Em meio século de domínio o
Complexo Oligárquico de Curupu construiu um vasto campo minado. Terreno no qual
derrota-lo e evitar o posterior retorno ao leme do Estado exige lutar contra
uma série de mazelas já conhecidas, uma miríade de manobras já esperadas e,
principalmente, estar preparado para desarmar artefatos cujo tempo e espaço no
qual serão usados é “segredo de estado”. Portanto, é árdua a tarefa a que se
propõe o campo de oposição no Maranhão.
Pra começo de conversa, é
preciso conhecer a oligarquia e o seu funcionamento, conhecer o espaço social
maranhense profundamente reproduzido por ela nessa quadra histórica, ter noção
dos tentáculos estendidos por todo o território nacional e, além disso,
suspeitar da existência de grandes estoques (em paraísos ultramarinos) de tudo
que foi extorquido do povo nessa cruel relação de produção que mistura,
contraditoriamente, aspectos feudais e neoliberais merecedores da dedicação dos
alunos da escola econômica e social do saudoso Inácio Rangel. Grife-se que, no
Maranhão essa dualidade se expressa de forma mais saliente.
A última e mais longeva
oligarquia do Brasil tem como figura central um Coronel mor, posto ocupado pelo
ex-presidente José Sarney desde 1965 quando desbancou Vitorino Freire. Seu
discurso de posse, que pode ser assistido em filme do cineasta Glauber Rocha,
não perdeu o conteúdo. O rosário de misérias ali relatadas enquanto crítica ao
Vitorinismo: casas miseráveis, hospitais infectos, vítimas da fome ou da
tuberculose. Permanece atual. O Maranhão parou no tempo, só mudaram os atores
que na realidade hodierna são os filhos e netos daqueles que estrelaram o
triste curta-metragem da posse daquele que afirmava em slogan de campanha que
“seu voto é sua lei...”. Assertiva que, extraindo o complemento aqui oculto,
felizmente continua valendo e dará ao nosso estado uma nova lei e um novo rumo.
O organograma seria parecido
com o que segue: O coronel-mor assessorado pelo núcleo central da família,
conforme descreve figurativamente o deputado Domingos Dutra (Pai, Filhos e
Espírito Santo), mantem uma extensa rede de sub-coroneis distribuídos por todas
as regiões do Estado. Cada sub-coronel, é bom que se diga, com as mais
diferenciadas formações e ocupações (fazendeiros, médicos, juristas, militares
etc.) utiliza os métodos mais “convincentes” para manter a população do seu
feudo encurralada e transferir dividendos, não só eleitorais, ao comando
central. Em troca, os já ditos “cobertores da lei”.
O sistema oligárquico foi reestruturado
e dotado de tecnologia de ponta, em especial, no quesito da aparelhagem
midiática. Em contrapartida, na relação com o povo maranhense, manteve o lema
central da oligarquia sucedida que se ancorava na frase atribuída a Getúlio
Vargas, mas costumeiramente repetida por Vitorino: - “Aos amigos, os favores da
lei; aos inimigos, os rigores da lei”. Ao longo de cinco décadas e utilizando a
maquina estatal aperfeiçoou o modelo anterior e fez penetrar suas raízes,
também, na subjetividade do povo: modificou costumes; adquiriu laços culturais;
criou modismos, enredos, toadas e melôs.
Em municípios que, segundo o
Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento (PNUD), ostentam os piores
Índices de Desenvolvimento Humano do País é possível ouvir dos defensores da
oligarquia, em meio a sonoras gargalhadas, frases como: escravizam, mas não
deixam morrer de fome; podem até desviar recursos do estado, mas fazem algumas
obras; cuidam bem daqueles que os seguem.
O que nos alenta é que esse
ácido caldo de cultura, no qual se dissolvem desde as vítimas da mortalidade
infantil até os condenados a permanecerem analfabetos e morrerem bem antes que
seus contemporâneos dos demais estados, também gera a resistência, a
organização popular e a revolta de amplas camadas do povo que já não suportam as
condições em que são mantidas. Daí as pesquisa que têm apontado nos últimos
meses que mais de 56% da população anseia por democracia e novas lideranças no
governo. Os gonçalvinos querem mandar a oligarquia para as páginas da história.
O sinal de que grandes
mudanças devem estar próximas se dá, conforme Lenin, quando “os de cima não
mais conseguem governar como antes e os de baixo já não aceitam mais ser
governados como antes”. No entanto, para que se dê o salto de qualidade e a
liberdade seja conquistada torna-se necessário fortalecer os laços de unidade
entre todas as forças que desejam e lutam pelo fim do domínio oligárquico.
Quaisquer posições vacilantes poriam em risco esse resultado, pois o adversário
é altamente astuto. Repito, é árdua a tarefa a que se propõe o campo de
oposição no Maranhão, mas levando-se em conta a ampla vontade popular e sendo
vigilante ás artimanhas da oligarquia, está à vista a luz no fim do túnel.
OBS: A 1ª foto, foi postada pelo blog como ilustração.
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