quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Adultização Infantil na Internet: A Nova Face da Exploração Digital

Foto:Blog Construindo Resistencia

A infância brasileira está sob ataque e o inimigo não se esconde mais. Ele dança, viraliza, monetiza e se disfarça de entretenimento. A recente denúncia feita pelo influenciador Felca, que expôs uma rede de perfis infantis com conteúdo de conotação sexual nas redes sociais, escancarou uma realidade que há tempos se desenha nos bastidores da internet: a adultização infantil como prática sistemática e lucrativa.

Com mais de 35 milhões de visualizações, o vídeo de Felca não apenas gerou indignação, mas também mobilizou o Ministério Público da Paraíba, que abriu investigação contra influenciadores como Hytalo Santos. O conteúdo, que envolvia crianças em situações de exposição indevida, foi removido, mas a pergunta que ficou foi: como chegamos até aqui?

Quando a infância vira algoritmo

A lógica das redes sociais é simples: o que engaja, permanece. E o que permanece, lucra. Crianças são colocadas diante das câmeras em vídeos com danças sensuais, falas adultizadas e comportamentos que imitam influenciadores adultos. O público? Milhões de seguidores, muitos deles adultos. O objetivo? Monetização.

Segundo o pesquisador Lucas Ruiz Balconi, em artigo publicado no jornal O Tempo, “a erotização precoce é impulsionada por algoritmos que recompensam conteúdos com alto engajamento, mesmo que envolvam crianças em situações inadequadas”.

Essa dinâmica revela uma falha estrutural: plataformas que se beneficiam da viralização de conteúdos sem filtros eficazes de proteção infantil. A autodeclaração de idade, por exemplo, permite que qualquer criança crie um perfil e acesse conteúdos impróprios. E pior: permite que adultos explorem essas crianças sob o disfarce de “gestão de carreira digital”.

Reação política: entre a urgência e a omissão

A repercussão do caso gerou uma onda legislativa. Mais de 30 projetos de lei foram apresentados na Câmara dos Deputados, propondo desde a criminalização da exploração digital infantil até multas milionárias para plataformas que não bloquearem conteúdos nocivos.

Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, a chamada “Lei Felca” propõe medidas como a exigência de documentos oficiais para criação de perfis infantis e a proibição da autodeclaração etária. Segundo reportagem de O Globo, o projeto “visa coibir a exposição de crianças em conteúdos que incentivem a sexualização precoce”.

Frentes parlamentares foram lançadas em diversas cidades, como Fortaleza, e a mobilização política parece finalmente reconhecer a gravidade do problema.

O silêncio das plataformas e o papel da sociedade

Enquanto o Estado se movimenta, as plataformas seguem em silêncio. Não há posicionamento oficial do TikTok, Instagram ou YouTube sobre os casos denunciados. A ausência de mecanismos eficazes de verificação de idade e de moderação de conteúdo infantil revela uma negligência que beira a cumplicidade.

A sociedade também precisa se olhar no espelho. A romantização da fama precoce, a busca por likes e a normalização da exposição infantil são sintomas de uma cultura que perdeu o senso de limite. Como aponta o portal Unolife, “a adultização infantil não é apenas uma questão digital, mas um reflexo de valores distorcidos que se perpetuam na vida real”.

Da denúncia à transformação

A denúncia de Felca foi um grito mas não pode ser o único. A adultização infantil na internet é um fenômeno que exige resposta coletiva, legislação firme e plataformas que assumam seu papel. Mais do que proteger a infância, é preciso resgatar o que ela significa: tempo de crescer sem pressa, sem palco, sem likes.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Lixões no Maranhão: a política do descaso institucionalizado

Foto: Carlos Arte

Enquanto o mundo discute sustentabilidade, economia circular e justiça climática, 77 gestores municipais do Maranhão parecem viver em um universo paralelo, onde lixo não fede, não contamina e não mata. Ignoraram solenemente o chamado do Tribunal de Contas do Estado para prestar contas sobre suas políticas de resíduos sólidos. E não foi por falta de aviso: o prazo já havia sido prorrogado, a FAMEM pediu tempo, e mesmo assim, mais da metade dos municípios simplesmente não quis saber.

A pergunta que não cala: é ignorância, incompetência ou desdém? Porque o resultado é o mesmo, lixões a céu aberto, contaminando solo, água e ar, e transformando o Maranhão num retrato cruel da negligência ambiental.

Segundo o IBGE, o estado tem o pior índice de coleta de lixo do país, com apenas 69,8% de cobertura. Isso significa que milhões de maranhenses convivem com o lixo como parte do cotidiano, como se fosse normal viver cercado por vetores de doenças, fumaça tóxica e degradação ambiental.

E não é só o meio ambiente que sofre. A saúde pública está em colapso silencioso. Estudos mostram que a queima de resíduos libera gases tóxicos, aumentando casos de doenças respiratórias. A contaminação do solo e das águas subterrâneas ameaça diretamente o abastecimento de comunidades inteiras. Em Imperatriz, Pinheiro e Zé Doca, por exemplo, os lixões já provocaram perda de biodiversidade, erosão e riscos graves aos catadores que sobrevivem nesses locais.

A Lei nº 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, não é uma sugestão, é uma obrigação. E os gestores que ignoram essa legislação não estão apenas cometendo uma infração administrativa. Estão violando direitos humanos básicos, como o direito ao meio ambiente equilibrado e à saúde.

O que falta? Fiscalização mais dura? Multas exemplares? Ou será que falta vergonha na cara de quem deveria liderar a mudança?

No Conversa de Feira, não vamos normalizar o absurdo. Vamos cobrar, denunciar e expor. Porque lixo não é invisível e o descaso também não deveria ser.

Lista dos municípios que ainda não enviaram informações:

Ainda não responderam ao questionário: Afonso Cunha, Água Doce do Maranhão, Alto Alegre do Maranhão, Amarante do Maranhão, Araguanã, Arari, Bacabeira, Bacurituba, Benedito Leite, Bom Jesus das Selvas, Bom Lugar, Cachoeira Grande, Cedral, Central do Maranhão, Centro do Guilherme, Centro Novo do Maranhão, Chapadinha, Cidelândia, Codó, Conceição do Lago-Açu, Coroatá, Cururupu, Davinópolis, Esperantinópolis, Fortaleza dos Nogueiras, Fortuna, Governador Luiz Rocha, Governador Newton Bello, Governador Nunes Freire, Graça Aranha, Guimarães, Igarapé do Meio, Itaipava do Grajaú, Itapecuru Mirim, Junco do Maranhão, Lago do Junco, Lajeado Novo, Luís Domingues, Maracaçumé, Marajá do Sena, Mata Roma, Matões do Norte, Nova Iorque, Olinda Nova do Maranhão, Parnarama, Paulino Neves, Paulo Ramos, Penalva, Peri Mirim, Pindaré-Mirim, Pirapemas, Presidente Dutra, Presidente Juscelino, Ribamar Fiquene, Santa Rita, Santana do Maranhão, Santo Amaro do Maranhão, Senador Alexandre Costa, Senador La Rocque, Sítio Novo, Tasso Fragoso, Turiaçu, Turilândia, Vitória do Mearim e Zé Doca.

FONTE: TCE MA