segunda-feira, 20 de julho de 2015

Superação: conheça a trajetória da haitiana que cursa Direito e quer ser diplomata


A condição de vida dos imigrantes no alojamento
em Brasiléia não era nada legal. (Foto: João Fellet)

Há pouco menos de dois anos, a haitiana Nadine Talleis vivia em um alojamento improvisado paraimigrantes em um ginásio rodeado de lama, onde 1.300 pessoas dormiam em um espaço para 200 e dividiam dois banheiros. “Aquele foi o momento mais difícil desde que eu cheguei aqui”, conta ela. A multidão se aglomerava para pegar quentinhas e ela, que tem apenas 15% da visão, apenas esperava encolhida em um canto, torcendo para que sobrasse alguma comida.
Depois de dar uma entrevista para a BBC Brasil sobre a crise migratória no Acre naquele ano, Nadine pediu ajuda para deixar o alojamento, em Brasiléia, no Acre. Ela contava com a ajuda de voluntários e funcionários do abrigo para procurar emprego como telefonista ou massagista, funções de desempenhava antes de vir ao Brasil.
Nadine no abrigo no Acre (esq.) e atualmente,
no campus da Universidade Mauá, onde trabalha e cursa Direito.
 (Foto: João Fellet/ Paula Froes)

Nadine vivia no Haiti com seu avô, quem a criou desde a morte dos pais, até o terremoto que destruiu o país em 2010. Ela, então, cruzou a fronteira com a República Dominicana em busca de emprego e melhores condições de vida. “Eles tratam muito mal os haitianos lá”, lembra ela. Ela precisou deixar o país depois de gastar 30 mil pesos dominicanos (aproximadamente R$ 2.100) para regularizar a sua situação no país, o que não aconteceu.
Depois de ouvir que o nosso país era mais aberto a estrangeiros, Nadine gastou o que restou de suas economias para viajar até o Equador e, de lá, ir de ônibus até a fronteira do Brasil com o Peru. A haitiana sabia falar inglês e espanhol, além do francês e creole, que são as línguas oficiais do seu país. Mesmo sem saber falar português, ela chamou a atenção dos funcionários do alojamento em Brasiléia, que começaram a pedir ajuda a ela para facilitar a comunicação com os outros imigrantes.
A haitiana conta que quer ser diplomata e
 que está escrevendo um livro sobre sua história. (Foto: Paula Froes)

Até que um dos funcionários sugeriu que Nadine fosse para Brasília e fez contato com pessoas que poderiam ajudá-la e que vieram a se tornar sua “família adotiva”, como ela mesma define. Depois de alguns meses morando na casa da família na capital, a haitiana descobriu um interesse em prestar vestibular e foi aprovada no curso de Direito em uma universidade na cidade-satélite de Taguatinga, no Distrito Federal. “Foi o dia mais feliz da minha vida”, lembra.
Apesar de não ter como arcar com os custos da mensalidade, Nadine matriculou-se mesmo assim e teve ajuda da família adotiva para cursar o primeiro semestre. Depois disso ela conseguiu um emprego de auxiliar administrativo na própria faculdade, o que lhe rendeu uma bolsa integral para continuar o curso.
Não vou dizer que tenho tudo, mas estou feliz porque, apesar de todos os problemas, consegui encontrar o meu caminho.

Hoje, Nadine aluga um apartamento próximo à faculdade e já planeja os próximos passos paraquando se formar. A futura advogada diz que quer seguir a carreira diplomática e que pretende usar o dom que tem de se comunicar para ajudar o relacionamento entre países. “Eu gosto muito de paz, de tranquilidade, e acho que posso ajudar o mundo com esse dom” ela conta.
Antes de contribuir como diplomata, Nadine pretende lançar um livro em que conta sua história. Ela afirma que já começou a escrever a obra e que, se tudo ocorrer conforme ela planeja, termina no ano que vem.

Fonte: 4 Teen

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