As redes sociais e a internet livre têm servido como contraponto à hegemonia das grandes corporações midiáticas e como canais eficientes de propaganda e mobilização política, muito aproveitados pelas organizações de esquerda e movimentos sociais, historicamente à margem dos sistemas de comunicação.
E, como tudo tem muitos lados, também têm servido como ferramentas de auto-organização do que há de mais reacionário, preconceituoso, ou mesmo, lunático. Aqueles setores de opinião que existiam escondidos, intimidados, sem publicidade, no interior de algumas residências brasileiras, agora se encontram, trocam opiniões e rancores, organizam-se.
Atrás das telas de seus computadores e tablets, cidadãos considerados pacatos assumem seu lado violento, desvelam suas opiniões retrógradas e, pouco a pouco, começam também a ganhar coragem para sair às ruas. Dia desses fui vítima de um cidadão desses, que me abordou no trânsito com palavras de baixo calão motivado por um adesivo “Dilma coração valente” em meu carro. Cena que se repete, com mais ou menos recheios, Brasil afora.
Muito bem, e o que nós da esquerda esperávamos? Que a internet seria uma revolução informacional somente a nosso favor? Que a ascensão política de setores progressistas e populares no continente seria o nosso corolário a la Fukuyama, o final feliz da história? Que os jovens do movimento popular promoveriam escrachos em frente às casas e apartamentos de torturadores e isso não geraria sentimentos de rancor e desejos de revanche do lado de lá?
O que está acontecendo agora é o esperado. A mesma rede que nos ajuda a divulgar ideias organiza e divulga todos os matizes. É preciso superar a surpresa (não deveria ter sido surpreendente para ninguém) e organizar a batalha de ideias em outro patamar. As coisas estão ficando mais francas e o direito à fala é amplamente franqueado, diga-se a besteira que quiser. É claro que a direita tem vantagens, pois além das redes possui os grandes veículos de comunicação, que os abastecem de escândalos e boatos. E é claro que também isso não deveria nos surpreender. O que é surpreendente (ou nem tanto) é os três governos populares de Lula e Dilma não terem dado nenhum passo para rever os monopólios privados e realizar a regulação econômica do setor. O choro agora é livre, mas não resolverá nossos problemas. É preciso fazer o que não foi feito, apesar do novo congresso, ainda pior do que todos os outros.
E organizar a batalha de ideias em outro patamar requer, em minha modesta opinião, não aceitar recuos. Aos gritos de “vai pra Cuba” e “seu comunista”, não é aceitável que nos acovardemos com o já conhecido “veja bem, o PT não é comunista, o Brasil tem livre mercado, bancos privados etc.”. De fato o PT não é comunista e quem afirma tal absurdo só pode estar mal informado, delirante ou com má fé. Porém nós do PCdoB somos sim comunistas e estamos aqui para defender nossas ideias e não para tergiversar.
O debate está nas ruas. Então vamos discutir com o povo! Sim, somos comunistas. E por que somos? Porque o capitalismo promove as guerras de agressão e alimenta a indústria armamentista. Nós, comunistas, defendemos a paz em detrimento da guerra. Porque o capitalismo naturaliza a pobreza e a desigualdade com o discurso do mérito, quando na verdade a miséria, o desemprego e o desespero de milhões são a garantia dos lucros exorbitantes dos grandes capitalistas. Nós, comunistas, somos defensores de uma sociedade sem patrões e sem lucros, onde o trabalho e a produção são voltados para o bem-estar de toda a sociedade.
“Vocês, comunistas, são a favor de uma ditadura, a ditadura do proletariado!”. O Estado é um aparato de dominação. No capitalismo o Estado está a favor do sistema (mesmo que administrado por partidos de esquerda), garantindo a propriedade privada dos meios de produção e a regulação da economia e do mercado, quando necessário. A “ditadura do proletariado” nada mais é que o Estado gerido pela e para a classe trabalhadora. As formas que esse Estado deverá assumir são social e historicamente determinadas, não há um modelo a seguir.
“Mas Cuba é uma ditadura!”. Cuba não é uma ditadura. Cuba tem um sistema político diferente do nosso e profundamente democrático. Os membros do partido e das instâncias do poder de Estado passam pelo crivo popular em eleições estruturadas bairro a bairro, cidade a cidade, sem patrocínios e interferência de empresas e, por isso, sem o espetáculo midiático a que estamos acostumados. Em Cuba a saúde e a educação são universais, não há analfabetismo e o ensino superior é de livre acesso. Não há filas em hospitais e postos de saúde, não há mortes por falta de atendimento. Não há crianças dormindo na rua nem idosos desamparados. “Mas Cuba é muito pobre, os cubanos são miseráveis!”. Sim, Cuba é um país pobre. E o principal motivo é o bloqueio econômico promovido pelos EUA e condenado, ano após ano, por praticamente todos os países do mundo. Mas mesmo sendo pobre, presta a seus filhos e filhas os serviços essenciais à dignidade e ao crescimento humano. “Então você quer transformar o Brasil em uma nova Cuba?” O Brasil jamais será uma nova Cuba. Sob o socialismo, o Brasil será uma nação economicamente pujante e feliz, pois o bem- estar do povo estará sempre em primeiro lugar.
Defendemos a atual etapa progressista liderada pelo Partido dos Trabalhadores porque acreditamos que o desenvolvimento econômico, científico e tecnológico é fundamental à construção de uma grande nação. Não há socialismo que triunfe sem indústria, sem agricultura, sem energia e sem tecnologia. Não há povo que se firme e que desenvolva livremente sua cultura sendo alvo da exploração de outros. Por isso defendemos o programa de desenvolvimento em curso e desejamos que seja aprofundado. Defendemos a paz e acreditamos no multilateralismo como promotor das boas relações entre os Estados, por isso defendemos a política externa altiva e soberana dos governos Lula e Dilma. Não admitimos nenhum retrocesso em relação aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Não toleramos o desmonte do nosso parque industrial perpetrado pelas políticas fiscais neoliberais, pois que gera desemprego e dependência externa. Não aceitamos o desmonte e a humilhação das Forças Armadas realizado pelos governos tucanos, pois temos consciência de que um país com tantas riquezas precisa ter condições de dissuadir os inimigos externos.
Sim, somos comunistas. Defendemos o legado histórico da URSS e suas conquistas. Defendemos a brava Cuba socialista. Somos patriotas e afirmamos o direito dos povos à soberania e a autodeterminação. E estamos dispostos a lutar por isso, como tantos outros que nos antecederam. Pois, como dissera Olga Benário, lutamos pelo justo, pelo bom, pelo melhor do mundo.
*Mestra em sociologia, cientista social e doutoranda em geografia
Fonte: Site Vermelho
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