3º Encontro de Mulheres na Tecnologia. Goiânia/GO, 2015. Foto de Alessandra Gomes no Facebook. |
Texto de Jussara Oliveira para as Blogueiras Feministas.
Estava ansiosa para participar do 3º Encontro de Mulheres na Tecnologia. Pois, atualmente é o único que conheço que abarca de forma abrangente a participação de mulheres na tecnologia. A maior parte de eventos do tipo são promovidos por uma empresa em específico ou apenas focam em ferramentas ou linguagens.
Este tipo de espaço é importante para nos fortalecermos, termos contato com outras mulheres e trocarmos experiências. Pois além de sermos poucas profissionais na área, enfrentamos diversas dificuldades na participação de eventos, tanto com relação a invisibilidade de nosso trabalho, como pelo sexismo que envolve os ambientes de trabalho e destes eventos.
Poucas mulheres são chamadas para palestrar em eventos de tecnologia e o ambiente preconceituoso também nos afasta, o que faz parecer que nossa participação na área ainda é menor e muito menos significativa do que realmente é. E, a realização de um evento apenas com mulheres palestrantes, tratando de diversos assuntos e diversas mulheres participantes, demonstra onde o problema realmente está.
É grande a importância de ver mulheres palestrando e falando sobre suas dificuldades e sucessos para incentivar que outras mulheres e meninas se engajem na área, essa representatividade fez falta quando busquei minha formação e iniciei a minha carreira, por exemplo. Esses eventos nos fazem lembrar que não estamos sozinhas, e que além dos nossos problemas serem compartilhados por outras mulheres, é possível alcançar nossos objetivos.
Alguns pontos ainda merecem atenção, como algumas falas estereotipadas ou que tinham um certo determinismo biológico de algumas palestrantes. Entre os participantes homens surgiram também algumas brincadeiras e piadinhas que incomodaram bastante a mim e outras participantes. Fora uma situação pós-evento que expôs uma das palestrantes por conta de uma apresentação sobre estratégias de segurança.
Segue agora uma entrevista com Andressa Martins*, fundadora e conselheira do grupo Mulheres na Tecnologia que trabalhou na divulgação do evento deste ano.
1. Como e quando surgiu o grupo? Quem pode fazer parte?
O grupo surgiu de um bate-papo entre 3 mulheres na comunidade de usuários Debian em Goiás. Pensava-se em fazer um evento semelhante aos que são feitos pelo grupo The Debian Women Project. Neste momento começou-se a questionar a pouca existência de mulheres nos eventos de TI e nas áreas de Tecnologia da Informação. No sentido de ampliar as discussões foi criado o grupo e uma lista de discussão no Google Groups, inicialmente restrita ao estado de Goiás e posteriormente com uma dimensão nacional, contando hoje com representantes ativas de outros estados.
Todas as mulheres que trabalham ou querem trabalhar ou são formadas na área são bem-vindas. Temos uma lista de discussão, onde todas podem contribuir com ideias, discussões e propor atividades; as redes sociais do grupo e o site também estão à disposição para divulgar o talento das meninas. Basta usar nossos canais:
Twitter: @mulheresti
Site: mulheresnatecnologia.org
E-mail: contato@mulheresnatecnologia.org
2. Quando surgiu a ideia de criar um encontro? Quais foram os desafios?
A idéia de criar um evento é anterior a criação do grupo, conforme citado acima, mas sempre fizemos reuniões/encontros de formação local. Com o crescimento da participação de profissionais de outros estados e a vontade e cobrança de ter um encontro com todas, decidimos fazer um encontro nacional. As dificuldades de logística são relacionadas a criação de qualquer encontro, a única diferença foi encontrar o público. Inicialmente, tínhamos contatos de poucas mulheres atuantes na área, começamos criando mini-encontros dentro de eventos como Latinoware, Campus Party e FISL, onde conseguimos mais contato e visibilidade para o grupo, e em 2013, realizamos o nosso primeiro encontro nacional de mulheres na tecnologia.
3. Como foi essa edição com relação aos encontros passados? Foi possível observar mudanças com relação a participação do público, temas abordados, atitude das palestrantes, etc.?
Na primeira edição, tínhamos o objetivo de aproximar as mulheres integrantes do grupo, favorecer uma troca de experiências “ao vivo”, proporcionando o networking já que a grande maioria só se conhecia através da troca de e-mails. Na segunda edição, discutimos o empreendedorismo das mulheres na tecnologia, as atividades eram voltadas para despertar nas profissionais a importância de se reconhecerem no mercado e tomarem decisões em sua vida profissional e pessoal.
Nesta terceira edição, os temas abordados tiveram relação principal com a temática escolhida: carreira e formação. Para isso procuramos trazer projetos de viés educativo para crianças e adolescentes, pensando na formação das futuras gerações da área de TI e a carreira da mulher que já atua na área. Pudemos notar que o número de participantes do sexo masculino cresceu, provavelmente pelo trabalho de divulgação que fizemos em parceria com a faculdade que sediou o evento, somada a dificuldade com as maiores instituições de ensino locais que estavam de greve.
Sobre a programação, foram 4 atividades simultâneas, tratando de assuntos variados, com palestras conceituais e técnicas. Notamos que o público este ano deu preferência a trilha de tendências que ficou lotada o tempo todo e os temas foram: IoT, mobile e robótica. De novidade, trouxemos o tema ‘Mulheres nos Games’ com a palestrante Ariane Nathaly do Women Up Games que teve boa repercusão entre as participantes, e a Hora do Código com os Gênios de Turing, que durante 2 horas fizeram uma oficina de programação com crianças do ensino fundamental e a participação dos alunos da Escola Estadual Professor Sebastião França (Goiânia-GO), além de alguns filhos de professoras que estavam presentes.
4. O que acreditam que é preciso melhorar para ampliar a participação das mulheres em eventos de tecnologia?
As principais mudanças devem ser feitas na sociedade de forma a eliminar o preconceito e na percepção das meninas/mulheres mostrando-as que são capazes. Podemos dizer que o grupo /MNT – Mulheres na Tecnologia atua incentivando mulheres do grupo a palestrarem em eventos, através de workshops online, bate-papos informais, divulgação de eventos na lista e no site e artigos técnicos. Talvez os eventos devam criar espaços de discussão para mulheres para que possam interagir entre si e também propor um código de conduta para os participantes, palestrantes e até patrocinadores para garantir, ou ao menos causar uma reflexão nos participantes sobre o respeito para com as mulheres e outras minorias nos eventos.
5. Vocês enxergam o evento ou o grupo como iniciativas feministas?
Sim, somos um grupo feminista, e acreditamos que com com a equidade de oportunidades no mercado de trabalho, com a liberdade de conhecimento será mais fácil alcançar os objetivos do grupo.
6. Tem algum recado para dar para as profissionais de tecnologia?
Conheçam e troquem experiências com Mulheres que atuam ou atuaram na área de Tecnologia da Informação, participem de projetos de inclusão digital, participe de grupos de Desenvolvimento de Software Livre ou as mais variadas comunidades de Tecnologia, acreditem em seu potencial.
*Andressa Martins é webdesigner, graduada em Marketing e Propaganda, atualmente cursando o quinto período de Engenharia Civil. Possui experiência como webdesigner e instrutora de informática e tecnologias livres. Trabalha atualmente na empresa Siscon Consultoria de Sistemas (Empresa de Engenharia Civil), onde atende as demandas da empresa relacionada à Tecnologia da Informação.
Fonte: Blogueiras Feministas
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