Por Luciano Siqueira*
Pouco mais de um mês antes da posse, que ocorreria no primeiro dia de 2003, o presidente Lula foi recebido em almoço na Prefeitura do Recife pelo então prefeito João Paulo, eu e alguns integrantes de nossa equipe de governo.
Ao final, num canto da mesa, conversamos um instante – o presidente, o senador Cristovam Buarque, o ex-ministro Amando Monteiro Filho e eu – acerca das condições em que Fernando Henrique Cardoso lhe entregava o governo, com o país submetido a enormes dificuldades econômicas e financeiras.
Principalmente o segundo período de FHC vinha marcado por um crescimento pífio da economia, bem abaixo da inflação, pela anemia de investimentos e pelo desemprego.
Como assinala Mauro Santayana, em artigo recente, citando dados do Banco Mundial, o PIB do Brasil, que era de 534 bilhões de dólares, em 1994, caiu para 504 bilhões de dólares, quando Fernando Henrique Cardoso deixou o governo, oito anos depois.
As reservas monetárias internacionais, no fundo do poço: de 31,746 bilhões de dólares, no final do governo Itamar Franco, cresceram em apenas algumas centenas de milhões de dólares por ano, para 37.832 bilhões de dólares (hoje, com todas as intempéries da crise global, somam 374 bilhões de dólares).
Lula só ouvia. Até que tomou a palavra:
- Vocês têm razão. Vou assumir o governo com o país falido. Mas, com todo respeito ao Paraguai e ao Haiti, o Brasil não é o Paraguai nem o Haiti, é uma das maiores economias do mundo. Por isso, preferirei ser chamado de medroso e vacilante, mas manterei a cautela e não darei um passo maior do que as pernas. Não quero passar à história como um De La Rua (ex-presidente Argentino), que tentou resolver tudo ao mesmo tempo e teve que renunciar.
Hoje, pouco mais de doze anos passados, muitas conquistas alcançadas, o País enfrenta gravíssima crise econômica e mais grave ainda crise política.
Uma vez mais se põe o desafio de dar um passo do tamanho das pernas, não mais do que isso. E o tamanho das pernas é mensurado pela correlação de forças, ou seja, pelas condições políticas concretas.
É possível vencer o ajuste fiscal e retomar o crescimento. Mas falta governabilidade.
A solução da crise, portanto, está na política.
E, dramaticamente, precisa se apoiar numa nova correlação de forças no Congresso Nacional, tendo a aliança com o PMDB como fator preponderante; e também na voz das ruas, momentaneamente dissonante e aquém da gravidade da situação.
Daí a distância entre o desejo e as possibilidades, dilema que se apresenta à presidenta Dilma diariamente.
Luciano Siqueira* - Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
Fonte: Porta Vermelho
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