quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Quais são nossas ideias para adiar o fim da arte?


O martírio de Nossa Senhora do Brasil (2019)
Shila Joaquim (Ribeirão Preto, SP – 1965)
Acrílica sobre tela, 70 x 50 cm
Foto: Isabella Matheus

No Sesc Piracicaba, 15ª Bienal Naïfs do Brasil, intitulada "Ideias para adiar o fim da arte", reflete sobre as narrativas que constroem a história brasileira, propõe atenção à visão periférica e um olhar não generalista para os artistas populares; assista ao vídeo

Entre obras que retratam festas e tradições populares, pinturas que expõem a violência policial, expressões de um feminismo crescente, cenas cotidianas dos interiores do Brasil e retratos da degradação ambiental brasileira, a Bienal Naïfs do Brasil 2020 abriu as portas de sua exposição presencial. A mostra teria início em agosto no Sesc Piracicaba, mas foi adiada por causa da pandemia, e agora segue em paralelo com a programação digital até julho de 2021. 

Com curadoria de Ana Avelar e Renata Felinto, esta edição da Bienal (saiba mais) é intitulada Ideias para adiar o fim da arte e busca reunir as ideias contidas nos livros de dois pensadores que são fundamentais no campo da cultura: Ailton Krenak – com Ideias para adiar o fim do mundo – e Arthur Danto – com Após o fim da arte. A arte contemporânea e os limites da história.  

“Acredito que a quantidade de pessoas diferentes na exposição já anuncia a nossa intenção de esgarçar os limites que categorizam as produções de artes visuais no hoje. Então, basta que pensemos um pouco em como é que as pautas de grupos não brancos ou grupos não masculinos têm sido pautadas ao longo da história e notadamente no início do séc XXI. Elas têm sido chamadas de pautas de grupos identitários, como se ser homem branco não fosse também uma identidade”, conta a curadora Renata Felinto.

A Bienal Naïfs deste ano buscou sair desse lugar, explica ela: “Se pensarmos na ‘pauta negra’; eu sou uma mulher negra, mas eu não sou minha própria pauta, entende? Então, com a exposição nós estamos tentando de certa forma humanizar e trazer essas várias abordagens para o campo da existência, que também é uma resistência na medida em que essas pessoas todas continuam a produzir a partir de seus próprios critérios independente do que o sistema da arte contemporânea dirá que elas devem ou não fazer”.

A agente de cultura e lazer do Sesc Piracicaba, Margarete Regina Chiarella, vai de acordo. Ela explica que muito se tem a ideia de artistas naïf como pessoas ingênuas, mas não é esse o caso: “São artistas que narram suas histórias, seu entorno, o que está acontecendo na sua cidade, no país e no mundo. Hoje, podemos considerá-los como os grandes delatores de tudo que está acontecendo no Brasil.”

Como explica Ana Candida Avelar, esta edição da Bienal Naïfs também busca homenagear as mulheres (artistas e teóricas). Por isso, parte de Ana Mae Barbosa e Lélia Coelho Frota como referências na curadoria, e convida Carmela Pereira, Leda Catunda, Raquel Trindade e Sonia Gomes para dialogar com a exposição. “Olhar para o trabalho delas nos faz perceber como saíram das realidades mais diversas para estar nos lugares onde estão, nos faz notar que esses e essas outras artistas estão percorrendo caminhos semelhantes e possuem esse espaço já aberto tanto por iniciativas como a do Sesc, quanto por figuras como essas artistas”, diz Ana Barbosa

arte!brasileiros visitou a exposição e conversou com suas curadoras e com a agente de Cultura e Lazer do Sesc Piracicaba Margarete Regina Chiarella. Assista ao vídeo completo:

Além da exposição presencial, a organização da Bienal Naïfs promoveu uma série de iniciativas digitais, como rodas de conversa e conteúdos educativos, que permitem ao público que se aproxime deste universo mesmo cumprindo isolamento social e que se estenderão até julho de 2021. Dentre as atividades, desenvolveram oficinas artistas autodidatas, para que aprendessem a fotografar suas obras – e assim acessar outros espaços expositivos mais facilmente – e a elaborar portfólios – necessários às seleções de mostras nacionais e internacionais. Dado o feedback positivo, as oficinas devem ser retomadas no próximo ano, com grupos maiores, ainda no formato digital, afirma Margarete Chiarella. 

Esse tipo de iniciativa visa uma ação maior do que a realização de um evento. Por isso, o trabalho com os artistas populares vai muito além do período da Bienal Naïfs. Como pontua Margarete, a secretaria funciona de forma permanente, mantendo contato com os artistas ao longo do ano por email. “Existe um canal de muita proximidade com esses artistas, onde eles relatam onde estão expondo, o tipo de trabalho que estão fazendo, os espaços que conquistaram, as dificuldades que vem enfrentando etc.”, explica. “Essa proximidade para o Sesc é bem importante, porque conseguimos perceber que não podemos generalizar, como um artista naïf, na realidade é ‘o’ artista naïf – que tem uma identidade própria, está inserido num espaço, fala de uma determinada cultura local, então eles tem individualidades e especificidades que a gente busca valorizar”, explica. Assim, veem o evento do Sesc Piracicaba não como um fim, mas um caminho, que permita a esses artistas ampliar suas vozes e criar novas conexões, oportunidades e caminhos.  

Serviço

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Entre em contato com a secretaria da Bienal Naïfs: bienalnaifs@piracicaba.sescsp.org.br

Fonte: Arte Brasileiros

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