quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A "grande" Vale ja é favorita ao Oscar da vergonha


Pela primeira vez uma empresa brasileira concorre ao título inglório de pior empresa do mundo pelo "Public Eye People's", votação realizada desde 2000 pelas ONGs Greenpeace e Declaração de Berna, também conhecida como "Oscar da Vergonha". A Vale assumiu a liderança do pleito ontem - contava com 20,1 mil votos no início da noite. A escolha será realizada pela internet, no site , até quinta-feira. O resultado final deve ser divulgado durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, que começa hoje. 

A Vale tem cerca de mil votos a mais que o segundo lugar, a Tepco, maior empresa de energia do Japão, que opera as usinas nucleares de Fukushima. Também concorrem ao título o grupo bancário Barclays, a sul-coreana de eletrônicos Samsung, a suíça de agronegócio Syngenta e a mineradora Freeport, com sede nos EUA. A indicação da mineradora brasileira foi feita por um grupo de instituições sociais e ambientalistas formado pela Rede Justiça nos Trilhos, a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale, o International Rivers e a Amazon Watch.

No texto de apresentação das indicadas, a Vale é citada como uma empresa "com longa trajetória caracterizada por condições de trabalho desumanas, violações de direitos humanos e destruição do meio ambiente" em diversas partes do mundo. A empresa é lembrada por participar do consórcio responsável pela construção da usina de Belo Monte. Para os ambientalistas, um "empreendimento de US$ 17 bilhões planejado de forma autoritária, sem ouvir a população afetada e em desacordo com os direitos humanos e as leis ambientais".

A Vale é citada como responsável por 4% das emissões de gás carbônico em território brasileiro, e por usar em seus processos industriais 1,2 bilhão de litros de água, volume suficiente para abastecer uma cidade de 22 mil habitantes. As organizações que indicaram a empresa também a criticam por ter despejado em rios e oceanos, em 2009, 114 milhões de metros cúbicos de dejetos industriais, e por ter respondido, no mesmo ano, a pelo menos 111 processos em função de problemas relacionados à sua atuação.

Por meio de sua assessoria, a Vale informou que não comentaria a indicação. Argumentou que a contestação aos pontos de crítica das organizações estaria em seu último relatório de sustentabilidade, referente às práticas do ano de 2010. No documento, a empresa admite consumir 1,2 bilhão de litros de água, mas diz reutilizar 79% deste volume. A empresa afirma ter planos e metas "para alcançar padrões de excelência em relação à gestão de gases de efeito estufa" e também uma política de redução de resíduos.

Ameaça à área de transição de biomas:

De acordo com Danilo Chammas, advogado da ONG Justiça nos Trilhos, a política de resposta aos impactos das atividades da empresa tem sido insuficiente:

- Muitas vezes a resposta é realizada de forma errada ou com outra finalidade, focada em marketing social. Na medida em que cresce a crítica, as pessoas percebem que a empresa não é perfeita. Sabemos que a mineração é necessária, mas é preciso uma mudança de postura para reconhecer os problemas e buscar melhores formas de evitá-los ou remediá-los - argumenta.

A indicação da empresa brasileira foi realizada em setembro do ano passado, quando as entidades enviaram um dossiê com registros de impactos da atividade da mineradora em pelo menos dez países. Há relatos de diversos tipos, como acidentes em ferrovias, destruição de áreas protegidas e com mananciais de água, emissão de poluentes e problemas trabalhistas, entre outros.

Morador do Quadrilátero Ferrífero de Minas - principal região produtora de minério de ferro do país -, Chico Mendonça cansou de ver a atividade econômica pisotear o meio ambiente. Presidente da Associação dos Proprietários de Pasárgada, condomínio da cidade de Nova Lima, ele recorreu à internet para angariar votos que dessem à Vale a reputação de pior empresa do mundo.

- A Vale quer aumentar a cava de uma mina localizada em área de transição entre Mata Atlântica e Cerrado, o que contraria a legislação federal - protesta. - Há espécies de extinção e mananciais de água nesta região. Se resistirmos a esta expansão, daremos exemplo para outros locais também ameaçados. Nada especificamente contra a empresa, mas sou a favor de uma equação que equilibre lucro, desenvolvimento sustentável e preservação.

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Fonte: Yahoo!NOTÍCIAS

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