João Paulo II e Walesa pacto pelo poder e contra o regime |
Laurindo Lalo Leal Filho, do site Carta Maior:
Anuncia-se a vinda de Lech Walesa ao Brasil. Fará uma palestra em São Paulo no dia 9 de agosto dentro do ciclo “Fronteiras do Pensamento”, promovido por uma entidade chamada Casa do Saber.
O ex-lider sindical e ex-presidente da Polônia foi comparado nos anos 1980 ao então sindicalista Luis Inácio Lula da Silva. Tanto o aproximaram que o brasileiro chegou a visitá-lo na época. Lembro da decepção de Lula ao comentar, na volta, as limitações políticas do polonês, nada mais do que um anti-comunista católico extremado.
Walesa fez dobradinha com João Paulo II ajudando a derrubar o regime na Polônia para depois se tornar, em 1990, seu presidente, eleito pelo voto direto. Em 1995 perdeu a reeleição por muito pouco mas, em 2000, foi derrotado fragorosamente, não obtendo nem 1% dos votos.
No apogeu, Walesa fundou o Solidarnosc (Solidariedade), uma coalizão sindical com força de partido político. No Brasil era comum vermos carros com adesivos da agremiação tida para certos setores da esquerda como referência de luta.
Muitos dos integrantes desses grupos podem ser vistos hoje em programas de televisão ou assinando colunas na mídia comercial defendendo, convictamente, posições conservadoras.
A estridência com que se manifestavam em épocas passadas não cessou. Continuam enfáticos, só que agora na defesa dos interesses daqueles que lhes pagam para exercer esse papel.
Situações críticas, econômicas e políticas, são o caldo de cultura ideal para o alastramento das chamadas “posições libertárias” que, no fundo, nada mais são do que representações simbólicas do individualismo absoluto, tão ao gosto dos neoliberais.
Governos levados ao poder por esperanças de dias melhores para grandes massas, ao traí-las abrem caminho para o ceticismo. Mas como poder não deixa vácuo, seu espaço é logo preenchido por forças opostas àquelas cujas bandeiras tornaram-se desacreditadas.
Basta ver os resultados das eleições regionais realizadas na Espanha em meio às manifestações de rua. A vitória do Partido Popular era mais do que previsível diante do descrédito a que chegou o PSOE e a falta de alternativas orgânicas mais à esquerda.
O grito ouvido nas praças espanholas “Que no, que no, que no nos representam” dirigido aos políticos e aos partidos pode sintetizar o ânimo dos que estão por lá. Mas proporcionalmente são poucos em relação a todos que votam. A maioria acaba fazendo uma escolha, no caso a mais conservadora. O grito libertário, como se vê, acaba levando água para o moinho da reação.
No entanto, não é necessário ser sempre assim. Outros gritos ouvidos na Argentina nos anos 2001/2002 para “Que se vayan todos”, não eram muito diferentes dos entoados agora na Espanha.
Ainda que a duras penas, depois de presidentes que mal esquentavam a cadeira principal da Casa Rosada, os argentinos perceberam que fora de algum tipo de marco institucional não haveria saída.
Desse beco é que surgiu o governo de Nestor Kirchner com respaldo popular para reestruturar a dívida externa, enfrentar a crise e sair dela com sucesso suficiente para eleger sua sucessora.
Se caminho semelhante não for vislumbrado pelas forças de esquerda na Espanha as manifestações de hoje servirão apenas para aprofundar ainda mais as políticas neoliberais desenvolvidas pelo PSOE ao arrepio de suas origens socialistas.
Os limites impostos pelos bancos e pelas organizações financeiras multilaterais aos Estados nacionais são estreitos. Se politicamente é necessário um forte apoio político-partidário, ou seja uma via institucional, do ponto de vista econômico rupturas são imprescindíveis.
A melhor hipótese seria a canalização da energia das praças espanholas para a sustentação de uma política capaz de enfrentar a tirania rentista, preservando o que ainda resta do Estado de Bem-Estar Social.
A refundação do PSOE ou o fortalecimento das organizações mais à esquerda são as únicas alternativas capazes de dar à voz das ruas alguma conseqüência efetivamente transformadora.
Caso contrário reviveremos a história polonesa, com a entrega do Estado aos conservadores, apoiados por muitos dos que hoje gritam contra tudo e contra todos nas praças espanholas.
O ex-lider sindical e ex-presidente da Polônia foi comparado nos anos 1980 ao então sindicalista Luis Inácio Lula da Silva. Tanto o aproximaram que o brasileiro chegou a visitá-lo na época. Lembro da decepção de Lula ao comentar, na volta, as limitações políticas do polonês, nada mais do que um anti-comunista católico extremado.
Walesa fez dobradinha com João Paulo II ajudando a derrubar o regime na Polônia para depois se tornar, em 1990, seu presidente, eleito pelo voto direto. Em 1995 perdeu a reeleição por muito pouco mas, em 2000, foi derrotado fragorosamente, não obtendo nem 1% dos votos.
No apogeu, Walesa fundou o Solidarnosc (Solidariedade), uma coalizão sindical com força de partido político. No Brasil era comum vermos carros com adesivos da agremiação tida para certos setores da esquerda como referência de luta.
Muitos dos integrantes desses grupos podem ser vistos hoje em programas de televisão ou assinando colunas na mídia comercial defendendo, convictamente, posições conservadoras.
A estridência com que se manifestavam em épocas passadas não cessou. Continuam enfáticos, só que agora na defesa dos interesses daqueles que lhes pagam para exercer esse papel.
Situações críticas, econômicas e políticas, são o caldo de cultura ideal para o alastramento das chamadas “posições libertárias” que, no fundo, nada mais são do que representações simbólicas do individualismo absoluto, tão ao gosto dos neoliberais.
Governos levados ao poder por esperanças de dias melhores para grandes massas, ao traí-las abrem caminho para o ceticismo. Mas como poder não deixa vácuo, seu espaço é logo preenchido por forças opostas àquelas cujas bandeiras tornaram-se desacreditadas.
Basta ver os resultados das eleições regionais realizadas na Espanha em meio às manifestações de rua. A vitória do Partido Popular era mais do que previsível diante do descrédito a que chegou o PSOE e a falta de alternativas orgânicas mais à esquerda.
O grito ouvido nas praças espanholas “Que no, que no, que no nos representam” dirigido aos políticos e aos partidos pode sintetizar o ânimo dos que estão por lá. Mas proporcionalmente são poucos em relação a todos que votam. A maioria acaba fazendo uma escolha, no caso a mais conservadora. O grito libertário, como se vê, acaba levando água para o moinho da reação.
No entanto, não é necessário ser sempre assim. Outros gritos ouvidos na Argentina nos anos 2001/2002 para “Que se vayan todos”, não eram muito diferentes dos entoados agora na Espanha.
Ainda que a duras penas, depois de presidentes que mal esquentavam a cadeira principal da Casa Rosada, os argentinos perceberam que fora de algum tipo de marco institucional não haveria saída.
Desse beco é que surgiu o governo de Nestor Kirchner com respaldo popular para reestruturar a dívida externa, enfrentar a crise e sair dela com sucesso suficiente para eleger sua sucessora.
Se caminho semelhante não for vislumbrado pelas forças de esquerda na Espanha as manifestações de hoje servirão apenas para aprofundar ainda mais as políticas neoliberais desenvolvidas pelo PSOE ao arrepio de suas origens socialistas.
Os limites impostos pelos bancos e pelas organizações financeiras multilaterais aos Estados nacionais são estreitos. Se politicamente é necessário um forte apoio político-partidário, ou seja uma via institucional, do ponto de vista econômico rupturas são imprescindíveis.
A melhor hipótese seria a canalização da energia das praças espanholas para a sustentação de uma política capaz de enfrentar a tirania rentista, preservando o que ainda resta do Estado de Bem-Estar Social.
A refundação do PSOE ou o fortalecimento das organizações mais à esquerda são as únicas alternativas capazes de dar à voz das ruas alguma conseqüência efetivamente transformadora.
Caso contrário reviveremos a história polonesa, com a entrega do Estado aos conservadores, apoiados por muitos dos que hoje gritam contra tudo e contra todos nas praças espanholas.
*Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.
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