terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Camisinha, respeito, individualidade e violência sexual



Texto de Sara Joker*
Quantas mulheres conhecemos que já passaram por alguma violência inesperada? A pior de todas sempre é a de não ter voz de decisão quando o assunto é o seu corpo. O que faz um homem se sentir no direito de decidir se você deve ou não usar camisinha?  Sim, mulheres casadas ou que têm um relacionamento sério e monogâmico sempre ouvem a desculpa de que, já que somos exclusivos, você pode tomar pílula (ou já toma) e podemos tirar a camisinha de nossas vidas.
Sim, a contracepção, nesse momento passa a ser responsabilidade da mulher, além de ambos os lado correrem o risco de adquirir doenças. E não, gente, não estou desconfiando de infidelidade (mesmo sabendo que todo mundo pode ser infiel em algum momento da vida), estou desconfiando de vida sexual anterior, DSTs são difíceis de se descobrir, além da reinfecção de doenças como a Candidíase, que não tem nada a ver com vida sexual anterior pois não é apenas sexualmente transmissível.
O fato é que o amor não é medido por uso de camisinha, você não está duvidando do amor de seu parceiro por desejar usar camisinha, você não está desconfiando da fidelidade e da honestidade dele, você está apenas exercendo seu direito de escolha, o mesmo que terá de exercer ao decidir ser ou não mãe, se houver um incidente de falha de contraceptivo. E contraceptivos falham, tenho amigas que tiveram filhxs tomando pílula regularmente, conheço pessoas que foram filhxs de camisinhas estouradas, filhxs de tabelinha nem se fala, são os que mais existem nesse mundo!
Agora, falando da parte mais dolorosa do assunto, existem parceiros que forçam a barra para que o sexo aconteça sem camisinha, mesmo a contra gosto da parceira, isso é violência sexual, sim! Estamos falando de estupro. Qualquer tipo de sexo onde há coerção, psicológica, moral ou física, é estupro. Acredito que esse tipo de estupro deve ser o mais traumatizante, feito por quem amamos, dividimos a cama, confiamos para dormir ao nosso lado. Que tipo de ser humano é capaz de ignorar que sua companheira falou não e continuar a pressioná-la por sexo?
Conversar sobre o uso dos preservativos, argumentar para convencer sua parceira fora do momento do sexo não é o mesmo que forçar a barra para que aconteça sem preservativos quando já se está na cama, quase transando. Tudo na base da conversa pode ser resolvido com respeito e dignidade. Mesmo que depois de toda a argumentação, não tenha nenhum lado que ceda, que o relacionamento chegue até a um impasse graças a isso, mas é direito de ambos, é respeito, é prova de amor conversar e não forçar sua parceira a nada. Forçar a barra não é resolver problemas, só serve para aumentá-los.
Livro "50 Tons de Cinza" mostra um episódio onde o parceiro exige o uso de pílula e o não uso da camisinha. - Foto Divulgação
Livro “50 Tons de Cinza” mostra um episódio onde o parceiro exige o uso de pílula e o não uso da camisinha. – Foto Divulgação
Realmente, dessa vez, o assunto não é só a camisinha, é o respeito pela mulher como indivíduo, que tem todo o direito de decidir por si mesma sobre como quer lidar com seu corpo, o que deseja fazer sem ser forçada a nada, nunca! E forçar não é conversar e argumentar, forçar é coagir, é falar que “agora que começou tem que terminar” ou que “agora a gente faz sem e depois conversa sobre isso”, são violências psicológicas, umas mais floreadas, menos feias, mas que mulher não se sente violentada quando vê seu companheiro não aceitar sua condição pro sexo? Querendo que você faça do “jeito dele” sem conversa, sem argumentos, imposto e pronto!



*Sara Joker

Artista visual, quadrinista, atriz e cantora. Formada em licenciatura e bacharelado em Artes Visuais, pós graduada em Psicanálise. Nerd de humanas, adora RPG, quadrinhos, filmes cabeça, rock e livros. Se interessa por questões relacionadas as lutas pelos direitos das mulheres, negros e LGBTTs.



Um comentário:

  1. Boa tarde,
    Tive um relacionamento na qual pedi que meu companheiro fizesse o uso de caminha, falei por varias vezes e ele não ligou fez um gesto de que não se importava e continuou o ato, por ele ser muito pesado não consegui tirá-lo de cima de mim. Isso que causou uma gestação, na qual não poderia ser irresponsavel pois estou desempregada e tenho um filho do meu antigo casamento. Me sinto muito culpada por não ter gritado, brigado e ter sido coagida fazer algo que saberia que o minimo que poderia me causar era uma gravidez. Hj estou muito infeliz, desempregada, sem ter como me sustentar e sustentar meu fiho. Minha familia me julgou por eu ter sido irresponsavel. Agora estou sozinha sem ajuda de ninguem, com meu filho passando necessidades, gravida de outro e sem poder trabalhar.
    Como posso agir neste caso.

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