Nesta semana, o presidente do Sampaio Corrêa, Sérgio Frota, concedeu uma longa entrevista ao programa Resenha, da Mirante News FM, com duração de quase uma hora. A intenção era esclarecer pontos sobre a transição para SAF e acalmar os ânimos da torcida. O resultado, no entanto, foi o oposto: a entrevista reacendeu críticas e expôs contradições que colocam mais em xeque a atual gestão.
Memórias seletivas e ataques pessoais
Logo nos primeiros 30 minutos, Frota se apoia em glórias passadas para justificar sua permanência no comando do clube. Entre os minutos 28:30 e 30:00, o presidente faz comentários sobre a vida pessoal de ex-jogadores, inclusive ídolos das conquistas do Sampaio com uma falta de respeito que já se tornou marca registrada. A tentativa de desqualificar figuras históricas do clube soa como estratégia para blindar sua própria imagem, ignorando o papel coletivo nas vitórias da Bolívia Querida.
Vídeo como cortina de fumaça
Durante a entrevista, a gestão atual solicitou a exibição de um vídeo antigo que mostra melhorias na estrutura do CT do clube. A intenção era clara: convencer a torcida e a imprensa de que há competência e compromisso com o futuro. Mas o conteúdo do vídeo revela apenas o mínimo de obrigação, longe de representar um projeto sólido de evolução. A tentativa de autopromoção escancarou ainda mais o distanciamento entre discurso e realidade.
Torcida organizada como alvo
O ponto mais controverso surge entre os minutos 45:30 e 47:00, quando Frota afirma que “as torcidas organizadas são o mal do futebol” por não gerarem receita. A declaração foi motivada, segundo ele, por episódios recentes envolvendo torcedores, incluindo relatos de comportamentos inadequados durante jogos, como cenas de teor sexual nas arquibancadas. Em seguida, tenta se retratar dizendo que “não são todas”, mas já havia feito uma acusação pública e virulenta contra uma das torcidas do Sampaio.
Essa visão é não apenas equivocada, mas perigosa. Torcida organizada é parte essencial da cultura de arquibancada, e sua presença é um dos motores de engajamento, identidade e até monetização do clube. Elas atraem jovens, criam atmosfera nos jogos e, em clubes democráticos, têm direito legítimo à voz, voto e até participação na gestão.
O papel da torcida na reconstrução
O Sampaio nasceu do povo e deve continuar sendo do povo. A torcida organizada não é inimiga da transparência, pelo contrário, é aliada na fiscalização, na cobrança e na construção de um clube mais justo. Em tempos de uma suposta transição para SAF, é fundamental que o torcedor não seja tratado como obstáculo, mas como protagonista.
A entrevista, longe de pacificar, escancarou o isolamento da gestão e reforçou a urgência de mudanças profundas no modelo de governança do clube. Como bem pontua o blog Conversa de Feira, “o que está em jogo não é apenas um mandato, mas o futuro de um clube centenário”.
*Jorge Antonio Carvalho - Oficial do Blog Conversa de Feira
Fonte: Mirante News

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