quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Agrotóxicos: a grande ameaça


Foto: Agência Brasil

Regulamentar urgentemente o uso de agrotóxicos é essencial para garantir alimentos saudáveis e preservar a biodiversidade agrícola.

Por Valdir Izidoro Silveira*

Quando está em jogo a sorte e os investimentos de tantos agricultores, e o que é mais importante, a própria sobrevivência da nossa espécie, nunca é demais discutirmos os problemas do uso abusivo dos agrotóxicos que tantos males têm causado à humanidade. Intransigentemente estamos sempre como homem do campo e, quando falamos em homem do campo, nos referimos mais especificamente aos pequenos e médios agricultores responsáveis pela produção do nosso alimento, que hoje representam a força propulsora do desenvolvimento nacional.

O homem vai fazer da Terra um deserto igual à Lua. O conteúdo do livro Primavera Silenciosa, escrito em 1959, da bióloga norte-americana Raquel Carson, falecida em 1964, nos deixa perplexos. Os nossos agricultores deviam ter este livro como uma bíblia de cabeceira, pois o pautamos como uma das publicações mais sérias e técnicas que já se editaram sobre tão importante assunto. Raquel Carson denunciava, há 65 anos que os venenos usados na agricultura produziam câncer, esterilidade e mutações celulares no ser humano e dava suposto que os praguicidas acabarão por extinguir a vida vegetal, a fauna, a vida aquática, os animais domésticos e o homem.

Raquel Carson não só afirma como comprova na maioria das páginas de Primavera Silenciosa os malefícios de tais praguicidas. Vejamos o que diz a bióloga: “pesquisas médicas recentes revelaram que o D.D.D. suprime, violentamente, a função do córtex adrenal humano. O Dr. W. C. Hueper, do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, advertiu que as probabilidades de surtos de câncer decorrentes do consumo de água potável contaminada aumentarão consideravelmente dentro de um futuro previsível. (…) a nitrificação que torna o nitrogênio atmosférico disponível às plantas é um exemplo. O herbicida 2,4 D ocasiona a interceptação da nitrificação! O Lindane, o Heptacloro e o B.H.C. (Hexacloreto de benzeno) reduziram a nitrificação depois de duas semanas no solo; o B.H.C., o Aldrin, o Lindane, o Heptacloro e o D.D.D., todos, impediram que as bactérias fixadoras do nitrogênio formassem os necessários nódulos nas raízes das plantas leguminosas”.

O Brasil hoje é campeão de vendas de agrotóxicos proibidos na Europa, tais como o Mancozebe, Atrazina, Acetato, Clorotalonil e Clorpirifós; produtos que são usados nas culturas de arroz, banana, batata, café, cana-de- açúcar, citros, feijão, maçã, milho, soja e trigo. Só no desgoverno Bolsonaro foram liberados o uso de 550 novos agrotóxicos. É sabido que os agrotóxicos, antes denominados pesticidas, inseticidas e defensivos muitas vezes não causam a morte imediata dos animais que os ingerem. Podem ter efeito cumulativo no organismo através da gordura. Concentrações, ao longo das cadeias alimentares – pirâmides alimentares – podem ser fatais. O D.D.T. aspergido sobre árvores contamina as folhas, que por sua vez, contaminam os solos e as minhocas neles existentes. Os pássaros, ao ingeri-las, morrem devido ao efeito cumulativo. Isso tudo é o desequilíbrio da natureza. Quantos insetos parasitas das plantas cultivadas, conhecidos por insetos auxiliares, têm sido destruídos sistematicamente no afã de combater os insetos predadores?

Assim sendo, fazemos um apelo ao presidente Lula para que enquadre os órgãos responsáveis e controladores, tais como o IBAMA, a ANVISA e o MAPA- Ministério da Agricultura, Produção e Abastecimento, para que se proceda, em âmbito nacional, um estudo minucioso, técnico e científico dos principais agrotóxicos utilizados na agropecuária. A humanidade está precisando de estoques reguladores, cada vez mais progressivos, de alimentos e que os mesmos sejam sadios, não venenosos.

Para ter alimentos sadios e preservar a humanidade, precisamos manter o equilíbrio da pirâmide alimentar. A perda de um elo, por mais frágil que seja, degrada e destrói a harmonia do todo.

Assim pensa o poeta Pete Seeger, cujo verso, composto quando ele escutou o canto da baleia, diz: “Se conseguirmos salvar nossos cantores do mar talvez tenhamos chance tu e eu”.


*Valdir Izidoro Silveira

Engenheiro, especialista em Biologia do Solo e Mestre em Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)



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