A Marinha de Israel contaria com submarinos armados com mísseis nucleares, segundo a Der Spiegel |
Os submarinos que a Alemanha fornece a Israel desde a década
de 1990 estão equipados para transportar e disparar mísseis nucleares. A
denúncia, publicada na edição deste domingo da revista semanal de maior
circulação naquele país, a Der Spiegel, uma vez comprovada por setores
independentes da Organização das Nações Unidas (ONU), tem tudo para
minar de vez o desgastado governo conservador da chanceler Angela
Merkel, que há anos nega a capacidade nuclear dos submarinos
comercializados com o governo de direita do primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu. Israel tem sido um dos principais opositores do programa nuclear iraniano, pacífico segundo as autoridades de Teerã.
A notícia cita uma pesada investigação sobre a “Operação Samson”,
entre alemães e o Estado judeu. Em Jerusalém, o diário israelita Haaretz
comenta que, “se a informação obtida por Der Spiegel for efetivamente
correta, ela poderia causar um considerável embaraço à chanceler alemã
Angela Merkel e ao seu governo, que têm repetidamente negado que sejam
nucleares os submarinos fornecidos a Israel”.
Angela Merkel |
Sem parecer preocupado com as consequências indesejadas que a
revelação pode trazer a Angela Merkel, o ministro israelita da Defesa,
Ebhud Barak, declarou à Der Spiegel:
– Os alemães podem orgulhar-se de ter assegurado a existência do Estado de Israel durante vários anos.
Os três primeiros submarinos alemães da classe Dolphin entregues a
Israel foram-no na década de 1990, custeados pelo Estado alemão
praticamente durante toda a construção. Peritos internacionais
consideravam-nos, antes ainda das atuais revelações, capazes de
transportar ogivas nucleares. Um quarto submarino da mesma classe foi
entregue há um mês e deverá estar operacional a partir do próximo ano. Outros dois têm contratos assinados e serão entregues escalonadamente
até 2017. Merkel teria condicionado a fabricação do armamento à
suspensão das construções irregulares em território palestino, além da
instalação de um sistema de tratamento de águas residuais na Faixa de
Gaza, financiada com capital alemão.
Até agora, o governo de Netanyahu ignorou as duas exigências alemãs,
fato que não impediu Berlim de assinar os contratos, subsidiar a fundo
perdido um terço (135 milhões de euros) do preço dos submarinos e de
abrir créditos a Israel para o restante até 2015.
Os submarinos desta classe podem permanecer submersos durante muito
tempo e navegar longamente sem necessidade de reabastecerem os seus
tanques de combustível. Eles podem operar visíveis ou invisíveis e têm
um alcance de tiro até aos 1,5 mil quilômetros. Foram concebidos
especialmente para operações no Mediterrâneo.
Ingenuidade
Benjamin Netanyahu |
Segundo o chefe de redação de Der Spiegel, Georg Mascolo, “uma
investigação de vários meses prova que os submarinos fornecidos pela
Alemanha à Marinha israelita fazem uso de equipamento para transportar
armas nucleares”. Mascolo acrescenta que “funcionários alemães
admitem-no agora, desde que sabem o uso que Israel faz das armas
alemãs”. Dois responsáveis políticos, o antigo secretário de Estado da
Defesa Lothar Rühl e o ex-chefe do comité de planeamento Hans Rühle,
assumiram em entrevistas à Der Spiegel que sempre suspeitaram que Israel
iria equipar os submarinos com armas nucleares.
O programa nuclear israelita, nunca comentado por autoridades de Tel
Aviv, é contudo conhecido dos alemães desde 1961, tendo sido objeto de
negociações entre os dois governos em 1977, com o chanceler Helmut
Schmidt de um lado e o então chefe da diplomacia israelita, Mosche
Dayan, do outro.
Segundo o historiador militar israelita Martin van Creveld, o
essencial da tecnologia que tornou Israel uma potência nuclear foi-lhe
fornecido pelo Estado francês. Na Guerra de Yom Kippur, em 1973, Israel
teria, segundo hipótese levantadas por van Creveld mas não sustentada em
documentos, ameaçado a Síria com um ataque nuclear. Essa seria, segundo
o historiador, a única explicação plausível para o exército sírio ter
retirado os seus blindados num momento em que tinha praticamente ganha a
batalha pela recuperação dos Montes Golan.
Fonte: Correio do Brasil
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