terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Artigo: Nota sobre Geoeconomia Verde.




Por Roberto César Cunha* e Carlos José Espíndola*

A segunda revolução industrial no século XIX, via a emersão da eletricidade, da química e do motor a combustão como novas trajetórias tecnológicas, direcionava o foco dos sistemas produtivos para a combinação do aumento da produção e da produtividade. Na agropecuária soma-se a revolução verde que foi responsável pela multiplicação de alimentos, “em proporções talvez equivalente ao do milagre da multiplicação dos peixes” (BUAINAIN, 2014). Entretanto, o progresso nos diferentes sistemas industriais e agroindustriais se fez em parte com o enorme esgotamento dos recursos naturais, que tiveram efeito sobre o meio ambiente e a sociedade. Nesse processo houve um desbalanceamento entre as três mais importantes esferas: econômica; social e ambiental - com o surgimento de doenças, alterações na qualidade da água, nas mudanças no clima regional, entre muitos outros. Hoje as políticas de desenvolvimento econômico devem levar em consideração a questão ambiental. Assim sendo, o capital natural é uma condição sine qua non nas agendas econômicas de diferentes países.

A inserção do meio ambiente na economia tem sua origem nos anos de 1970 devido à três fatores básicos: aumento da poluição em países desenvolvidos, principalmente, nos Estados Unidos da América e Japão; associação ao aumento no valor do petróleo entre os anos 1973 a 1979, o que instigou um debate sobre a viabilidade permanente dos recursos naturais não renováveis; e o relatório denominado “Os Limites do Crescimento”, que enfatizava se o crescimento da população e da economia se mantivessem, o meio ecológico não teria condições de continuar a suprir tamanha demanda de produção e consumo.

Esses três fatos contribuíram para que o sistema econômico começasse a levar em consideração a relação econômica com natureza. Com isso, surgiram conceitos como: economia ecológica e economia ambiental. Muitos anos mais tarde, destacou-se também, a economia verde. No entanto, alguns questionamentos permeiam estes conceitos: o que é economia ecológica, ambiental e verde? Quais as suas principais características? Existem diferenças entre elas? Quais são as diferenças? Há semelhanças? Quais? Que contribuição cada um destes conceitos pode trazer para o meio ambiente?

Dessa forma, em condensação, economia ecológica: tem suas motivações advindas da década de 1960, que por sua vez, foi a época em que a problemática ambiental começou a ganhar notoriedade no mundo. Compreende que a economia é apenas um subsistema dentro de outro sistema maior, que é a natureza, em palavras mais claras, determinismo ambiental com características indutivista. Uma linhagem teórica malthusiana, com perspectiva naturalista, santuarista e conservacionista. O progresso técnico é o responsável pelo desequilíbrio ambiental, especialmente, a grande indústria e a maquinaria, uma vez que, são os motores da degradação. Com isso, o aumento da produtividade geral dos fatores provoca desastres ambientais. Como saída, somente pelo decrescimento econômico e economia estacionária.

A Economia ambiental, surgida nos anos de 1970, se caracteriza, de modo geral, apenas pela ótica monetária. Vendo a economia um sistema superior, ou seja, possui forte inclinação a um determinismo econômico, com método dedutivo arcabouçado por modelagem matemática com objetivo de atribuir valores monetários aos recursos naturais. É embasada em teorias de economistas neoclássicos, tendo prisma naturalista, porém, preservacionista. O desenvolvimento tecnológico é um agente passivo na degradação da natureza, contudo, só é possível ter crescimento econômico e economia dinâmica através a valoração e preservação dos ativos ambientais.


A partir dos anos 1990, o conceito de economia verde foi lançado e propõe que o crescimento de emprego e renda deve ser impulsionado por: investimentos públicos e privados que reduzam as emissões de carbono e a poluição; uso de mecanismos que  aumentem a eficiência energética e  que impeçam a perda da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Para isso realizar-se, depende de três dimensões: (1) diminuição do uso de energia advindo de combustíveis fósseis e aumento do uso de energia provindo de fontes renováveis; (2) promoção do uso de produtos e serviços que provém da biodiversidade, dando enfoque para que sejam criadas escalas de valor direcionados aos produtos florestais e serviços ecossistêmicos; (3) incitação de técnicas e tecnologias capazes de diminuir as poluições e resíduos provenientes do processo produtivo, sobretudo, inovações tecnológicas de caráter comunitários para inclusão de populações tradicionais. Porém, tem especificidade do multiculturalismo, do pós-modernismo, desenvolvimento social local e da economia solidária. Menos mitigação e mais adaptação às condições sociais.

Como visto, esses três conceitos, são passíveis de críticas, entre elas: mantém a natureza como base da sociedade e assim apresenta um determinismo ambiental; estabelecem a superioridade da sociedade, o que isso reduz ao reducionismo ambiental; e/ou uma visão paroquial, escala “glocal”, ou seja, sem noção de conjunto e perda da escala nacional.

Diante disso, uma abordagem nova na qual, de forma propedêutica, chama-se de "Geoeconomia Verde", se forja em aproximações sucessivas por meio de mais de trinta anos de estudos geoeconômicos. E três fatores, dentre outros, são fundamentais para atender as transformações econômicas, sociais, geopolíticas e ambientais do mundo na alvorada do século XXI: o desenvolvimento tecnológico - que por sua natureza e ritmo gera; o resgate central da Geografia como necessidade para entender: as relações (sociais e institucionais) multifacetadas dos sistemas produtivos.

Desta forma, o desenvolvimento tecnológico, com seus paradigmas e trajetórias, uma vez que, trazem uma relação de incerteza, leva, sobretudo, o conhecimento impreterível dos territórios. E em virtude disso, os sistemas produtivos se forjam com produtividades altíssimas, porém não similares. E esses três fatores permitem um outro não menos importante: informacionalidade das coisas / comunicabilidade das coisas.

Contudo, a perspectiva maior nessa abordagem é entender as peculiaridades do ser humano a partir de suas atividades produtivas e do seu modo de fruição. Assim, sem a fé filosófica no poder que os conceitos têm de criar e destruir o mundo, ao aniquilar conceitos, aniquila-se a “cisão da vida”, acredita-se que só é possível ser conquistada uma geoeconomia verde através do mundo real, pelo emprego de meios reais. Ela não será um ato do pensamento e sim um fato histórico, condicionado por condições históricas, pelas condições da indústria, da agricultura, do comércio e serviços.

*Roberto César Cunha - Geógrafo, doutorando em Geografia







 *Carlos José Espíndola - Geógrafo, doutor em Geografia






FONTE: Geógrafo Roberto César Cunha

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