terça-feira, 3 de junho de 2014

O que está por trás do SIND-UFMA?


Professor Cristiano Capovilla da UFMA
Por Cristiano Capovilla*

Cerca de quatrocentos professores da Universidade Federal do Maranhão manifestaram sua concordância com a criação do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Maranhão, SIND-UFMA, no último dia 29 em São Luís. Professores do Bacanga e de todos os campi do continente, ativos e aposentados, foram unânimes em reconhecer a importância desse novo sindicato. Não deve passar despercebido o fato de que, dos quase quatrocentos professores, cerca de cento e oitenta foram ou são filiados da antiga associação que representava os professores, a APRUMA. Mas por que tantos filiados da seção sindical do ANDES resolveram apoiar o novo sindicato?
 
Talvez possamos encontrar nos textos que se propunham a defender a associação contra o SIND-UFMA partes da resposta. Lá estão escritos, em tom inquisitorial, que os fundadores do novo sindicato ousaram disputar e “perder duas eleições” e “em duas oportunidades não ter conseguido sequer organizar uma chapa”. Ora, desde quando filiados cometem algum erro em querer disputar a direção de uma associação bancada, inclusive financeiramente, por estes mesmos associados? Essa estúpida “acusação” só acontece porque eleição e democracia são raras na APRUMA. A associação existe desde o final da década de setenta do século passado e poucas vezes ocorreram disputas por sua direção. Neste século, as únicas disputas foram protagonizadas justamente por esses filiados que agora desistiram de tentar debater o “aparelho partidário”. O resultado é fácil de observar: nas últimas eleições, exatamente o que as notas acusam de não terem a participação dos que agora fundaram o SIND-UFMA, a chapa única da APRUMA obteve míseros 193 votos de um total de 1.165 filiados!
 
Também podemos encontrar parte da resposta da deserção dos professores da APRUMA no esvaziamento dos seus fóruns internos. Burocráticos, partidarizados, raivosos, esses fóruns constrangem as opiniões divergentes através de um policiamento político, procurando de todas as formas e por qualquer meio imprimir na UFMA o que já foi decidido por uma burocracia sindical nacional, uma vez que a associação é somente uma “seção sindical” do aparelho nacional. É a famigerada política trotskista do “sindicato como correia de transmissão do partido”. Quem discorda ou ousa debater qualquer questão fora da pauta definida alhures, é logo taxado de “pelego”, “chapa branca”, “traidor” e é posto na condição de inimigo, responsabilizado por eventuais fracassos da categoria.  O sistema, o governo, a reitoria, os “pelegos” são culpados, menos a direção da associação. Ora, nada mais cômodo e infantil que atribuir aos outros a culpa pelos nossos fracassos!
           
Entretanto, a maior de todas as causas do esvaziamento da APRUMA e da ascensão do SIND-UFMA não é uma questão ideológica, mas fundamentalmente prática. Diz respeito à finalidade do sindicato na atual conjuntura. O debate ideológico como motor exclusivo do sindicalismo, tal qual proposto pelo partidarismo da APRUMA, está completamente fora do contexto. É justamente esse apego indefectível a um universalismo abstrato, que coloca de modo imutável às últimas questões do sistema de dominação, tentando reproduzir na universidade um jacobinismo esquerdista, a causa do fracasso prático desta ideologia. Se for verdade que permanece um “traço centralizador e autoritário na nossa universidade”, então parece que não podemos excluir a própria APRUMA deste conjunto, uma vez que reproduz em ações aquilo que pretende negar no discurso. O autoritarismo que se quer negar, mas que se faz presente, mesmo depois de negado, permanece igual, apenas com o sinal trocado.
 
Acreditamos que, embora os professores universitários sempre possam ser convocados a tirarem as últimas consequências de tudo, ainda assim, não achamos que o papel de profetas e pregadores dos destinos da história lhes caia bem. Pensamos que aqueles que lideram um movimento político sindical devem ter consciência da tensão entre as suas próprias pretensões e a realidade na qual se encontram. O sindicato também necessita do sentido para o factível, o possível, o correto aqui e agora. Portanto, essas são algumas das causas que levaram vários professores até então filiados a APRUMA e tantos outros que nunca haviam aderido, a procurarem novos caminhos na construção de um movimento docente de qualidade, com conteúdo propositivo e fundamentalmente prático, para sugerir rumos nestes difíceis dias pelos quais passamos. É isso, sem mais nem menos, o que está por trás da criação do SIND-UFMA.
 
*Cristiano Capovilla: Professor de Filosofia do COLUN-UFMA e Secretário Geral do SIND-UFMA.
            

Um comentário:

  1. Parabéns, Capovilla, pelo texto esclarecedor. Mas, como fica então a unicidade sindical? Dois sindicatos representando a mesma base?

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