segunda-feira, 15 de abril de 2013

Quem é mãe?



Sharon, Tomás e Clecy. Arquivo pessoal.
Texto de Sharon Caleffi com colaboração de Carolina Pombo.
Minha mãe é Clecy Teresinha Caleffi, trabalha em uma loja de autopeças, mora em Erechim, Rio Grande do Sul, tem três filhas e um neto. Eu sou mãe do Tomás Caleffi Brusamarello, 3 anos, aluno do CMEI Madre Paulina, que mora comigo em Pato Branco, Paraná.
A mãe da minha mãe é Helena Moro, agricultora, mora numa propriedade rural em Três Arroios, Rio Grande do Sul. Tem 9 filhos, 18 netos e um bisneto. A outra mãe da minha mãe era, na verdade, tia dela, se chamava Joana Pieniak, irmã de minha avó. Minha mãe foi morar com a tia Joana desde novinha, lá por um ano e pouco de idade. Quando chegou na idade escolar, ela voltou a morar com meus avós, porque a escola era mais perto da casa deles. Mas nas férias e finais de semana ela sempre voltava pra casa da tia Joana e do tio Francisco. Tia Joana faleceu antes de eu nascer, não a conheci, não a chamei de vó. Mas a relação entre ela e minha mãe tinha o afeto e a intensidade de uma relação de mãe e filha
Quando a gente está começando a aprender gramática, na escola, e nos apresentam os substantivos, eles podem ser concretos ou abstratos. A princípio, “concreto” é o que a gente pode tocar, cheirar, sentir. “Pedra”, “fogo”, “água”, “mãe”. E pra mim, mãe era uma coisa muito concreta mesmo, era a Clecy, que era a mãe mais bonita que eu conhecia, gostava de ler, trabalhava vendendo jóias, fazia uma delícia de estrogonofe e uma nega maluca maravilhosa e não gostava muito de bagunça. Principalmente nos armários. Minha mãe, concretíssima.
Mas pra minha mãe… “mãe” já não era um substantivo tão concreto assim… as relações que ela tinha com a minha avó e a tia Joana eram muito parecidas, difíceis de separar. A relação familiar deles, a princípio de sobrinha e tios, ganhou complexidade e longitude, se tornou completamente diferente. Eles não eram só os cuidadores, só os responsáveis pela alimentação e higiene da sobrinha. Eram uma família. O tio Francisco era tão pai da minha mãe quanto o meu avô, Feliciano.
E então, os pais. Meu pai é Rubem Antonio Caleffi, tem uma confeitaria, mora em Boa Vista, Roraima. Tem três filhas e um neto. O pai do meu filho é o Rodrigo Palhano Brusamarello, mecânico de automóveis, mora comigo e com meu filho. Tem alguma língua em que pai e mãe não sejam termos separados? O português é uma língua complicada, eu tenho inveja do inglês onde a gente pode usar “parents” para nos referirmos a pai e mãe como iguais que são. Pai e mãe é tudo igual, em algumas famílias, e, cada dia mais, são papéis bem parecidos, nas responsabilidades, nos direitos, nas tarefas.
O que existe nessa relação entre duas pessoas que os torna mãe e filho? O cuidado? O tempo? O que é mãe? O que é filho? São coisas concretas, como a gente aprende na terceira série?
Acho que não, acho que mãe é substantivo abstrato. Porque mãe não é um substantivo para uma pessoa, é um marcador de relação (isso sim, um termo muito abstrato) que se tem com ela. A única condição que, talvez, delimite com certeza o termo é “ser reconhecida como mãe por um filho”, ou seja, que alguém se reconheça filho dessa mãe. É possível ser mãe, por exemplo, dos filhos de outros relacionamentos do companheiro ou da companheira, mesmo que estes não a reconheçam como mãe? É possível existir mãe em outros tipos de relações, não familiares? Uma babá pode ser mãe da criança que cuida? Quem vai dizer que sim? Que não? Alguém de fora dessa relação pode dizer isso? Eu posso dar a alguém o nome “mãe”? Eu posso retirar esse nome de alguém?
E pai, é assim também? É, pai também é abstrato.
A gente só pode resumir dizendo que quem é mãe sabe que é. E que quem é filho sabe quem é, ou quem são, suas mães. Definir mãe, sem deixar nada de fora, é bem mais difícil…
Sharon Caleffi é mãe do Tomás e escreve no blog Quitandinha.
O FemMaterna é um grupo de discussão sobre maternidade com uma proposta feminista. Se quiser participar, basta pedir solicitação na página do grupo. Participe também no facebook.


FemMaterna

Somos mães e feministas, buscando educar noss@s filh@s de maneira libertária. Buscamos construir com eles um mundo que acolha a diversidade e que questione desigualdades, preconceitos e estereótipos.

Fonte: Reproduzido do Blog Blogueiras Feminista

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