Min. tucano Gilmar Mendes |
Para entender este misterioso encontro de Lula com Gilmar Mendes no
apartamento de Nelson Jobim, o novo escândalo denunciado pela revista
Veja com o único objetivo de atingir o ex-presidente da República e o
PT, uma verdadeira obsessão do seu proprietário, é preciso recuar um
pouco no tempo.
3 de setembro de 2008. A mesma revista denunciou que o mesmo Gilmar
Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, foi grampeado numa
conversa com um senador da República pela Agência Brasileira de
Inteligência, a Abin, então dirigida pelo delegado Paulo Lacerda.
E quem era o senador? Ninguém mais, ninguém menos do que Demóstenes
Torres, que era do DEM de Goiás, promovido pela revista em suas "páginas
amarelas" como caçador de corruptos, aquele mesmo que está depondo
agora na manhã desta terça-feira na CPI do Cachoeira, o "empresário de
jogos" que é seu amigo e parceiro nos negócios, como revelou a Operação
Monte Carlo, da Polícia Federal.
Em 2008, como agora, também se criou uma enorme crise em Brasília,
capaz de abalar os alicerces da República e ameaçar a independência
entre os poderes. Gilmar chegou a marchar ao lado de outros ministros do
STF até o Palácio do Planalto para "chamar o presidente Lula às falas".
Até hoje, o áudio do grampo não apareceu. A revista Veja nunca mais
tocou no assunto. O delegado Paulo Lacerda, da Polícia Federal, que
tinha comandado a prisão de PC Farias e a investigação que levou ao
impeachment de Fernando Collor, foi suspenso das suas funções e depois
perdeu o cargo, sendo obrigado a se exilar como adido policial da nossa
embaixada em Portugal.
Cachoeira e Demóstenes |
Lula terminou tranquilamente seu governo, após inúmeras outras crises
políticas que nasceram e morreram na imprensa, com mais de 80% de
aprovação popular, o maior índice já registrado por qualquer presidente
da República.
Gilmar é amigo de Demóstenes, que é amigo de Carlinhos Cachoeira, o
grande contraventor que é "fonte" das reportagens de Veja, a ponta de
lança do Instituto Millenium, que fornece munição para os demais
veículos vindos a reboque.
Podem variar os enredos e os personagens, mas o "modus-operandi" da
turma é sempre o mesmo. Conhecendo como conhece Gilmar Mendes e seus
amigos na imprensa, que sempre darão a versão dele sobre os fatos (ou
não fatos), o que não consigo entender é como Lula entrou nesta fria
aceitando um encontro secreto na casa do ex-ministro Nelson Jobim, amigo
de ambos.
Só estavam os três no encontro e, até agora, não se falou em
gravações de áudio ou vídeo, a especialidade da equipe de arapongas de
Cachoeira comandada por Jairo Martins, cujo nome também apareceu no
grampo sem áudio de 2008.
Lula e Jobim desmentiram a versão publicada pela Veja, segundo a qual
Gilmar Mendes teria sido "constrangido" pelo ex-presidente a adiar o
julgamento do mensalão, em troca de uma blindagem do ministro do STF na
CPI do Cachoeira.
Veja, umas das dirigentes do PIG |
Outro fato bastante estranho nesta história é que Gilmar Mendes tenha
levado um mês curtindo sua perplexidade antes de chamar os repórteres
da Veja, a quem disse, depois de "decodificar" os recados: "Fiquei
perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do
presidente Lula".
O ex-presidente só respondeu à reportagem da revista na noite de
segunda-feira, quando o assunto já havia tomado conta de todos os
noticiários desde sábado.
"Meu sentimento é de indignação", reagiu Lula, que confirmou ter
participado do encontro na casa de Jobim, mas qualificou de inverídica a
versão publicada pela revista Veja.
Tem certas coisas que a gente nunca vai saber como de fato aconteceram. Melhor seria, com certeza, se não tivessem acontecido.
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