sexta-feira, 12 de julho de 2013

Médicos se fazem de coitadinhos


Marussia, médica em Fortaleza, deixou este comentáriono post das duas jovens médicas. O comentário foi tão aplaudido que está sendo publicado como guest post.
E por falar em aplausos, o maridão disse que tem lido aqui os melhores comentários (contra e a favor da importação de médicos estrangeiros) em toda a internet. Eu concordo: em geral, o debate está excelente. Então vamos a mais um post polêmico. 

Eu, como médica, sou a favor da vinda de médicos estrangeiros, de preferência, cubanos. 

Algumas considerações:

Há uma carência global de médicos no Brasil. Esta carência é grave em muitos locais do norte e nordeste para onde a maioria dos médicos não quer ir, mesmo com "estrutura" e bons salários. Não falta trabalho para médico nos grandes e médios centros. Médico adora se fazer de coitadinho mas a verdade é que não falta trabalho e nós ganhamos bem, muito bem. Não é qualquer salário que vai atrair para o interior uma classe altamente elitista como a classe médica.

Até pouco tempo só quem fazia medicina era quem vinha de escola particular. De uma turma de 70 alunos somente um ou dois eram de escola pública. Agora tem também os que se formam em faculdades privadas cujos pais, boa parte médicos, podem pagar até cinco mil reais por mês pro filho ou filha ou filhos fazerem medicina. E não me digam que eles pagam tanto só para seus filhos "amarem os seres humanos". Não vamos ser hipócritas.
Médico formado pela UFBA

Pode ser que com as cotas possamos formar médicos que vejam na ida para o interior uma oportunidade de juntar um dinheiro e ajudar a família. Pode ser também que com a formação de mais médicos o mercado nos empurre para lá. A verdade é que nós não vamos para lá por termos opções melhores.
Os mesmos médicos que falam tanto de falta de estrutura são os mesmos que criticam o bolsa família. Eu conto nos dedos os médicos que são a favor do bolsa família. Como médico reclama de falta de estrutura e critica um programa que garante um mínimo de segurança alimentar para as famílias? É totalmente incoerente e hipócrita. 

A verdade é que a classe médica é a classe mais reacionária que eu conheço. Os médicos, com exceções, são contra cotas, contra bolsa família, contra PEC das domésticas, enfim, contra programas sociais. O cartaz que a médica segura, "Dilma vá tratar seu linfoma em Cuba", mostra bem o perfil da classe médica. 
Nós não temos formação em saúde pública. Os cubanos são muito melhores nisso. Conheço pessoas que já trabalharam com cubanos e que dizem que eles são melhores, disparadamente. Vale lembrar que a mortalidade infantil em Cuba é menor que a dos EUA e que os cubanos também vivem mais que os americanos, embora, em termos de tecnologia, estejam muito mais atrasados. 
Ah, se há uma coisa que JÁ funciona aqui no Brasil é o esquema de vacinação, com ampla cobertura e eficácia. 

Os médicos que foram para as ruas são os mesmos que foram contra o programa do governo que incentiva o jovem médico a ir para o interior dando pontos na prova de residência para quem fosse. Claro! Isso tira vantagens de seus filhos na hora de prestar concurso para residência. 

O Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira já se manifestaram contra as medidas da Dilma. Afinal, o que querem eles?
Planos de carreira não são a solução. Mesmo juízes, de quem os médicos burramente costumam ter inveja, só podem ter um emprego. Os médicos podem ter vários vínculos públicos e privados. No final, a soma do que se recebe em cada um destes vínculos dá muito mais do que o que um juiz ganha. É uma questão de mercado. Como eu já disse, nós ainda podemos escolher não ir para o interior. Então deixemos que vá quem queira ir! 

Fonte: Reproduzido do Blog Escreva Lola Escreva

2 comentários:

  1. 'Trabalho na MSF é como um 'Big Brother' sem o prêmio', diz brasileira
    Carla Satie chegou a trabalhar antes para a Marinha brasileira. Ela já teve que viver sem energia elétrica por quatro meses.
    Dani BlaschkauerDo G1, em São Paulo
    Paulistana ‘da gema’, Carla Satie Kamitsuji é clara ao falar para os novatos sobre o trabalho na Médicos Sem Fronteiras (MSF).
    Trechos da entrevista abaixo:
    O que dizer para as pessoas que querem entrar na MSF? Se neste momento da sua vida trabalhar com MSF é algo que você gostaria de experimentar, vá em frente... tente, experimente! Vale a pena! É uma experiência de vida (pessoal e profissional) riquíssima e inesquecível! Se sua motivação é financeira ou porque não encontra emprego no Brasil, então, MSF não é para você!
    Pensando justamente nos novatos ou nos interessados em trabalhar na área, quais são os benefícios de se trabalhar na MSF? Os benefícios são decorrentes da experiência de viver em outro país, com pessoas de países diferentes com línguas e costumes diferentes, exercer sua profissão em contextos cheios de adversidades (catástrofes e conflitos).
    Por que quis fazer parte de Médicos Sem Fronteiras?
    Em 2006, eu estava em um ciclo da minha vida que me sentia “escrava do dinheiro” e não estava satisfeita. Eu sabia que queria tentar algo diferente e trabalhar com MSF era algo que eu tinha certeza que queria experimentar naquele momento. Não sabia se iria me adaptar ao trabalho, mas sabia que eu tinha de tentar.
    Como foi sua adaptação?

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  2. 'Trabalho na MSF é como um 'Big Brother' sem o prêmio', diz brasileira
    Carla Satie chegou a trabalhar antes para a Marinha brasileira. Ela já teve que viver sem energia elétrica por quatro meses.
    Dani BlaschkauerDo G1, em São Paulo
    Na minha primeira missão com MSF em 2007 em Uganda minha adaptação foi mais rápida do que eu esperava, pois a diferença nas condições de vida foi grande. Nasci e cresci na cidade de São Paulo – sou uma “garota da cidade”. Meu pai me chamava “pó-de-arroz” e quando eu falei sobre minhas condições de vida no campo de deslocados internos (IDP = Internally Displaced People) onde eu morei por 9 meses, ele pensou “nossa, como será que ela está se adaptando a essas condições de vida ‘adversas’?”. Latrinas, banho de balde, sem água encanada ou saneamento básico, sem energia elétrica (nos quatro primeiros meses), pouca variedade de alimentos (frutas, verduras ou legumes), cozinha com visitantes noturnos como ratos e baratas, além dos insetos voadores. Eu me surpreendi comigo mesma. Em um mês já estava completamente adaptada! A vida na família MSF (expatriados) no terreno (field) é como um “Big Brother” sem câmeras e sem o prêmio em dinheiro. Trabalhávamos de segunda a sexta-feira (8h – 17h) e sábado (8h – 13h). Nos fins de semana, para lazer tínhamos opções de assistir a filmes no computador, ler livros, andar pelo campo de deslocados internos, jogar bilhar na única mesa de bilhar num bar do campo de 22 mil pessoas. A cada três meses, tive 1 semana de férias.
    Quando estava de volta ao Brasil, entre minha primeira e segunda missão eu valorizei muito mais minha casa e minhas condições de vida em São Paulo. Quando cheguei à minha casa após nove meses em Uganda, um dos primeiros pensamentos que veio a minha cabeça foi: “Nossa, como sou privilegiada! Desde que nasci tive uma vida ‘luxuosa’!”.

    Na minha segunda missão com MSF em 2008 no Iraque (onde ficou 4,5 meses), a adaptação foi super rápida e muito mais fácil. Isso porque houve um “upgrade”. Lá morei em uma casa com energia elétrica (não por 24h – tínhamos gerador na casa), privada, água encanada, água quente, chuveiro, internet wireless, televisão com inúmeros canais (na casa havia antena parabólica), ar condicionado, grande variedade de alimentos (frutas, verduras, legumes, etc). Trabalhávamos de domingo a quinta (8h – 17h). Final de semana era sexta e sábado. Nos fins de semana, para lazer as opções eram: almoçar ou jantar fora, fazer compras no supermercado ou shopping, visitar o centro velho da cidade, ler livros, assistir a filmes, internet. Após três meses, tive uma semana de férias.
    Nesta minha terceira missão com MSF – estou na Cisjordânia desde janeiro deste ano e ficarei até meados de outubro – o período de adaptação foi mais rápido que no Iraque. Parte pelo fato que já estava familiarizada com a comunidade árabe / muçulmana. A condição de vida aqui foi mais um “upgrade”. Na casa, temos sistema de aquecimento central, energia elétrica 24h por dia, microondas, além de todos os outros benefícios que eu tive no Iraque. Trabalhamos de domingo a quarta (8h – 16h) e quinta (8h – 15h). Assim como no Iraque, fins de semana são sexta e sábado. As opções de lazer são: assistir a filmes, ler livros, internet, visitar o centro velho da cidade, almoçar ou jantar fora. Uma vez por mês nós (equipe do terreno) vamos para Jerusalém para supervisão técnica e apoio psicológico. Aqui também a cada três meses temos uma semana de férias.

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