domingo, 13 de outubro de 2013

O trabalho de homem, o trabalho de mulher e a construção do trabalho compartilhado


Nesse texto, a intenção é repensar o valor do trabalho não contabilizado da mulher, discutir a “falsa” neutralidade nas relações de gênero e como podemos aprender com o trabalho feminino.
Reflita comigo:
1. Uma mulher, mãe, que queira cursar uma faculdade, sem acesso às creches, teria condições iguais a um homem para acesso à educação e a inserção competitiva no mercado de trabalho?
2. Por que de acordo com a pesquisa da OIT (2012) contabilizando o número de horas trabalhadas dentro e fora de casa as mulheres trabalham em média 20 horas mensais a mais que os homens? (Perspectiva de horas a mais trabalhadas reducionista em minha opinião…se considerarmos as diferenças regionais, sociais e de renda acredito que as horas a mais trabalhadas são superiores a 20 horas mensais…)
O relatório da OIT analisou os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta que 90,7% das mulheres que estão no mercado de trabalho também realizam atividades domésticas – percentual que cai para 49,7% entre os homens.
No trabalho, elas gastam, em média, 36 horas por semana; eles, 43,4 horas. Em casa, por outro lado, elas gastam 22 horas semanais. Os homens, 9,5 horas (OIT, 2012).
relatório da OIT (2012) conclui que:
“…A massiva incorporação das mulheres ao mercado de trabalho não vem sendo acompanhada de um satisfatório processo de redefinição das relações de gênero com relação à divisão sexual do trabalho, tanto no âmbito da vida privada, quanto no processo de formulação de políticas públicas (…). A incorporação das mulheres ao mercado de trabalho vem ocorrendo de forma expressiva sem que tenha ocorrido uma nova pactuação em relação à responsabilidade pelo trabalho de reprodução social, que continua sendo assumida, exclusiva ou principalmente, pelas mulheres”.
Soldadoras, mecânicas e pilotas da Supervia, empresa que administra trens no Rio de Janeiro. Foto de Guilherme Brito/G1.
Soldadoras, mecânicas e pilotas da Supervia, empresa que administra trens no Rio de Janeiro. Foto de Guilherme Brito/G1.
A divisão sexual do trabalho não tem efeito somente no emprego e na participação diferenciada de homens e mulheres no mercado, mas também afetam a forma como essas relações se difundem na sociedade. A responsabilização da afetividade e do trabalho não remunerado para as mulheres se traduz na perpetuação das desigualdades de tratamento entre os gêneros (HIRATA, 2001)¹.
Apesar dos dados empíricos e científicos confirmarem a sobrecarga da jornada dupla de trabalho, a responsabilização da afetividade e do trabalho não remunerado para as mulheres, observo também que nós muitas vezes não estamos dispostas a compartilhar a vivência das atividades maternas e domésticas com os homens. Acredito na existência de uma “reserva de mercado” ao espaço das coisas de MULHER.
Vejo às vezes um “protecionismo feminino” à preservação das atividades classificadas como tipicamente femininas: educação dos filhos, organização da casa, cozinhar, entre outras. Do lado masculino às vezes a aceitação do protecionismo é por comodismo, machismo e falta de interesse mesmo, mas às vezes os homens não tem oportunidade para dividirem realmente as tarefas diárias no trabalho da casa, cuidados com os filhos, entre outras. Ou pior, tentam ajudar e a mulher vai atrás corrigindo ou desconfiando de que o homem seja capaz de cumprir com a mesma excelência as atividades que as mulheres executam. Ou pior ainda…quando um homem se mete a cozinhar, ser carinhoso, ativo na educação e nos cuidados com a casa é subvalorizado ou motivo de brincadeiras de mau gosto. NÓS MULHERES FOMOS E SOMOS CAPAZES DE MUDAR E DEVEMOS INCENTIVÁ-LOS PARA QUE TAMBÉM SEJAM!
Nós não somos e nunca seremos super mulheres. Particularmente não acredito em supermulheres, super-homens, mulheres ou homens alfa. O que vejo são pessoas estressadas, principalmente mulheres, sobrecarregadas com as tarefas da casa, as cobranças profissionais, pessoais e que além de tudo são pressionadas para seguirem padrões inatingíveis de consumo e beleza… Somos humanos e sempre precisaremos de outras pessoas para compartilhar as nossas vidas pessoais e profissionais.
Temos muito a conquistar desde o avanço dos direitos humanos básicos como a não violência, acesso à saúde, educação e a inserção nos mercados, mas precisamos aprender e ensinar as gerações futuras que, assim como aprendemos e hoje já ensinamos as ações boas e produtivas — que no passado eram classificadas como tipicamente masculinas — devemos proporcionar a vivência, abrir o espaço, dar oportunidades e incentivar os homens a curtir, desenvolver e ensinar outros homens as ações boas e produtivas que eram classificadas como tipicamente femininas.
Afetividade + trabalho não remunerado + trabalho remunerado e produtivo, combinados esses fatores — mal ou bem atribuídos ao feminino e masculino — agregarão a formação de novos valores que poderão ser compartilhados na troca de experiências e funções entre pessoas.
Portanto, meu amigo/minha amiga, da próxima vez que você avistar aquele homem alto e forte carregando aquela bolsa enorme de bebê num braço e uma criancinha no outro não fique com pena dele ou lance um olhar de estranheza. Ele também tem o direito de ocupar e conquistar novos espaços nas relações entre os homens e as mulheres. E, garanto que assim ele terá oportunidades de novos aprendizados na vida e proporcionará novas vivências para as mulheres também, COM MENOS CULPA, POR FAVOR!
Dedico este texto ao meu pai que nunca teve vergonha de exercer seu lado mãe e ao meu filho, aos meus amigos e aos homens que assim como as mulheres, não tem medo ou vergonha de buscarem a ocupação de novos espaços na sociedade e nas relações com mais amor e participação.

Katianny Estival.
Katianny Estival.
Katianny Estival é mãe, feminista, professora e pesquisadora da Universidade Estadual de Santa Cruz em Ilhéus – Bahia – Brasil.


Fotos: 1, 3 e 4 são Ilustrativas

Um comentário:

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