sábado, 28 de dezembro de 2013

RETROPESCTIVA 2013: Pacto por São Luís: sobre o que é público e notório (29 de Janeiro)



Do Jornal Vias de Fato -Editorial do dia 27/01/2013
Um assunto que chamou a atenção de São Luís, neste início de ano, foi o anúncio de uma possível parceria administrativa entre a prefeitura da cidade - agora sob o comando de Edivaldo Holanda Júnior - e o governo do Estado, ainda dirigido por Roseana Sarney. O jornalO Estado do Maranhão fez questão de deixar claro que a iniciativa de buscar um acordo foi do novo prefeito, dizendo que o “governo está aberto para a parceria” e que Roseana vai esperar que Edivaldo “apresente uma proposta concreta de trabalho”. Já o Jornal Pequeno fez uma espécie de editorial-vacina, saindo preventivamente em defesa de Edivaldo Júnior e afirmando que “parceria institucional não é coligação, nem implica em aliança política”. Na opinião do velho JP, cuidadosamente repercutida na internet, a cooperação entre governo e município “é bem-vinda” e eles têm, atualmente, “a obrigação de confeccionar” uma única bandeira: a do “interesse público”.
Flávio Dino, pré-candidato ao governo do Estado e aliado de Edivaldo Holanda Júnior, também se manifestou sobre o assunto no twitter, dizendo que “no novo caminho que defendemos para a política maranhense, parcerias administrativas entre adversários políticos são normais”. Segundo ele, “quem faz chantagem, persegue, discrimina, é a oligarquia Sarney. Basta ver o tratamento que dão aos prefeitos e aos deputados da oposição”. O atual líder do PCdoB disse, também, que seu aliado “fez o gesto correto. Buscou parceria institucional. Roseana Sarney vai se negar a ajudar São Luís?”.
Em artigo publicado no último dia 13, o mesmo Flávio Dino defendeu um “Pacto por São Luís” para o “desenvolvimento da capital de todos os maranhenses”. Neste texto, ele volta a criticar a “oligarquia ainda dominante” no Maranhão, defendendo que seja implantado aqui um modelo baiano de hipotética modernidade. Segundo ele, lá “temos um exemplo recente de adversários políticos que estão dialogando. Em reunião, a presidenta Dilma Rousseff (PT), o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), e o prefeito da capital do estado, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), firmaram acordo de trabalho harmônico visando trazer melhorias para Salvador”.
Para avaliar este cenário, incluindo toda esta “preocupação” generalizada com o interesse público, começamos colocando algumas perguntas: alguém acredita, em sã consciência, que a senhora Roseana Sarney e seus sócios (Jorge Murad, Fernando Sarney etc.), estão preocupados com o bem estar da população? Será que alguém, honestamente, crê nisso? Será que existe alguém que aposte, verdadeiramente, que eles estão interessados em resolver os problemas da saúde, educação ou segurança? Que eles estão angustiados com as sérias dificuldades da nossa cidade? Enfim, falando em bom português, dá para hastear “a bandeira do interesse público” junto com uma quadrilha? E é exatamente por eles serem quadrilheiros, que consideramos precisas as palavras de Alice Pires, quando ela disse, em seu blog, que causa perplexidade “essa fé” na “conversão de Roseana Sarney”, lembrando a expressão “fé demais não cheira bem”.
 Ao defender a união administrativa entre Roseana e Holanda Junior, o Jornal Pequeno disse no já citado editorial-vacina, que em São Luís, “os interesses maiores do povo têm sido sacrificados em nome do ranço, do ódio às vezes e das disputas paroquiais”.  Trata-se de um equívoco de avaliação. Os problemas sociais do Maranhão e de sua capital não são por conta de disputas políticas ou de fundo sentimental (amor, ódio etc.). São problemas oriundos das diferentes esferas das administrações públicas, pois, aproximações e conchavos entre prefeitos de São Luís e governadores do Estado, sempre existiram. Basta lembrar como foram as relações entre Jackson Lago e Edison Lobão, Conceição Andrade e Roseana Sarney, Jackson e Roseana, Tadeu Palácio e José Reinaldo, Tadeu Palácio e Jackson, Castelo e Jackson e, finalmente, Castelo e Roseana. Houve brigas e disputas? Sim. Mas houve muitos e muitos acordos, conspirações, celebrações, alianças, apoios eleitorais, coligações e as tais “relações institucionais”.
É irônico, mas este enfoque dado pelo JP falando de ranço nos lembrou José Sarney, que ao longo de sua vida, em momentos que perdeu todo e qualquer tipo de argumento, disse que seus adversários (ou críticos) agiram “movidos por ódio” ou “desequilíbrio emocional”. Um recurso fajuto, para tentar desqualificar apreciações desfavoráveis e, na imensa maioria dos casos, pertinentes. Em meados de 2011, por exemplo, o oligarca fez uma carta à revista Veja,onde acusou o historiador e professor da UFMA, Wagner Cabral, como sendo um “radical e desequilibrado”, suposto integrante de uma “oposição raivosa”.
O fato é que, num cenário como este, onde ninguém sabe, exatamente, quem quer criar constrangimento para quem, ou quem é malandro, ingênuo, equivocado ou picareta, lembramos do Padre Antônio Vieira, que chegou a dizer, ao analisar a política maranhense do seu tempo (século XVII), que “no Maranhão, até o céu mente”. Hoje, neste jogo que envolve governo, prefeitura e outros interesses inconfessáveis, é difícil identificar até onde vai o blefe ou a encenação. Por isso, é bom esperar pelo tempo...
De concreto, o que se percebe é que a eleição do jovem e conservador Edivaldo Holanda Junior mexeu no mofado tabuleiro da política estadual. Flávio Dino ganhou aparente musculatura para seu obstinado projeto de chegar ao Palácio dos Leões, enquanto o grupo de José Sarney acendeu, mais uma vez, o sinal de alerta.
Edivaldo se colocou diante de dois desafios bem distintos: fazer uma boa administração e ajudar a eleger o seu candidato em 2014. E terá que fazer isso tendo que conviver com o bafo da oligarquia no seu cangote, louca para se manter no comando do governo do Estado a partir de 2015 e para botar a mão nas verbas publicitárias da prefeitura a partir deste ano. (o milionário jabá do Sistema Mirante é uma parceria que interessa bastante a Roseana Sarney e a outros atores desta novela. Isto é publico e notório).
Um caminho de Edivaldo para enfrentar esta situação seria construir a sua própria agenda, organizar a máquina da prefeitura, eleger as prioridades da cidade, fazer um planejamento de médio e longo prazo e chegar com tudo isso até a opinião pública. Teria que cumprir estas tarefas de forma criativa e sem maiores ansiedades.  Outro caminho é deixar-se agendar pelas futricas do Sistema Mirante e seus satélites, “unir os bigodes” com esta quadrilha e ceder às inúmeras chantagens oriundas de lá. Enfim, é repetir uma receita de empulhação medíocre e tantas vezes utilizada, por diferentes personagens da dita “oposição” maranhense.
E finalmente, a população quer e precisa de uma cidade mais organizada e com melhores políticas públicas. O voto em Edivaldo Holanda foi, também, na cabeça de muitos que votaram nele, um voto “contra o atraso”, claramente identificado, em São Luis e no Maranhão, pelas figuras de José Sarney, João Castelo, Roseana, Lobão, Gastão Vieira e cia. E nunca é demais lembrar, que esta mesma cidade de São Luis, desde a década de 60, rejeita o grupo de José Sarney. Apesar de todo o poder acumulado, esta rejeição sempre se manteve. Para olhar para o futuro é importante ter como referência a história e a opinião pública.  Existe muita ambição no grupo que elegeu o prefeito. Alguns, deslumbrados, sonham com décadas de poder, pompas, palácios, cargos, mandatos em Brasília etc. Mas, em política, um passo tem que ser dado depois do outro e viajar na maionese é a certeza de passar mal nos dias seguintes.

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