sexta-feira, 5 de agosto de 2011

“Ele me agredia mesmo eu estando grávida”


Por Rachel Duarte da Sul21 
Paula (nome fictício) é uma jovem mulher de classe média, com um bom emprego e uma educação privilegiada. Fugindo à regra da maioria das vítimas de violência doméstica, que são de classe social baixa, ela é mais uma das muitas brasileiras agredidas pelo companheiro. Depois de viver seis anos com o homem que amava e ter sofridos agressões verbais, psicológicas e físicas, está há um ano separada e criando a filha gerada em meio a conflitos e agressões. “Me separei a um mês de ganhar meu bebê. Ele me agredia mesmo eu estando grávida. Por temer o risco à minha filha que busquei ajuda”, conta.
Há oito meses sem o marido, Paula conta que a vida está melhor mas que ainda gosta do ex-companheiro. “Apesar das agressões, ele tinha qualidades”, afirma, em conversa com o Sul21. Ela reconhece que, não fosse a gravidez, inesperada, ela não teria tomado coragem para sair de casa e terminar o relacionamento. “Eu não tive coragem de processá-lo pelas agressões. Tinha medo dele não reconhecer a minha filha por causa do processo. Então, só entrei com pedido de pensão”, revela.
Além de duvidar da paternidade da criança e exigir um exame de DNA, o ex-companheiro de Paula não evitava os xingamentos e o cerceamento da liberdade da mulher, além das agressões, quando bebia. “Ele bebia todos os dias, me chamava de p. e outras coisas horríveis. Me ameaçava também, mas depois nem lembrava. Ele não conseguia lidar bem com a morte de uma pessoa próxima”.
Foi na internet que Paula conseguiu encontrar o serviço que seria o passaporte para uma nova vida. Buscou o Centro de Referência da Mulher do Rio Grande do Sul e contou seu caso. “Chega uma hora que tu precisa de alguém que te escute e te diga o que tu podes fazer. Os parentes e amigos cansam de ouvir e dizem que a gente que não quer sair da relação. Eu tinha medo e por isso procurei ajuda”, conta. “É difícil para mim”.
Antes de procurar o CRM, Paula foi até a Delegacia da Mulher, mas lá não teve a compreensão sobre o tipo de violência que sofria. “Foi muito frio, impessoal. Não tinha lesões, então não tive muito que fazer. Cheguei a registrar ocorrência, mas não abri processo. Temos que ter um acompanhamento a mais, com orientação psicológica”, defende.
A advogada Rudineia de Souza, que atendeu Paula, recorda do caso e diz que o atendimento teve que ser mais firme com ela, uma vez que envolvia o nascimento de uma criança. “Quando tem em risco outra vida, como era o caso, temos que intervir”, afirma. Apesar de estar próximo da realidade de mulheres vitimadas como Paula e as outras 20 que atende em um dia, Rudineia disse que, apesar da Lei Maria da Penha e do trabalho dos demais atores do sistema de proteção às mulheres, são elas que devem dar o basta na violência. “Não podemos agir por elas, temos que dar condições, apoio, orientação, mas o tempo e a decisão é de cada uma”, salienta.


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