quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Uma história de luta das mulheres



Noivas do Cordeiro. Foto: documentário GNT.
Maria Senhorinha de Lima. Seu pecado foi enfrentar o conservadorismo da sociedade mineira do século XIX, e acreditar que podia ser livre para amar quem quisesse. O marido que os pais escolheram foi o francês Arthur Pierre, mas esse ela não queria não. Amor mesmo ela sentia por Chico Fernandes, com quem fugiu. O castigo? Excomunhão, a Igreja não ia aceitar um adultério fácil assim. Aliás, excomunhão até a quarta geração, que fique claro, pecado deve ser coisa que se herda.
Expulsa da cidade, Senhorinha e Chico foram morar num lugar mais afastado. Eu não sei se o Chico demorou muito para morrer, mas sei que os homens ao longo do século XX saiam da casa para procurar emprego nas indústrias. E as mulheres ficavam. Era uma casa de mulheres. Em determinada época chegou por lá o Pastor Anísio Pereira. E então as mulheres viraram as “noivas do cordeiro”. Só que a fé não ajudou em nada a superar a discriminação. Pelo contrário, foram todas taxadas de prostitutas, só podia ter envolvimento sexual com o tal pastor.
E aí não teve jeito, essas mulheres estavam acostumadas a conviver entre si. Uma ajudava a outra e era tudo coletivizado. O pastor foi embora, porque elas acreditaram que não precisavam dele pra ter fé, não. Elas podiam se virar sozinhas mesmo.
Hoje em dia, elas são mais de cem, trabalham na roça, organizam a casa, fazem de tudo. Todas lutam umas pelas outras (não foram poucos os homens invadiam a casa na madrugada, tentando estuprá-las). Com essa luta, em 2003 conseguiram transformar o lugar na primeira escola rural de informática em Minas Gerais. Até fizeram um site. E foi aí que elas ganharam fama. Todo mundo queria saber como viviam, quem eram, o que faziam. Com o movimento, elas começaram a ter fé que as coisas poderiam mudar, vencer essa história de preconceito e que elas não sofram mais tanta discriminação.
Vendo o documentário sobre essas mulheres, me impressionou a maneira como a casa se organiza. O trabalho é dividido entre todas, a cozinha é coletiva. É uma sociedade matriarcal e isso faz sim diferença. Fiquei lembrando das Brumas de Avalon e pensei como as coisas poderiam ser diferentes hoje.
Aliás, nessa segunda-feira pós-eleições, pensei cá com os meus botões: nós temos mesmo muita capacidade de mudar o mundo. E deve ser por isso que tantos homens insistem num machismo irracional. Deve ser por isso que o sistema capitalista reforça sempre a ideia que nossos corpos podem ser facilmente tratados como mercadorias. Deve ser por isso que o nosso sistema político se mantém tão excludente. Porque com todas as mulheres juntas, as coisas só podem acabar em revolução. E uma revolução feminista, bem diferente de tantas outras que já se passaram na nossa história. Como eu disse antes, o feminismo parece ser mesmo o movimento das batalhas cotidianas e a história das Noivas do Cordeiro é um exemplo de como várias dessas batalhas podem ser vencidas quando todas estão unidas e acreditam na própria liberdade.
Fonte: Reproduzido do Blog Blogueiras Feministas

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