domingo, 21 de julho de 2019

“Não tem que ter nada para esse cara”: isso pode dar impeachment



Por Alex Solnik*, para o Jornalistas pela Democracia 
Eu sempre tentei imaginar as barbaridades que Bolsonaro diz quando ninguém escuta, já que tudo o que já disse publicamente nunca se ouviu de um presidente da República.
  Ignorando que o microfone estava aberto, ele disse a Onix Lorenzoni, a seu lado, durante coletiva com a imprensa estrangeira, sexta-feira, a respeito do governador Flávio Dino:
  “Não tem que ter nada para esse cara”.
  Tudo nessa frase é antirrepublicano.
  “Esse cara” é governador do Maranhão, eleito pelos maranhenses e, portanto, deveria ser respeitado por todos que se submetem à democracia, principalmente pelo presidente da República.
  Não foi o caso. Bolsonaro o tratou como algum subalterno seu e não o representante de milhões de brasileiros que moram no Maranhão.
Ao ordenar “não tem que ter nada para esse cara” cometeu, além da ameaça, uma falácia. O governo federal não dá nada aos estados, apenas repassa os valores dos impostos arrecadados pelo fisco estadual, obtidos pela indústria, comércio e agricultura do estado. O que muitas vezes acontece é Brasília reter esses valores, deixando os governadores à míngua.
  Suas palavras que traduzem discriminação a um dos 27 estados da federação revelam claramente ameaça à existência da União, que é uma das razões para impeachment.
 Se essa ordem que deu ao seu ministro-chefe da Casa Civil se transformar em atos de governo – a constituição pune atos e não palavras -  ficará sujeito a isso, assim que o Congresso se desvencilhar da reforma. 

*Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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