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Do Blog Cidadania & Cultura
Com a taxa de desemprego de 7% no primeiro trimestre, a menor da história para o período, o chamado desperdício da mão de obra também está em seus menores níveis. A taxa de subutilização da força de trabalho foi de 15,9% no primeiro trimestre, a segunda menor da série da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2012. Só fica acima dos 15,6% de 2014, antes da recessão de 2015 e 2016.
A taxa indica a parcela de trabalhadores subutilizados frente à força de trabalho ampliada do país, que soma a força de trabalho (quem está trabalhando ou em busca de vaga) com a força de trabalho potencial. O grupo de trabalhadores subutilizados reúne desempregados, pessoas que trabalham menos horas do que gostariam e trabalhadores na força de trabalho potencial, que podem buscar posição e não estar disponíveis ou nem procuram por acreditar não ter chances de conseguir a vaga, por exemplo.
A taxa de subutilização é uma medida mais ampla e traz outras perspectivas sobre o que ocorre no mercado de trabalho. São pessoas que poderiam estar alocadas de maneira mais eficiente na economia.
O comportamento dessas medidas de subutilização acompanha o da taxa de desemprego. Com mercado aquecido, medidas de subutilização estão perto das mínimas. Mas ainda são pessoas que poderiam ser usadas de maneira mais produtiva para a atividade econômica, mas não estão por série de fatores.
Apesar do momento positivo do emprego, o economista da LCA 4Intelligence Bruno Imaizumi aponta que as outras faces do mercado de trabalho observadas nos dados sobre trabalhadores subutilizados permitem ver que há mais espaço para melhorias.
A taxa de subutilização inclui todos os trabalhadores desse grupo. Mas há também medidas intermediárias. No primeiro trimestre, o indicador que somava os desempregados e aqueles que trabalhavam menos horas do que gostariam estava em 11,1%, a menor para o período e pouco acima do piso de 10,6% da série histórica.
Há também um indicador que soma desempregados, quem trabalha menos horas que gostaria e aqueles em desalento – que desistiram da busca por uma vaga por não terem esperança de conseguir, seja porque não se acham qualificados, seja porque não veem chances de vagas no local onde vivem, por exemplo. Essa taxa estava em 13,9%, a segunda menor para um primeiro trimestre da série. Todas elas, no entanto, encontram- se em dois dígitos.
“O desemprego está caindo e as taxas alternativas [de subutilização] também recuam, mas apontam um nível elevado na comparação com a taxa de desocupação. É uma mão de obra que podia estar contribuindo para o mercado”, diz Imaizumi.
Em números absolutos, o grupo de trabalhadores subutilizados somava 18,463 milhões de pessoas – frente a uma população ocupada de 102,5 milhões. Desse total de 18,463 milhões, 7,714 milhões eram pessoas que estavam ativamente em busca de trabalho. Os restantes 10,749 milhões eram trabalhadores que estavam ocupados, mas por menos horas do que gostariam (4,552 milhões), ou estavam na força de trabalho potencial (6,197 milhões).
A força potencial reúne os chamados desalentados (3,228 milhões) – que desistiram de buscar trabalho por acreditarem que não têm chances de conseguir – e trabalhadores que não procuram de forma ativa, mas estariam disponíveis ou procuram, mas não estariam aptos a trabalhar naquele momento (2,969 milhões).
Na avaliação de Bruno Imaizumi, iniciativas fora da esfera macroeconômica poderiam ajudar a reduzir essa mão de obra desperdiçada. Parte desse grupo é formada por pessoas, especialmente mulheres, que estão dedicadas a cuidados com a casa ou com família – crianças ou idosos.
“Creches e locais de apoio para idosos poderiam liberar o tempo dessas pessoas, que dessa forma teriam como se inserir no mercado de trabalho”, nota.
Entre os indicadores de subutilização da força de trabalho, o único que não está nos menores níveis é o que considera o desalento individualmente. No primeiro trimestre de 2025, 2,8% das pessoas na força de trabalho estavam em situação de desalento, quase o dobro da menor taxa para um primeiro trimestre, que foi de 1,5% em 2014.
Neste caso, apontam os economistas, o movimento é influenciado pelas mudanças nas relações de trabalho trazidas pelo covid-19. “O desalento caiu consideravelmente desde a pandemia [quando se aproximou dos 6%], mas a queda não se dá na mesma velocidade que as outras taxas. É possível fazer um paralelo com a taxa de participação, que em vários países não recuperou o nível pré-pandemia”, diz Valério.
Permanência fora do mercado de trabalho daqueles perto da idade da aposentadoria, percepção de que a economia se encontra pior do que a realidade e expansão dos programas sociais do governo são algumas das hipóteses citadas para explicar essa situação.
“Houve mudança estrutural no mercado no pós-pandemia, uma transformação das relações de trabalho, e parte dos trabalhadores não deve mais voltar”, afirma o economista da LCA 4Intelligence.
Fonte: Iso Sendacz
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