade na qual mais de 70% da população (uma maioria constituídas de mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência e LGBTs) praticamente não tinha direitos, o Estado podia violar a propriedade e integridade física de qualquer pessoa a qualquer momento, o voto não era uma maneira de tentar assegurar um país melhor e o meio ambiente era implacavelmente destruído sem que a população quase nada pudesse fazer para impedir;

Quando você clama que a polícia reprima os “vagabundos” e se diz contra greves e protestos, está defendendo, na verdade, que os trabalhadores não devem ter liberdades de expressão, associação, posicionamento político e manifestação e deveriam aceitar submissamente perder os seus direitos e viver com salários totalmente insuficientes para suas necessidades básicas;

Quando você diz que “a natureza humana” é cruel, egoísta e violenta, está confessando, sem perceber, que você se considera cruel, egoísta e violento – já que é um ser humano também;

Quando você diz que a “intervenção militar” colocaria no poder um “presidente de reputação ilibada”, está na prática dedicando uma fé cega a um governante misto de ditador e rei e aceitando não ter mais poder nenhum de decidir o futuro do país;

Quando você dedica intolerância e xingamentos a quem pensa politicamente diferente de você, está na prática “militando” para que a população brasileira, incluindo você próprio, perca liberdades como a de expressão, a de posicionamento político e a de associação e também o direito ao voto;

Quando você diz ser contra a “ideologia de gênero” e a “doutrinação esquerdista” nas escolas, está, em primeiro lugar, se posicionando a favor de quem realmente defende uma doutrina que designa papéis de gênero “tradicionais” para mulheres e homens, força homossexuais a fingirem ser heterossexuais e coage pessoas trans a assumirem um gênero com o qual não se identificam. Em segundo, está consentindo que as escolas se tornem ambientes de doutrinação conservadora e religiosa (cristã fundamentalista), não mais um ambiente em que posições políticas e religiosas diferentes são estudadas, analisadas e discutidas e se ensina sobre direitos e liberdades;

Quando você diz que a educação deveria ser “neutra”, está na prática defendendo, por exemplo, que o nazismo, o fascismo, o racismo “científico” do século 19, o fundamentalismo religioso e até mesmo a escravidão não possam mais ser criticados e condenados pelo professor nem pelos alunos. Pelo contrário, dá-se a deixa de que sejam compulsoriamente ensinados pontos “positivos” dessas absurdas ideologias, além de pontos “negativos” de se ter direitos e liberdades e viver numa democracia, em nome da exigida neutralidade;

Quando você diz que a polícia deveria ser mais dura e tolerância-zero, está na prática aceitando que ela seja isentada de respeitar as leis e liberada de cometer abusos e até crimes, inclusive contra inocentes, em sua atuação – por exemplo, tratando jovens negros pobres como se fossem todos criminosos e violentando indivíduos confundidos com bandidos.

Bônus: Quando você defende posições e ideologias não democráticas – nas quais o povo não tem nenhuma prerrogativa de decisão política e edificação da ordem social e econômica, o voto não tem nenhum poder de promover mudanças e resta aos governados apenas acreditar na misericórdia de quem está nos três poderes e comanda as grandes empresas -, está na prática aceitando perder todos os seus direitos e liberdades e se candidatando a ter uma vida servil, submissa, infeliz e doente perante o Estado e o Mercado.

Respondendo a eventuais desdéns indignados


Prevejo que, diante dessas constatações, algumas pessoas vão responder indignadas, precipitando-se a julgá-las como “falsas” e/ou “absurdas”. Então me antecipo respondendo a essas eventuais reações.


“Que absurdo/besteira/mentira isso que você está dizendo!”

A quem exclamar isso, eu gostaria que respondesse: por que o que este artigo revela é “absurdo” ou “besteira”? O que faz dele um texto “errado e mentiroso”? Como pode provar isso?


“Não tem nada a ver isso aí.”

Por que não tem “nada a ver”? O que atesta que o texto incorre em falsidades e que, por exemplo, defender uma política e educação autoritárias não compromete os direitos e as liberdades das pessoas?


“Não vou mudar meu jeito de pensar por causa desse texto.”

Responder o texto assim significa que suas crenças não são baseadas na razão, mas sim numa passionalidade que não se equilibra com sua racionalidade, já que, ao invés de contra-argumentar, prefere fechar-se ao debate e não pôr suas crenças sob reflexão e avaliação.


“Esse texto é coisa de comunista!”

O que neste texto lembra comunismo, ou qualquer outra ideologia que não seja compatível com uma economia capitalista? Aliás, o que você definecomo comunismo?


“Bolsonaro/os militares vão/vai acabar com essa farra de vocês.”

Argumentar isso significa:

Ser contra a liberdade de expressão;

Ser contra o direito à vida;

Defender censura, perseguição e assassinato por motivos políticos;

Querer ser proibido de se expressar e de eventualmente ser contra alguma política do governo (que será, caso o seu desejo prevaleça, uma ditadura);

Ser contra a democracia e, por tabela, defender a perda de seus próprios direitos e não querer a garantia de que terá sua vida, sua liberdade e sua propriedade pessoal protegidas pelo Estado;

Querer se tornar vulnerável a qualquer abuso que venha a ser cometido por um governo ditatorial, como ser preso, torturado e assassinado por ter sido “confundido com um comunista” ou expressado descontentamento ou discordância com alguma atitude do governo e/ou da polícia.


Considerações finais


Saiba como se livrar do senso comum e da manipulação que induz você a opiniões que se mostrou serem tão inconsequentes

Agora que você viu que muitas opiniões tão frequentes do senso comum possuem implicações absurdas e cruéis, agora a hora é de refletir sobre o quanto falar de política e sociedade sem pensar nem estudar é perigoso para você e quem você mais ama.

Faço a você algumas recomendações: antes de se considerar apto a falar de temas políticos, sociais e morais:

Leia livros introdutórios de Sociologia, Política, Antropologia e Ética, que possuam linguagem acessível e não sejam caros. Se não tem dinheiro, baixe na internet livros gratuitos;

Se preferir outros veículos de conhecimento, assista a canais de vídeos de especialistas nessas áreas de conhecimento na internet;

Desconfie do que a mídia tradicional, e também os sites e páginas sociais com inclinação ideológica muito agressiva e tendenciosa e desprovidos de finalidade educativa, dizem e repetem para você;

Substitua suas certezas precipitadas pelo hábito de perguntar por quê para tudo;

Preze pela tolerância e pela empatia. Atitudes agressivas, autoritárias e intolerantes não levam a nada fora brigas desnecessárias, rompimentos evitáveis com pessoas que você ama ou considera muito, raiva corrosiva e problemas de saúde física e mental.

Com menos achismo, certezas rígidas e passionalidade e mais estudo, curiosidade e equilíbrio razão-emoção, todos sairão ganhando, inclusive você. E ninguém perderá nenhum direito e liberdade.

Este artigo fez você refletir sobre alguma crença de senso comum que tinha até então? Alternativamente, não tem nenhuma das opiniões listadas, mas quer mostrar o texto para pessoas próximas (família e amigos)? Comente logo abaixo e compartilhe-o.

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