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Foto:Blog Construindo Resistencia |
A infância brasileira está sob ataque e o inimigo não se esconde mais. Ele dança, viraliza, monetiza e se disfarça de entretenimento. A recente denúncia feita pelo influenciador Felca, que expôs uma rede de perfis infantis com conteúdo de conotação sexual nas redes sociais, escancarou uma realidade que há tempos se desenha nos bastidores da internet: a adultização infantil como prática sistemática e lucrativa.
Com mais de 35 milhões de visualizações, o vídeo de Felca não apenas gerou indignação, mas também mobilizou o Ministério Público da Paraíba, que abriu investigação contra influenciadores como Hytalo Santos. O conteúdo, que envolvia crianças em situações de exposição indevida, foi removido, mas a pergunta que ficou foi: como chegamos até aqui?
Quando a infância vira algoritmo
A lógica das redes sociais é simples: o que engaja, permanece. E o que permanece, lucra. Crianças são colocadas diante das câmeras em vídeos com danças sensuais, falas adultizadas e comportamentos que imitam influenciadores adultos. O público? Milhões de seguidores, muitos deles adultos. O objetivo? Monetização.
Segundo o pesquisador Lucas Ruiz Balconi, em artigo publicado no jornal O Tempo, “a erotização precoce é impulsionada por algoritmos que recompensam conteúdos com alto engajamento, mesmo que envolvam crianças em situações inadequadas”.
Essa dinâmica revela uma falha estrutural: plataformas que se beneficiam da viralização de conteúdos sem filtros eficazes de proteção infantil. A autodeclaração de idade, por exemplo, permite que qualquer criança crie um perfil e acesse conteúdos impróprios. E pior: permite que adultos explorem essas crianças sob o disfarce de “gestão de carreira digital”.
Reação política: entre a urgência e a omissão
A repercussão do caso gerou uma onda legislativa. Mais de 30 projetos de lei foram apresentados na Câmara dos Deputados, propondo desde a criminalização da exploração digital infantil até multas milionárias para plataformas que não bloquearem conteúdos nocivos.
Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, a chamada “Lei Felca” propõe medidas como a exigência de documentos oficiais para criação de perfis infantis e a proibição da autodeclaração etária. Segundo reportagem de O Globo, o projeto “visa coibir a exposição de crianças em conteúdos que incentivem a sexualização precoce”.
Frentes parlamentares foram lançadas em diversas cidades, como Fortaleza, e a mobilização política parece finalmente reconhecer a gravidade do problema.
O silêncio das plataformas e o papel da sociedade
Enquanto o Estado se movimenta, as plataformas seguem em silêncio. Não há posicionamento oficial do TikTok, Instagram ou YouTube sobre os casos denunciados. A ausência de mecanismos eficazes de verificação de idade e de moderação de conteúdo infantil revela uma negligência que beira a cumplicidade.
A sociedade também precisa se olhar no espelho. A romantização da fama precoce, a busca por likes e a normalização da exposição infantil são sintomas de uma cultura que perdeu o senso de limite. Como aponta o portal Unolife, “a adultização infantil não é apenas uma questão digital, mas um reflexo de valores distorcidos que se perpetuam na vida real”.
Da denúncia à transformação
A denúncia de Felca foi um grito mas não pode ser o único. A adultização infantil na internet é um fenômeno que exige resposta coletiva, legislação firme e plataformas que assumam seu papel. Mais do que proteger a infância, é preciso resgatar o que ela significa: tempo de crescer sem pressa, sem palco, sem likes.
FONTE: O Globo, O TEMPO, Unolife e Jornal da Fronteira