terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A capitania hereditária do MA já deu até o que não teria de dar


Ana Clara Santos Sousa, 6, morreu
 sem acessar cuidados especializados
; no Maranhão, não há unidade
 de queimados
Por Fátima Oliveira*
 
Teoricamente, sociólogos dariam governantes comprometidos com a cidadania. A vida diz que não! É só relembrar os oito anos de governo de FHC e os 20 de Roseana Sarney no Maranhão. Ambos sociólogos.
 
A mídia e o governo Dilma tipificam de “crise” as cenas de banditismo que amedrontam o povo e acuam o governo no Maranhão. Discordo. Não há crise. Há exibição pública do gerenciamento habitual de um Estado à lá clã Sarney – como propriedade privada da família! O desmantelo não é de hoje e confirma a célebre frase que “Não há vazios na política”. Quando um governo não comparece, outros assumem o poder de mando.
 
Quem detém o poder de mando no momento é o crime organizado e entrincheirado, como disse Alberto Dines, na bastilha maranhense de Pedrinhas (“A ilha de felicidade chamada Maranhão”, 11.1.2013): cria do descontrole carcerário e da imoral terceirização dos serviços, que enche de reais as burras dos amigos, usurpando o direito de ir e vir na ilha de São Luís e matando inocentes. Como Roseana não é responsável? Como uma socióloga não sabe lidar com o sistema penitenciário? A Suécia já demonstrou como se fecham presídios!
 
A capitania hereditária do Maranhão já deu até o que teria de não dar: uma mártir da violência, Ana Clara Santos Sousa, 6, incendiada que morreu quase à míngua, sem acessar cuidados especializados. No Maranhão, não há unidade de queimados nem pra fazer um chá! As bravatas e lágrimas de natureza escorpiônica do senador e da governadora Sarney são de uma hipocrisia inominável.
 
O Palácio dos Leões é a casa paterna de Roseana – quando o pai foi eleito governador, ela estava com 12 anos (1966) –, onde, até hoje, usufrui benesses palacianas rodeada de mucamas e lacaios, que cuidam para que nada amue a “Branca”, apelido não à toa! Ser chamada de “Branca” no Maranhão, ainda muito marcado pelas relações escravocratas, possui o significado inequívoco de “sinhazinha”, cercada de mimos, até gastronômicos. Tem sido assim nos quatro mandatos da governadora.
 
A capitania hereditária do Maranhão já deu o que tinha de dar para os Sarney, hoje riquíssimos. O Maranhão está com parte de seu tecido social esgarçado e o povo sitiado porque eles permitem, via omissão.
 
Se restasse algum “senso de loção”, o pai deixaria que ela trocasse o repouso sexagenário na ilha de Curupu (Raposa, MA) para a ilha de Manhattan (Nova York, EUA), como ela deseja. Mas a vasilha do ter nunca enche, e a sede de poder é inesgotável: a família exige que ela volte para o Senado! É o tributo de gênero das mulheres que entraram na política “tendo como base o poder ancestral, especificamente o patriarcal” (Fátima Oliveira, “Em nome do pai… e do clã”, 2002).
 
No domingo passado, pai e filha publicaram dois artigos que parecem paridos da mesma pena, cuja tônica é a fuga da responsabilidade pelo caos, nos quais dizem que o “Maranhão nunca teve tradição de violência… O que se passou em Pedrinhas é ato de selvageria e barbárie” (“O Maranhão de verdade”, Roseana Sarney, “FSP”, 12.1.2014) e “O Maranhão nunca teve uma tradição de violência. Sempre fomos gente de paz… O Maranhão não merece o que aconteceu em Pedrinhas” (“A violência em seu labirinto”, José Sarney, “EMA”, 12.1.2014). Os crimes do latifúndio e a pistolagem persistem.
 
Ou seja, padre Antônio Vieira estava certo quando disse, em “Sermão da Quinta Dominga da Quaresma”, “No Maranhão a corte da mentira. O galante apólogo do diabo. O M de Maranhão. No Maranhão até o sol e os céus mentem”
 
Fonte: Viomundo

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