quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Jornal Nacional, Fátima e Patrícia – showrnalismo em horário nobre


O espaço de televisão é uma concessão pública. As emissoras que ganham as limitadas concessões devem, portanto, atuar em direção aos interesses públicos. Nos espaços jornalísticos, as emissoras devem primar pela seriedade, e tratar com o máximo de profundidade o máximo de fatos possíveis. Não é o que se costuma ver, e na noite da última segunda-feira tivemos mais um exemplo disso. O principal telejornal da maior emissora de televisão brasileira dedicou 15 minutos à absoluta futilidade e ao auto-elogio.
A troca de apresentadoras (sai Fátima Bernardes, entra Patrícia Poeta) não significa absolutamente nada para o andamento do jornal. O Jornal Nacional continuará sendo rigorosamente o mesmo. Mas a mudança foi objeto de quinze minutos de cobertura, com direito a um animado bate-papo entre as duas e o editor-chefe do jornal, William Bonner. Reportagem de 4 minutos sobre a trajetória de Fátima Bernardes na Globo, o mesmo sobre Patrícia Poeta.
Foram 15 minutos de auto-elogio, de superação absoluta da notícia pelo noticiador. Em 15 minutos poderiam ter sido apresentadas pelo menos cinco matérias, três minutos é muito tempo em telejornalismo. Mas o Jornal Nacional preferiu ignorar o que acontecia no mundo para exaltar seus astros. Os apresentadores deixam de ser jornalistas e tornam-se estrelas de televisão, “artistas”, celebridades. O interesse público é deixado de lado e o entretenimento invade o jornalismo, o show ganha espaço sobre a informação.
É um exemplo típico de showrnalismo, e um absoluto desrespeito com a sociedade brasileira. Usar o horário nobre para o que Marco Aurélio Mello bem descreveu como “começa com um ti-ti-ti, depois vem um blá-blá-blá e termina com um tricô” é vergonhoso, é um acinte. Como o mesmo blogueiro escreveu, “tenho esperança de que um dia as pessoas cairão em si e entenderão o erro que estão cometendo em permitir que as coisas funcionem assim”.
Repensar as concessões de TV e rádio é uma necessidade urgente. A Rede Globo trata o espaço a ela concedido pelo poder público – pretensamente em nome de toda a sociedade – como uma propriedade sua, dando-se o direito de fazer o que bem entender, até mesmo passar quinze minutos do horário nobre exaltando a si mesma e construindo com naturalidade celebridades em seus jornalistas. A mistura de jornalismo com entretenimento vê aí um de seus resultados mais bem acabados. A sociedade como espetáculo, a notícia como show. E o resultado desse resultado é o caminho mais curto da alienação.

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