Já se tornou um ritual para mim, após chegar do trabalho, verificar os e-mails que recebo dos leitores do blog (quando os recebo – rs) e também os comentários dos posts (esses um pouco mais freqüentes). Antes do banho, da cerva, da ‘bóia’, do meu filminho preferido e do preparo dos posts pela madruga afora, o meu primeiro compromisso é sentar à frente do computer e me interagir com a galera. E graças a uma dessas interações nasceu esse post. Explico melhor: certa noite, vi em minha caixa de mensagens eletrônicas o recado de uma leitora pedindo que fizesse uma resenha sobre o livro “Tráfico de Órgãos no Brasil – O Que a Máfia Não Quer Que Você Saiba”, do analista de sistemas Paulo Airton Pavessi.
Juro que fui instigado pelo assunto, chegando ao ponto de ficar pesquisando na Net por mais de duas horas, me esquecendo do banho, da bóia e Cia. E posso garantir que não me arrependi. No dia seguinte fiz o download da obra de Pavessi e comecei a ler as mais de 400 páginas. Durante o dia colocava em ordem as minhas leituras da ‘listinha’ e a noite mergulhava de cabeça no polêmico livro.
Para que a galera possa entender a importância da obra, é pertinente frisar que Pavessi decidiu escrevê-la após ter juntado provas de que o seu filho, Paulo Pavessi, 10 anos, foi vítima de uma máfia de tráfico de órgãos formada por médicos de um conhecido hospital mineiro.
Tudo começou quando a criança caiu da grade do playground do prédio onde morava em Poços de Caldas, no sul de Minas, em abril de 2000. Levado para o hospital Pedro Sanches e depois transferido para a Santa Casa, Paulinho acabaria tendo a morte confirmada e com isso a família tomou a decisão de autorizar a retirada de órgãos. Ocorre que o procedimento, que é pago pelo SUS, foi cobrado da família! Ao questionar a conta de R$ 11 mil, o pai começou a investigar as cirurgias do filho e reuniu dezenas de provas de que a criança teve o tratamento negligenciado e os órgãos retirados e vendidos por médicos que atuavam em uma central de transplantes clandestina. E mais, os órgãos foram extraídos com a criança ainda viva, já que segundo o pai, nenhum outro exame mais apurado foi feito, para constatar a morte de seu filho.
A mesma Santa Casa de Misericórdia de Poços de Caldas, um dos vários hospitais do país credenciados para a realização de transplantes, também seria o palco de um ato macabro em 2001 – um ano após a morte suspeita de Paulinho – quando o pedreiro José Domingos de Carvalho, 38 anos, teve o tratamento abandonado, causando a sua morte e consequentemente a retirada e venda ilegal dos seus órgãos. Os quatro médicos envolvidos nesse caso, foram condenados a penas de sete a oito anos de prisão, mas conseguiram recorrer e agora estão em liberdade. Quer mais? Ok, lá vai: eles continuam a trabalhar normalmente. Segundo o Conselho Regional de Medicina, as condenações não são suficientes para a cassação dos registros profissionais. Putz, putz e mil vezes putzzzzzzzzzzzz!!!!!!
O juiz Narciso Alvarenga Monteiro de Castro que condenou os médicos envolvidos na morte do pedreiro, concorda com o pai de Paulinho no que se refere a retirada dos órgãos da criança ainda em vida. O magistrado disse em entrevista recente: “Eles sabiam que a criança estava viva. Eles retiraram os órgãos do garoto enquanto ele ainda estava vivo. A tese apresentada pela defesa não me convenceu. Eles tinham plena consciência da ilicitude do ato. O único exame de arteriografia feito no Hospital Pedro Sanches e apresentado por eles à Justiça mostra, claramente, que havia circulação de sangue no cérebro do garoto o que comprova que ele não tinha tido morte encefálica”, enfatizou o juiz.
Após pesquisar muito nas redes sociais fiquei sabendo que as investigações sobre o caso já duram 14 anos e que deu origem a outros sete inquéritos. Quanto aos sete médicos acusados de terem atendido Paulinho e depois retirado os seus órgãos nunca foram julgados. A Santa Casa de Misericórdia de Poços de Caldas, por sua vez, perdeu o credenciamento para realizar transplantes de órgãos desde 2002.
Cara, a leitura do livro é instigante. O autor mergulha o leitor no mundo sombrio do tráfico de órgãos, mostrando todas as nuances, todos os detalhes desse mercado ilegal que, infelizmente, predomina no Brasil. È como se você estivesse no lugar daquele pai que além de ter perdido o seu filho, passou a comer o pão que o diabo amassou por querer, apenas apurar a verdade.
Na obra você toma conhecimento do drama vivido por Pavessi durante esses 14 anos, período em que passou a receber ameaças constantes de morte, mas mesmo assim, não desistiu de levar o caso adiante. Ele afirma que as ameaças foram tantas que ele teve de sair do Brasil temendo pela sua segurança e de seus familiares, obrigando-o a pedir asilo na Europa.
Descreve ainda que ao terminar de escrever “Tráfico de Órgãos no Brasil – O Que a Máfia Não Quer Que Você Saiba”, procurou uma editora e enviou parte do livro para que eles avaliassem a possibilidade de publicá-lo. A história teria sido aprovada imediatamente e Pavessi informado pelos executivos da editora que o livro iria ‘sair’, de fato. No decorrer do período de negociação a obra ficou pronta e o contrato foi assinado. Na fase de edição da obra, Pavessi foi informado que o departamento jurídico havia barrado a publicação, temendo uma enxurrada de processos. Foi então, que ele teve a idéia de tornar a sua obra publica, liberando-a para downloads em seu blog.
Cara, o livro de Pavessi não poupa ninguém. Uma leitura que me surpreendeu pela coragem daquele pai que passei a admirar. Mesmo após ter sido processado por calúnia e injúria, quando ainda estava no Brasil, Paulo Pavesi traz denúncias que vão desde atendentes dos hospitais em Poços de Caldas, a policiais, políticos, procuradores e juízes. Uma leitura que lhe surpreende a cada página virtual.
Logo no início da obra, ele relata da necessidade de sair do Brasil e pedir asilo na Itália por causa das ameaças de morte pesadas que vinha recebendo. Explica ainda o desgaste sofrido por sua família ao longo desses 14 anos, mas enfatiza que faria tudo de novo.
Em alguns capítulos, o autor denuncia abertamente os erros nas investigações e as pressões políticas sofridas para impedir a punição dos médicos envolvidos. Mesmo assim, ele conta que conseguiu pressionar deputados para a criação da CPI do Tráfico de Órgãos, na Câmara, que reuniu em 2004 diversos casos semelhantes no País. Todos os pedidos de indiciamento de médicos foram arquivados. O Ministério da Saúde descredenciou o Hospital Pedro Sanches para procedimentos do SUS e suspendeu transplantes na cidade. O mais grave: atestou que a central MG Sul Transplantes era clandestina. Pavesi detalha em seu livro o procedimento de listas paralelas, cobradas dos pacientes. Ele escreve em certo trecho: “As listas paralelas eram completamente ilegais. Já os pacientes de Álvaro [Ianhez, um dos coordenadores] não passavam por esta fila e recebiam órgãos mediante uma ‘doação’ em dinheiro. Tudo registrado nos livros como sendo algo legalizado. Estávamos diante de um caso de trafico de órgãos humanos e isto explicava o assassinato de Paulinho”, enfatiza Pavessi.
Deu pra sentir o peso da obra? Recomendo e recomendo. Linguagem fácil e fluída que faz o leitor se prender da primeira a última página, até mesmo para aqueles que como eu, não são adeptos da chamada leitura digital.
Leiam e principalmente divulguem. Anotem os links onde poderão fazer os downloads de “Tráfico de Órgãos no Brasil – O Que a Máfia Não Quer Que Você Saiba”:
Download gratuito
Versão Kindle (paga)
http://www.amazon.com.br/Trafico-Orgaos-Brasil-Paulo-Pavessi-ebook/dp/B00HSMIB40/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1389524149&sr=8-1&http://www.amazon.com.br/Trafico-Orgaos-Brasil-Paulo-Pavessi-ebook/dp/B00HSMIB40/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1389524149&sr=8-1&
Fonte: Livros e Opinião
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