segunda-feira, 23 de abril de 2012

Por que um gari precisa saber de "Zorra Total", novelas da Rede Globo e Michel Teló?


O concurso para gari no município paranaense de Cambé é uma prova de preconceito embrulhado em burocracia míope. Ao mesmo tempo em que exige do candidato ensino básico completo, cobra conhecimento de questões que parecem extraídas da pauta do "TV Fama". Afinal, por que um gari precisa saber de "Zorra Total", novelas da Rede Globo e Michel Teló?

Possivelmente, um técnico da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), responsável pela prova, acordou num dia daqueles: "Ai, como eu sou bandida!". E topou com outro no mesmo humor: "Ai, se eu te pego!". A prova, que poderia ser o Casseta & Planeta no auge, estava longe de ser fácil. Quem sabe de qual novela participou a cantora Paula Fernandes "antes de se tornar famosa"? Em sua defesa, a UTFPR declarou que, "em relação às questões que envolveram temas de determinada emissora televisiva, foram extraídas com base em reportagens publicadas junto a Revista Veja" [sic].

Ainda segundo comunicado da universidade, "as questões de atualidades têm por objetivo verificar se o candidato está informado sobre o que está acontecendo no momento, seja o assunto político, econômico, social ou cultural." Se esse é o horizonte dos examinadores, essa "atualidade" é de lascar. A prova é humilhante, ao reduzir a um apanhado estereotipado a avaliação da capacidade intelectual de candidatos que, se aprovados, ainda enfrentarão a indiferença.

Pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) divulgada em janeiro deste ano revelou que 25% dos funcionários que trabalham com limpeza em São Paulo sofrem algum tipo de discriminação. Entre os garis esse número chega a 42%. A queixa mais comum é que são "invisíveis" a maioria das pessoas. Uma realidade que o caso de Cambé contribui para perpetuar.

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